Muitos, por desconhecerem as fontes seguras da nossa fé, perguntam: “são de fato os Evangelhos históricos, ou será que foram ‘inventados’ pela Igreja?”
Da sua parte, a Igreja não tem dúvida de que os Evangelhos são rigorosamente históricos. É o que nos diz a Constituição Apostólica Dei Verbum, sobre a Revelação divina:
“A santa mãe Igreja firme e constantemente creu e crê que os quatro mencionados Evangelhos, cuja historicidade afirma sem hesitação, transmitem fielmente aquilo que Jesus, Filho de Deus, ao viver entre os homens, realmente fez e ensinou para a salvação deles, até o dia em que foi elevado” (DV, 19).
Sabemos que os originais (autógrafos) dos Evangelhos, tais como saíram das mãos Mateus, Marcos, Lucas e João, se perderam, dada a fragilidade do material usado (pele de ovelha ou papiro).
Entretanto, ficaram-nos as cópias antigas desses originais, que são os papiros, os códices unciais (escritos em caracteres maiúsculos sobre pergaminho), os códices minúsculos (escritos mais tarde em caracteres minúsculos) e os lecionários (antologias de textos para uso litúrgico).
Conhecem-se cerca de 5236 manuscritos do texto original grego do Novo Testamento, comprovados como autênticos pelos especialistas. Estão assim distribuídos: 81 papiros; 266 códices maiúsculos; 2754 códices minúsculos e 2135 lecionários.
a) Os papiros são os mais antigos testemunhos do texto do Novo Testamento. Estão assim distribuídos pelo mundo:
Número Conteúdo Local Data (Séc.)
p1 Evangelhos Filadélfia (USA) III
p2 Evangelhos Florença VI
p3 Evangelhos Viena (Áustria) VI/VII
p4 Evangelhos Paris III
p5 Evangelhos Londres III
p6 Evangelhos Estrasburgo IV
p7 Atos Berlim IV
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Em resumo, existem 76 papiros do texto original do Novo Testamento. Acham-se ainda em Leningrado (p11, p68), no Cairo (p15, p16), em Oxford (p19), em Cambridge (p27), em Heidelberg (p40), em Nova York (p59, p60, p61), em Gênova (p72, p74, p75),…
Desses papiros alguns são do ano 200, o que é muito importante, já que o Evangelho de São João foi escrito por volta do ano 100. São, por exemplo, do ano 200, aproximadamente, o papiro 67, guardado em Barcelona.
Há mais de duzentos códices unciais, espalhados por Moscou (K 018; V 031; 036); Utrecht (F 09); Leningrado (P 025); Washington (W 032); Monte Athos (H 015; 044); São Galo (037)…
Desses dados é fácil entender que a pesquisa e o estudo dos manuscritos do Novo Testamento não dependem de concessão do Vaticano, pela simples razão que a sua maioria não está em posse da Igreja. Só há um código datado do século IV, no Vaticano. As pesquisas sempre foram realizadas independentemente da autorização da Igreja Católica.
Os manuscritos bíblicos são manuscritos da humanidade; muitos foram levados do Oriente, por estudiosos e outros interessados, para as bibliotecas dos países ocidentais, onde se acham guardados até hoje.
Como vimos, existem hoje mais de cinco mil cópias manuscritas do Novo Testamento datadas dos dez primeiros séculos. Algumas são papiros dos séculos II/III. O mais antigo de todos é o papiro de Rylands, conservado em Manchester (Inglaterra) sob a sigla P. Ryl. Gk. 457; do ano 120 aproximadamente, e contém os versículos de Jo 18,31-33.37.38.
Ora, se observarmos que o Evangelho de S. João foi escrito por volta do ano 100, verificamos que temos um manuscrito que é, então, cópia do próprio original.
As pequenas variações encontradas nessas cinco mil cópias são meramente gramaticais ou sintáticas e que não alteram o seu conteúdo. Os estudiosos, estudando este grande número de manuscritos antigos, concluem que é possível reconstruir a face autêntica original do Novo Testamento, que é o que hoje usamos.
Prof. Felipe Aquino