Os dons do Espírito Santo, a manifestação de falar línguas estranhas, isto é a língua dos anjos?

Este é um assunto bastante
controvertido. O que apresentarei aqui, é o resultado de um estudo e pesquisas,
com o único propósito de mostrar o que a Bíblia diz. As Sagradas Escrituras,
são uma espada de dois gumes que nos ensina o caminho que temos de trilhar, e
temos que estar preparados não somente para os textos bíblicos que nos trazem
conforte e esperança, mas também para aqueles que nos advertem e nos corrigem.
O estudo das diversas línguas, vem da palavra grega Glossolalia, glossa =
língua, lalia = o ato de falar (do verbo láleo) significando assim falar
línguas.
A Bíblia traz uma resposta bem ao ponto desta questão, pois o mesmo problema já
existia nos dias de Paulo.
A cidade de Corinto, uma cidade da Grécia, que era uma cidade portuária, um
centro comercial, que tinha muitos problemas, os deuses pagãos eram encontrados
ali como Afrodite, a deusa do amor, cujo culto deu origem proverbial a
imoralidade na cidade. Inclusive a expressão. Inclusive a expressão
“corintianizar”, vem da cidade de corinto, que significa orgias,
imoralidade, depravar. Esta cidade foi palco de problemas com respeito aos
dons. Os pagãos também imitavam o dom de línguas. Platão fala da Sacerdotisa
pagã de Delfos, que o espírito entrava por baixo, e ela na sua loucura,
espumava pela boca e falava palavras desconexas. Entre os pagãos havia o falso
dom de línguas, e na igreja cristã muito se orgulha quem possuía o dom de
línguas, para uma super valorização deste dom em relação aos demais. Neste
contexto, Paulo entra em cena para por ordem na Igreja. Ele começa a explicar
tim-tim por tim-tim como é, e como não é o dom de línguas.
Esta na primeira carta de Paulo aos Coríntios o discurso que fez para explicar
o que era certo, e eliminar o que estava errado na Igreja.
I – O Espírito Santo e seus dons:
O Espírito Santo concede dons aos homens conforme escrito em I Coríntios 12:4 em
diante. “Ora há diversidade dos dons mas o espírito é o mesmo, … é dada
a cada um para o que for útil. porque para um pelo Espírito é dada a palavra da
Sabedoria,
e a outro, pelo mesmo Espírito a palavra da ciência,
e a outro, pelo mesmo espírito, a fé,
a outro pelo mesmo espírito dos dons de curar,
e a outro, a operação de maravilhas,
e a outro, a profecia,
e a outro o dom de discernir os dons,
e a outro, a variedade de línguas,
e a outro a interpretação das línguas.
Mas um só é o Espírito opera em todas estas coisas, repartindo particularmente
a cada um como quer.”
Note amigo ouvinte, que o dom de línguas não é o único dom do Espírito Santo,
existem vários dons. Paulo coloca o dom de línguas em último lugar na lista dos
dons. Outros textos da Bíblia ainda ampliariam mais os frutos do Espírito
Santo. Isto indica inicialmente alguns aspectos importantes:
A – O Espírito Santo é quem concede os dons, diz o tecto “Mas a
manifestação do Espírito é dada a cada um para o que for útil” I Cor.
12:7. Não é algo que nós pegamos quando bem entendermos, é Deus quem nos
concede. E Deus concedeu o dom de línguas quando houve necessidade;
B – Nenhum dom é mencionado neste texto, como sendo vital, ou característico
que todos devam possuir. O Espírito Santo sim, este, todos devem estar em
comunhão com ele. Mas nem o dom de profetizar, ou de curar, ou falar línguas, é
fundamental ou essencial que todos devam possuir. O texto e o contexto são
claros ao declarar “a um o Espírito Santo concede o dom de … a outro …
e ao outro … e ao outro …” Ou seja, há diversidade dos dons, mas o
Espírito é o mesmo;
C – Mais um detalhe precioso. Os dons são concedidos para o que for útil. Está
no verso 7 do capítulo 12. Com respeito ao falar línguas, o que seria ser ou
não útil? A Bíblia mesmo responde em
I Cor. 14:7 em diante: “Da mesma sorte, se as coisas
inanimadas que fazem som, seja flauta, seja cítara, não formarem sons
distintos, como se conhecerá o que se toca com a flauta ou com a cítara? Porque
se a trombeta der sonido incerto, quem se preparará para a batalha? Assim
também vós, se com a língua não pronunciardes palavras bem inteligíveis, como
se entenderá o que se diz? Porque estareis como falando ao ar”. Concluímos
obviamente, que o falar em línguas, tem que ter uma utilidade, tem que ser ao
menos inteligível. O verso seguinte explica ainda mais: “Há por exemplo,
tantas espécies de vozes no mundo, e nenhuma delas sem significação.” Ou
seja, entende-se que ao receber o dom de línguas, seja inteligível para algum
idioma conhecido. Atos 2 relata o pentecostes, porque houve necessidade de
converter os estrangeiros.
A diversidade dos dons para pessoas diferentes, é reforçada em I Coríntios 12:13:
“Pois todos fomos batizados em um Espírito Santo
formando um corpo, quer judeus, quer gregos, quer servos, quer livres, e todos
temos bebido de um Espírito. Porque também o corpo não é um só membro mas
muitos”. Se o pé disser: “Porque não sou a mão, não sou do corpo; não
será isto do corpo? …” A mesma coisa com a orelha, o olho … Se todos
fossem um só membro onde estaria o corpo? Agora pois há muitos membros mas um
só corpo. Ou seja, os dons são diferentes, todos tem seu valor, sua
importância, sua parte a desempenhar, que juntos, formam o conjunto como
membros formam o corpo. Como só o olho, que é uma importantíssima de nosso
corpo, não é o corpo, assim também, um só dom não é a missão completa do
Espírito Santo.
Sabendo que o dom de línguas é um dos dons do Espírito Santo, e não vital a
qualquer cristão, e que é concedido por Deus, para fins úteis, analisemos o
primeiro acontecimento de pentecostes.
Atos 2:1-13, que relata o pentecostes, mostra que o dom de línguas foi dado
para evangelizar, que ouviram os apóstolos falarem em línguas cheios do
Espírito Santo. No verso 6 declara que “cada um ouvia falar na sua própria
língua” e no verso 8 ainda confirma: “Como pois ouvimos cada um em
nossa própria língua em que somos nascidos?” Afirmam os comentaristas que
pelo menos 16 nações diferentes estavam ali presentes. Note, que eles não
falaram a esmo, palavras ou sílabas sem sentido. Eram compreendidas em outros
idiomas. Nota-se então que a manifestação do dom de línguas era inteligível
para os estrangeiros. Dois aspectos importantes aqui:
A – Teve um propósito de evangelizar os estrangeiros, a finalidade era a
edificação dos crentes e o desenvolvimento da causa de Deus;
B – E foi compreendido por eles. Logo, concluímos que se conheciam as línguas
do passado, deve ser assim hoje também. Não eram expressões ininteligíveis ou
que provinham de algum êxtase sentimental descontrolado.
Aqui deve-se salientar um ponto importante. O falar em novas línguas, pode
significar nova língua para quem fala, mas uma língua já existente, como um
brasileiro de repente começar a falar japonês, que é uma nova língua para ele;
ou falar uma nova língua pode significar falar palavras e frases de uma nova
língua desconhecida no mundo todo. O que significa falar uma nova língua na
Bíblia? O texto original grego responde. Pois há duas palavras gregas
diferentes para descrever nova língua – néos e kainós. Néos é novo no sentido
de tempo, recente e Kainós é novo na forma ou na qualidade. E o que Jesus diz em São Marcos 16:17 é
“Estes sinais hão de acompanhar aqueles que crêem em meu nome e expelirão
demônios; falarão novas línguas.” A palavra novas línguas que Jesus aqui
diz, é do grego kainos, que se refere a línguas estrangeiras, que eram novas,
mas já eram conhecidas na sua forma em outros países. Portanto, falar novas
línguas, é falar idiomas que já existem, e não criar uma língua que ninguém do
mundo conheça.
Afirmar que o dom de línguas é característica essencial do batismo do Espírito
Santo, seria não aceitar várias pessoas que se batizaram no Novo Testamento e
não falaram em línguas.
Tais como os sete diáconos, que foram cheios do Espírito
Santo, mas não diz que falaram em línguas. Os samaritanos ao crerem na Palavra de
Deus, mas também não falaram línguas. O próprio Jesus, que a Bíblia não
menciona em nenhum dos evangelho, que ao ser batizado, falou línguas estranhas.
Uma pesquisa bíblica, indica dezoito notáveis batismos com o Espírito Santo, e
quatorze não apresentam nenhuma referência a línguas.
Deus concede o dom que for conveniente para cada pessoa, e para cada
necessidade.
O termo “Línguas dos Anjos”, só aparece em I Cor. 13:1, quando Paulo
assim diz: “Ainda que eu fale a língua dos homens e dos anjos, se não
tiver amor, serei como o bronze que soa, ou como o címbalo que retine.” Neste
verso há detalhes preciosos. Tenhamos em mente, que Paulo está botando ordem na
confusão de dons e de línguas na Igreja de Corinto. Ele salienta que mais
importante do que falar línguas dos homens ou de anjos, é ter amor. Este sim, é
o maior dos dons. I Cor. 13:13 diz claramente: “Agora pois permanecem a
fé, a esperança e o amor. Porém o maior deste, é o amor.” Note, que
revolução para a igreja de Corinto, que se orgulhava do dom de línguas como
sendo o mais importante, ouvir agora do apóstolo Paulo, que o dom mais
importante não é falar línguas, mas sim o amor. A expressão “címbalo que
retine” de I Cor. 13:1, tem duas características, mais barulho e pouca
harmonia. Ou seja, Igreja com muito barulho e pouco amor. Paulo, foi ao ponto
com o povo da cidade de Corinto. Nem ele, Paulo, falou a língua dos anjos. Mas
mostrou para toda a Igreja que o mais importante de tudo, é o amor.
Efésios 4:12 declara que os dons são concedidos para o aperfeiçoamento dos
santos e para o desempenho de seu serviço, para a edificação do corpo de
Cristo. Ou seja, não é simples estado de emoção sentimental, é um poder que vem
contribuir para o crescimento do Evangelho.

Sobre Prof. Felipe Aquino

O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.
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