Os Dogmas da Igreja – Final

A Morte e sua origem
A morte, na atual ordem de salvação, é conseqüência primitiva do pecado. O Concílio de Trento (1545-1563), sob Paulo III (1534-1549), ensina:

“Se alguém não confessa que o primeiro homem, Adão, ao transgredir o mandamento de Deus no paraíso, perdeu imediatamente a Santidade e Justiça em que havia sido constituído e incorreu por ofensa… na morte com que Deus antes havia amenizado… que toda pessoa de Adão foi mudada para pior, seja excomungado.”

Ainda que o homem seja mortal por natureza, já que seu ser é composto de partes distintas, por revelação sabemos que Deus dotou o homem, no paraíso, do Dom pré-natural da imortalidade do corpo. Mas por castigo, ao quebrar a ordem Divina, ficou condenado a morrer.

Sagradas Escrituras:
Gn 2,17: “Adão havia sido ameaçado: ‘O dia que comeres daquele fruto, morrerás…'”.

Rm 5,12: “Por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte…”

O Céu (Paraíso)
As almas dos justos que no instante da morte se acham livres de toda culpa e pena de pecado entram no céu. Benedito XII (1334-1342), pela Constituição “Benedictus Deus”, de 29 de Janeiro de 1336, proclama:

“Por esta constituição que há de valer para sempre e por autoridade apostólica definimos… que segundo a ordenação de Deus, as almas completamente purificadas entram no céu e contemplam imediatamente a essência divina, vendo-a face a face, pois a referida Divina essência lhes é manifestada imediata e abertamente, de maneira clara e sem véus, e as almas em virtude dessa visão e esse gozo, são verdadeiramente ditosas e terão vida eterna e eterno descanso” (Dz. 530).

Também o Símbolo apostólico declara: “Creio na vida eterna” (Dz. 6 e 9).

Sagradas Escrituras:
Jesus representa a felicidade do céu sob a imagem de um banquete de bodas: “…enquanto iam comprá-lo, chegou o noivo, e as que estavam preparadas entraram com o noivo ao banquete de boda, e a porta foi fechada” (Mt. 25,10).

A condição para alcançar a vida eterna é conhecer a Deus e a Cristo: “Esta é a vida eterna, que te conheçam a Ti, único Deus verdadeiro e a Teu enviado Jesus Cristo.” (Jo 17,3).

“Bem-aventurados os limpos de coração porque eles verão a Deus.” (Mt 5,8).

“Nem o olho viu e nem o ouvido ouviu segundo a inteligência humana, o que Deus preparou para os que Lhe amam.” (1Cor 2,9).

A vida eterna consiste na visão de Deus: “Seremos semelhantes a Ele porque O veremos tal qual é…” (Jo 5,13).

Os atos que integram a felicidade celestial são de entendimento, e este por um Dom sobrenatural “lumen gloriae” é capacitado para o ato da visão de Deus (Sl 35,10; Ap 22,5) de amor e gozo.

O Inferno
As almas dos que morrem em estado de pecado mortal vão ao inferno. Benedito XII (1334-1342), na Constituição “Benedictus Deus”, de 29.01.1336, declara:

“Segundo a comum ordenação de Deus, as almas dos que morrem em pecado mortal, imediatamente depois da morte, baixam ao inferno, onde são atormentadas com suplícios infernais.” (Dz. 531).

O inferno é um lugar de eterno sofrimento onde se acham as almas dos réprobos. Negam a existência do inferno aqueles que não acreditam na imortalidade pessoal (materialismo).

Sagradas Escrituras:
Jesus ameaça com o castigo do inferno: “Se teu olho direito é causa de pecado, retira-o e afasta-o de ti; muito mais te convém que percas um de teus membros do que tenhas todo o corpo jogado na geena…” (Mt 5,29).

“E não temais aos que matam o corpo e não podem atingir a alma; temais bem mais àquele que pode levar a alma e o corpo à perdição, destinando-os à geena…” (Mt 10,28).

“Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas, que percorreis mar e terra para fazer um prosélito, e quando chegais a fazê-lo, o fazeis filho da condenação ao dobro de vós mesmos!” (Mt 23,15).

Trata-se de fogo eterno: “Então dirá também aos de sua esquerda: ‘Afastai-vos de mim, malditos, ao fogo eterno preparado para o diabo e seus anjos…'” (Mt 25,41).

E de suplício eterno: “E irão estes a um castigo eterno, e os justos a uma vida eterna.” (Mt 25,46).

São Paulo, em 2Ts 1,9, afirma: “Serão castigados à eterna ruína, longe da face do Senhor e da glória de Seu poder…”

São Justino, funda o castigo do inferno na idéia da Justiça Divina, a qual não pode deixar impune aos transgressores da Lei.

O Purgatório
As almas dos justos que no instante da morte estão agravadas por pecados veniais ou por penas temporais devidas pelo pecado vão ao purgatório. O purgatório é estado de purificação. O II Concílio de Leão (1274), sob Gregório X (1271-1276), afirma:

“As almas que partiram deste mundo em caridade com Deus, com verdadeiro arrependimento de seus pecados, antes de ter satisfeito com verdadeiros frutos de penitência por seus pecados de atos e omissão, são purificadas depois da morte com as penas do purgatório…” (Dz. 464).

Sagradas Escrituras:
Ensinam indiretamente a existência do purgatório concedendo a possibilidade da purificação na vida futura.

Os judeus oraram pelos caídos, aos quais se haviam encontrado objetos consagrados aos ídolos, afim de que o Senhor perdoasse seus pecados: “Por isso mandou fazer este sacrifício expiatório em favor dos mortos para que ficassem liberados do pecado…” (2Mc 12,46).

“Quem falar contra o Espirito Santo não será perdoado nem neste tempo nem no vindouro…”.

Para São Gregório Magno, esta última frase indica que as culpas podem ser perdoadas neste mundo e também no futuro. A existência do Purgatório se prova especulativamente pela Santidade e Justiça de Deus. Esta exige que apenas as almas completamente purificada sejam exibidas no céu; Sua Justiça reclama que sejam pagos os restos de penas pendentes, e por outro lado, proíbe que as almas unidas em caridade com Deus, sejam atiradas ao inferno. Por isso se admite um estado intermediário que purifique e de duração limitada.

O Fim do Mundo e a Segunda Vinda de Cristo
No fim do mundo, Cristo, rodeado de majestade, virá de novo para julgar os homens. O Símbolo Niceno-Constantinopolitano, aprovado pelo I Concílio de Constantinopla (381), sob São Dâmaso (366-384), declara:

“…e outra vez deverá vir com glória para julgar aos vivos e aos mortos… ” (Dz. 86).

Sagradas Escrituras:
Jesus predisse muitas vezes sua segunda vinda: “porque o Filho do homem há de vir na glória de Seu Pai, com seus anjos, e então cada um pagará segundo sua conduta…” (Mt 16,27).

“Porque quem se envergonhar de Mim e de Minhas palavras nesta geração adúltera e pecadora, também o Filho do Homem dele se envergonhará quando vier na glória de Seu Pai com os Santos Anjos…” (Mc 8,38; Lc. 9,26).

“O Filho do homem há de vir na glória de Seu Pai com Seus anjos, e então julgará a cada um segundo suas obras…” (Mt 24,30; cf. Dn 7,13).

“A finalidade da Segunda vinda será ressuscitar os mortos e dar a cada um o que merece…” (2Ts 1,8).

“Por isso devemos ser encontrados ‘irrepreensíveis’…” (1Cor 1,8; 1Ts 3,13).

Sinais precursores da segunda vinda:
Pregação do Evangelho por todo o mundo: “Esta Boa Nova do Reino deverá ser proclamada no mundo inteiro, para dar testemunho a todas as nações. E então, virá o fim…” (Mt 21,14). “E é preciso que antes seja proclamada a Boa Nova a todas as nações…” (Mc 13,10).

A conversão dos judeus: “Então não quero que ignoreis, irmãos, este mistério, que não ocorra que vos presumais de sábios, o amadurecimento parcial que sobreveio a Israel, perdurará até entre a totalidade dos gentios, e assim todo Israel será salvo, como diz a Escritura: Virá de Sion o Libertador, afastará de Jacó as impiedades. E esta será Minha Aliança com eles quando tenham apagado seus pecados… ” (Rm 11,25-27; totalidade moral).

A apostasia da fé: “Jesus lhes respondeu: Olhai para que ninguém vos engane, porque virão muitos usurpando Meu nome e dizendo ‘Eu sou o Cristo’, e enganarão a muitos…” (Mt 24,4; falsos profetas). “Que ninguém os engane de nenhuma maneira. Primeiro deverá vir a apostasia e manifestar-se o homem ímpio, o filho de perdição, o adversário que se eleva sobre tudo o que leva o nome de Deus, ou é objeto de culto, até o extremo de sentar-se ele mesmo no Santuário de Deus e proclamar que ele mesmo é Deus…” (2Ts 2,3; apostasia da fé Cristã).

Antes da apostasia, manifestar-se-á o Anticristo: “Antes da apostasia, se manifestará o homem com iniquidade…” (2Ts 2,3; pessoa determinada a ser o instrumento de Satã).

Grandes calamidades: enchentes, calamidades ou catástrofes naturais serão o prelúdio da vinda do Senhor: “Imediatamente depois da tribulação daqueles dias, o sol se escurecerá, a lua não dará seu resplendor, as estrelas cairão do céu e as forças dos céus serão sacudidas…” (Mt 24,29, cf. Is 13,10: “Quando as estrelas do céu e a constelação de Orion já não iluminarem, e o sol estiver obscurecido, e não brilhe a luz da lua…”).

A Ressurreição dos Mortos no Último Dia
É declarado pelo Símbolo “Quicumque” (chamado também “Atanasiano”). De fato, este símbolo alcançou tanta autoridade na Igreja, ocidental como oriental, que entrou no uso litúrgico e deve ser tida por verdadeira a definição de fé:

“…É pois, a fé certa que cremos e confessamos que … e à Sua vinda, todos os homens deverão ressuscitar com seus corpos…” (Dz. 40).

Também o Símbolo Apostólico confessa: “creio … na ressurreição da carne…”

Sagradas Escrituras:
Jesus contesta aos saduceus: “na ressurreição nem se casarão nem se darão em casamento, pois serão como anjos…” (Mt 22,29).

“E sairão, os que tiveram bons trabalhos, para a ressurreição da vida, e os que trabalharam mal, para a ressurreição do juízo…” (Mt 22,29).

“Aos que crêem em Jesus e comem de Seu corpo e bebem de Seu sangue, Ele lhes promete a ressurreição…” (Jo 6,39).

“Eu sou a ressurreição e a vida…” (Jo 11,25).

A razão iluminada pela fé prova a conveniência da ressurreição:

Pela perfeição da Redenção obrada por Cristo.

Pela semelhança que tem com Cristo os membros de seu Corpo místico.

O Corpo humano Santificado pela Graça, especialmente pela Eucaristia.

O Juízo Universal
Cristo, depois de seu retorno, julgará a todos os homens. É o que expressa o Símbolo “Quicumque”:

É, pois a fé certa que cremos e confessamos que … dali haverá de vir a julgar os vivos e os mortos…”

Sagradas Escrituras:
Jesus toma a miúdo como motivo de sua pregação o dia do juízo: “por isso vos digo que no dia do Juízo haverá menos rigor para Tiro e Sidon que para vós…” (Mt 11, 22).

“O Filho do homem há de vir em toda glória de seu Pai, com seus anjos, e então julgará a cada uno segundo sus obras.” (Mt 16,27).

“Jesus Cristo foi instituído por Deus como juiz dos vivos e dos mortos.” (At 10,42).

 

Sobre Prof. Felipe Aquino

O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.
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