“Lembra-te do dia do sábado para santificá-lo. Trabalharás durante seis dias e farás todas as tuas obras. O sétimo dia, porém, é o sábado do Senhor, teu Deus. Não farás nenhum trabalho (Ex 20,8-l0)”
O terceiro Mandamento da Lei de Deus, o Decálogo, lembra a santidade do dia do Senhor: para os judeus era o sábado, mas para nós agora é o Domingo, uma vez que Jesus ressuscitou no Domingo, e os Apóstolos celebravam a Eucaristia no Domingo. Este costume data dos inícios da era apostólica como mostram as citações de Atos 20,7: “No primeiro dia da semana (domingo) reunidos para partir o pão… , Ap 1, 10; Mt 28,1; At 2, 42-46; 1 Cor 16,2; 1 Cor 11, 17 e outros.
Jesus lembra-nos que “O sábado foi feito para o homem, e não o homem para o sábado, de modo que o Filho do Homem é senhor até do sábado” (Mc 2,27-28). Isto significa que as atividades essências para a vida humana, não supérfluos, podem ser realizadas no dia santo da semana, o Domingo.
A Bíblia liga o domingo à criação: “Porque em seis dias o Senhor fez o céu e a terra, o mar e tudo o que eles contêm, mas repousou no sétimo dia. Por isso o Senhor abençoou o dia de sábado e o santificou” (Ex 20,11).
E a Sagrada Escritura liga também o dia santificado à libertação de Israel da escravidão do Egito: “Recorda que foste escravo na terra do Egito e que o Senhor, teu Deus, te fez sair de lá com a mão forte e o braço estendido. E por isso o Senhor teu Deus te ordenou guardar o dia de sábado” (Dt 5,15). Assim, o sábado para os antigos judeus era guardado como um sinal da aliança inquebrantável de Deus com o povo escolhido; hoje é sinal da nova e eterna aliança de Cristo com a Igreja. Os judeus celebravam no sábado o louvor de Deus, de sua obra de criação e de suas ações para salvar Israel dos seus inimigos. No cristianismo o domingo celebra agora a obra divina de nossa Redenção, por meio de Cristo.
O modo de Deus agir ensina o homem; assim, se Deus “descansou” no sétimo dia (Ex 31,17), embora Deus não se canse, também o homem deve descansar e deixar que os outros, empregados, também descansem.
Jesus foi às vezes acusado de violar a lei do sábado, mas Ele nunca profanou a santidade desse dia. Ele o interpretou corretamente: “O sábado foi feito para o homem e não o homem para o sábado” (Mc 2,27). Movido por compaixão, Cristo se permite, no “dia de sábado, fazer o bem de preferência ao mal, salvar uma vida de preferência a matar”. O sábado é o dia do Senhor das misericórdias e da honra de Deus. “O Filho do Homem é senhor até do sábado” (Mc 2,28).
Jesus ressuscitou dentre os mortos “no primeiro dia da semana” (Mc 16,2). O Catecismo da Igreja ensina-nos que:
“Enquanto “primeiro dia”, o dia da Ressurreição de Cristo lembra a primeira criação. Enquanto “oitavo dia”, que segue ao sábado, significa a nova criação inaugurada com a Ressurreição de Cristo. Para os cristãos, ele se tomou o primeiro de todos os dias, a primeira de todas as festas, o dia do Senhor: o “domingo” (§2174)
Muitos são os testemunhos da Tradição apostólica de que a Igreja sempre guardou como dia sagrado o domingo:
Um dos documentos mais antigos da Igreja, a Epístola de Barnabás (74 d.C., anterior ao Apocalipse, escrito no fim do século I) já dizia: “Guardamos o oitavo dia (o domingo) com alegria, o dia em que Jesus levantou-se dos mortos” (Barnabás 15:6-8).
São Justino, mártir (†165) dizia: “Reunimo-nos todos no dia do Sol (Sunday, domingo), porque é o primeiro dia após o Sábado dos judeus, mas também o primeiro dia em que Deus, extraindo a matéria das trevas, criou o mundo e, neste mesmo dia, Jesus Cristo, nosso Salvador, ressuscitou dentre os mortos” (Apologia 1,67).
Santo Inácio de Antioquia, mártir (†107) escreveu: “Aqueles que vivem segundo a ordem antiga das coisas voltaram-se para a nova esperança não mais observando o Sábado, mas sim o dia do Senhor, no qual a nossa vida é abençoada por ele e por sua morte” (Carta aos Magnésios 9,1).
O domingo sucede o sábado a cada semana, e leva à plenitude, na Páscoa de Cristo, a verdade espiritual do sábado judeu e anuncia o repouso eterno do homem em Deus.
A celebração dominical do Dia do Senhor e da Eucaristia está no coração da vida da Igreja. “O domingo, dia em que por tradição apostólica se celebra o Mistério Pascal, deve ser guardado em toda a Igreja como dia de festa de preceito por excelência.” (Cat. §2177)
E a Igreja ensina que “devem ser guardados como “dias santos”, também o dia do Natal, da Epifania, da Ascensão e do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo, de Santa Maria, Mãe de Deus, de sua Imaculada Conceição (8 dezembro) e Assunção, de São José (19 março), dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo e, por fim, de Todos os Santos.” (idem)
A Epístola aos Hebreus lembra: “Não deixemos as nossas assembleias, como alguns costumam fazer. Procuremos animar-nos sempre mais” (Hb 10,25). Uma antiga tradição guarda a lembrança de uma exortação sempre atual:
“Vir cedo à Igreja, aproximar-se do Senhor e confessar seus pecados, arrepender-se na oração… Participar da santa e divina liturgia terminar a oração e não sair antes da despedida… Dissemos muitas vezes: este dia vos é dado para a oração e o repouso. E o dia que o Senhor fez. Exultemos e alegremo-nos nele” (Pseudo Eusébio Alexandrino, Sermões dom.)
São João Crisóstomo, doutor da Igreja (349-407) e patriarca de Constantinopla, falava da necessidade de vir à igreja para rezar:
“Não podes rezar em casa como na Igreja, onde se encontra o povo reunido, onde o grito é lançado a Deus de um só coração. Há ali algo mais, a união dos espíritos, a harmonia das almas o vínculo da caridade, as orações dos presbíteros” (Cat. §2179).
O Catecismo da Igreja afirma que:
“Aos domingos e nos outros dias de festa de preceito, os fiéis têm a obrigação de participar da Missa”. “Satisfaz ao preceito de participar da missa quem assiste à missa celebrada segundo o rito católico no próprio dia de festa ou à tarde do dia anterior”. Não há qualquer outra exigência para a validade da Missa no Sábado.
O Catecismo reforça que “os fiéis são obrigados a participar da Eucaristia nos dias de preceito, a não ser por motivos muito sérios (por exemplo, uma doença, cuidado com bebês) ou se forem dispensados pelo próprio pastor.
Aqueles que deliberadamente faltam a esta obrigação cometem pecado grave”. (§2181). A razão disso é que a participação na celebração comunitária da Eucaristia no domingo é um testemunho de pertença e de fidelidade a Cristo e à sua Igreja, onde atestamos a nossa comunhão na fé e na caridade.
Se “por falta de ministro sagrado ou por outra causa grave, se a participação na celebração eucarística se tornar impossível, a Igreja recomenda vivamente que os fiéis participem da liturgia da Palavra, se houver, na igreja paroquial ou em outro lugar sagrado, celebrada segundo as prescrições do Bispo diocesano, ou então se dediquem à oração durante um tempo conveniente, a sós ou em família, ou em grupos de famílias, de acordo com a oportunidade.” (Cat. §2183)
O dia do Senhor contribui para que todos desfrutem do tempo de repouso e de lazer suficiente que lhes permita cultivar sua vida familiar, cultural, social e religiosa. Por isso neste dia, e nos outros dias de festa de preceito, o católico “não deve se entregar aos trabalhos ou atividades que impedem o culto devido a Deus, a alegria própria ao dia do Senhor, a prática das obras de misericórdia e o descanso conveniente do espírito e do corpo” (§2185).
As necessidades familiares ou uma grande utilidade social são motivos legítimos para deixar de fazer o repouso dominical, mas a Igreja recomenda que essas dispensas legítimas não acabem introduzindo hábitos prejudiciais à religião, à vida familiar e à saúde. O domingo é um tempo de reflexão, de silêncio, de cultura e de meditação, que favorecem o crescimento da vida interior cristã. Cada cristão deve evitar impor sem necessidades aos outros o que o impediria de guardar o dia do Senhor.
O nosso Catecismo orienta que: “Quando os costumes (esporte, restaurantes etc.) e as necessidades sociais (serviços públicos etc.) exigem de alguns um trabalho dominical, cada um assuma a responsabilidade de encontrar um tempo suficiente de lazer. Os fiéis cuidarão, com temperança e caridade, de evitar os excessos e violências causadas às vezes pelas diversões de massa”. (§2187)
E a Igreja pede que “os cristãos precisam envidar esforços no sentido de que os domingos e dias de festa da Igreja sejam feriados legais. A todos têm de dar um exemplo público de oração, de respeito e de alegria e defender suas tradições como uma contribuição preciosa para a vida espiritual da sociedade humana.” (§2188)
Prof. Felipe Aquino