O Tempo da vida besta

Caro Leitor, já faz tempo que escrevi este texto. Mas, a cada final do Tempo do Natal, recordo dele. Penso que nos ajuda a meditar… Ei-lo, pois, novamente:

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Com a Festa do Batismo do Senhor, terminou o Tempo do Natal. Após a Missa, retiraram-se a coroa do Advento e o presépio e, no dia seguinte, hoje precisamente, iniciou-se o chamado Tempo Comum, aquele, em que não se celebra nada de especial, a não ser o mistério mesmo do Cristo.

Tempo Comum… Tempo de nada, tempo da mesmice, da vida besta, da qual falava Carlos Drummond de Andrade? “Eta vida besta, meu Deus!” – dizia o poeta.

Não! A cor própria deste período é o verde, exatamente para mostrar que este Tempo Comum não é tempo miúdo, mesquinho da rotina de cada dia! O verde, é o da esperança, aquela que invade o coração de quem sabe que “nasceu para nós um Menino, um Filho nos foi dado”, como dizia Isaías; aquela esperança de quem sabe que o Menino é o Cordeiro de Deus que, morto, ressuscitou e permanece vivo no coração da Igreja e do mundo! O Tempo Comum é o tempo da esperança em Deus, tempo de crer que o Senhor está presente no dia a dia, nas pequenas coisas, que parecem sem sentido e bêbadas de banalidade!

Sabem um bom quadro da Bíblia para compreender este tempo? A vida oculta de Jesus em Nazaré. Alguns curiosos tontos – desses que não entendem nada de Bíblia e se metem a falar do que não sabem – ficam perguntando o que fez Jesus nos trinta anos de vida oculta. Será que foi ao Egito aprender alquimia? Teria ido à Pérsia aprender os segredos dos magos, as mágicas e feitiços dos pagãos? Alguns, alucinados, dizem que fora ao Tibet, aprender meditação… Festival de bobagens; coisas de desmiolados pedantes… De fazerem rir e chorar!

Mas, então, o que fez Jesus nestes trinta anos? O Evangelho diz, revela; é tão claro: ele crescia! Isso mesmo: crescia, em estatura, sabedoria e graça (cf. Lc 2,52), como qualquer criança. Trinta anos de dia a dia, de coisas pequenas, de vidinha igual, rotineira, na acanhada Nazaré, aprendendo a ser gente, a ser homem… Que coisa linda: o Filho de Deus viveu em tudo a nossa condição!

Trinta anos de acordar, trabalhar, rezar, comer e dormir… trinta anos de coisinhas miúdas, tornadas grandes pelo amor de cada dia, desse que a gente quase nem percebe, para nos ensinar a encher de Deus o nosso dia a dia. Isso mesmo: ele se encheu da nossa rotina para que a nossa rotina fosse cheia dele! Eis o sentido do Tempo Comum, tempo verde: dizer que nossos dias, por miudinhos que sejam, são cheios da graça e da verdade de Deus, a tal ponto, que são sementes de eternidade! Aproveitemos o tempo, por comum que seja, e ele será sempre tempo da graça de Deus, tempo de encontrar a eternidade!

Feliz Tempo Comum, caro leitor!

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D. Henrique Soares da Costa
http://costa_hs.blog.uol.com.br/

Sobre Prof. Felipe Aquino

O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.
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