O Sagrado Magistério da Igreja – Parte 2

continuação
Foi a eles que Jesus deu o
poder de, em Seu Nome,
ministrar os sacramentos da salvação. A eles o Senhor enviou a batizar:

“Toda autoridade me foi dada
no céu e na terra. Ide, pois, e ensinai a todas as nações; batizai-as em nome
do Pai, e do Filho e do Espírito Santo” (Mt 28,19).

A eles o Senhor delegou o
mandato de ensinar:

“Ensinai-os a observar tudo
o que vos prescrevi” (28,20).

A eles o Senhor garantiu a
sua assistência permanente:

“Eis que estou convosco
todos os dias, até o fim do mundo” (28,20).

A eles  o Senhor deu o poder de perdoar:

“Recebei o Espírito Santo.
Aqueles a quem perdoardes  os pecados,
ser-lhes-ão perdoados; aqueles a quem os retiverdes, ser-lhes-ão retidos”  (Jo 20,22-23).

A eles o Senhor conferiu o
poder de atualizar, “tornar presente”, o seu Sacrifício do Calvário oferecido
ao Pai por toda a humanidade, uma única vez:

“Isto é o meu corpo que é
dado por vós; fazei isto em memória de mim” (Lc 22,19-20).

São Clemente (88-97), Bispo
de Roma, quarto Papa da Igreja, 
colaborador de São Paulo ( cf. Fil 4,3), na importante Carta escrita aos
Corintios, para debelar a rebelião dos fiéis contra os pastores, já no século I
expunha as bases da Igreja, mostrando que Jesus Cristo recebeu todo o poder do
Pai e incumbiu os Apóstolos de estabelecerem a Hierarquia. Assim, os Apóstolos
cumpriram a ordem e puseram à frente das Igrejas, bispos, presbíteros e
diáconos como auxiliares, tendo regulamentado a sua sucessão, com normas
claras, para que, com a comunidade, fossem escolhidos sempre os melhores.

Vale a pena relermos o que o
quarto Papa escreveu já lá no século I:

“Também os nossos Apóstolos
sabiam, por Nosso Senhor Jesus Cristo, que haveria contestações  a 
respeito  da dignidade episcopal.
Por tal motivo e como tivessem perfeito conhecimento do porvir, estabeleceram
os acima mencionados e deram, além disso, instruções no sentido de que, após a
morte deles outros homens comprovados lhes sucedessem em seu ministério.
Os  que assim foram instituídos por eles,
ou mais tarde por outros homens iminentes com a 
aprovação de toda a Igreja, e 
serviram de modo irrepreensível ao rebanho de Cristo com humildade,
pacífica e abnegadamente, recebendo por longo tempo e da parte de todos o
testemunho favorável, não é justo em nossa opinião que esses sejam depostos de
seu ministério” (Cor 42, 1-3).

Nessas palavras do quarto
Papa da Igreja, vemos que os sucessores dos Apóstolos, chamados de “homens
iminentes”, eram aprovados por toda a Igreja e não podiam ser afastados do
ministério. Vemos aí também, o bispo de Roma atuando já como o pastor supremo
da Igreja, intervindo na rebelião de Corinto.

São significativas as
palavras de São Clemente:

“Os Apóstolos receberam a
boa-nova em nosso favor da parte do Senhor Jesus Cristo. Jesus Cristo foi
enviado por Deus. Cristo portanto vem de Deus e os Apóstolos de Cristo; essa
dupla missão realizou-se pois em perfeita ordem por vontade de Deus…  Assim, proclamando a palavra de Deus no
interior e nas cidades, estabeleciam suas primícias, como Bispos e Diáconos,
dos futuros fiéis, depois de prová-los pelo Espírito Santo” (Cor 42,1-4).

Assim São Clemente
mostra-nos que a Hierarquia foi querida por Deus Pai e por Jesus, sendo,
portanto, sagrada. Isto mostra a apostolicidade da Igreja e as origens da
sucessão apostólica. Fora dessa sucessão que vem diretamente de Cristo, não há legitimidade  e infalibilidade para se atuar em seu Nome. A Igreja
católica, por graça especial de Deus, guarda intacta essa sucessão.

Falando sobre isso diz o
último Concílio:

“Esta missão divina,
confiada por Cristo aos Apóstolos deverá durar até o fim dos séculos (Mt
28,20), pois o Evangelho, que eles devem transmitir, é para a Igreja o
princípio de toda sua vida, através dos tempos. Por isso os Apóstolos, nesta
sociedade hierarquicamente organizada, cuidaram de constituir  os seus sucessores. De fato, não só se
rodearam de vários colaboradores no ministério, mas, para que a missão a eles
confiada tivesse continuidade após a sua morte, os Apóstolos, quase por
testamento, incumbiram os seus cooperadores imediatos de terminar e consolidar
a obra por eles começada… Constituíram assim os seus sucessores e dispuseram
que,  por morte destes, fosse confiado o
seu ministério a outros homens experimentados” (LG,20).

 “Juntamente com o múnus (missão sagrada) de
santificar, a consagração episcopal confere ainda os de ensinar e de
governar…”.  “Pela imposição das mãos e
pelas palavras  consecratórias, se
confere a graça do Espírito Santo e se imprime o caráter sagrado, de tal modo
que os Bispos, de maneira iminente e visível, fazem as vezes  do 
próprio  Cristo, Mestre, Pastor e
Pontífice, e agem em seu nome” (LG 20).

Entretanto, para que isto
seja real é preciso que o Bispo esteja “em comunhão hierárquica com a Cabeça [o
Papa] e com os membros do Colégio” (LG 20).

Nenhum fiel é obrigado, e
nem pode ser submisso a um Bispo que não esteja em comunhão com o Papa e com os
demais Bispos. Cada bispo é  escolhido
pelo Papa, Vigário de Cristo na terra, Cabeça visível da Igreja, e lhe deve
obediência e submissão. Tornou-se célebre na Igreja a expressão: “cum Petro et
sub Petro”. É doloroso para toda a Igreja quando um bispo, de qualquer lugar,
discorda publicamente do Papa, ou contradiz os seus ensinamentos inspirados
pelo próprio Espírito Santo.

Dizer que a Igreja é
Apostólica é o mesmo que dizer que ela permanece em comunhão de fé e de vida
com a sua origem.

O Catecismo, com palavras
claras explica porque é essencial a sucessão apostólica e o Magistério na
missão da Igreja:

“Ninguém pode dar a si mesmo
o mandato e a missão de anunciar o Evangelho. O enviado do Senhor fala e age
não por autoridade própria, mas em virtude da autoridade de Cristo; não como
membro da comunidade, mas falando a ela em nome de Cristo. Ninguém pode
conferir a si mesmo  a  graça, ela precisa ser dada e oferecida. Isto
supõe ministros da graça, autorizados e habilitados da parte de Cristo. Dele
recebem a missão e a faculdade (o “poder sagrado”) de agir “na pessoa de Cristo
Cabeça”.  A tradição da Igreja chama de
“sacramento” este ministério, através do qual os enviados de Cristo fazem e
dão, por Dom de Deus, o que não podem fazer nem dar a si mesmos” (nº 875).

Com que autoridade algumas
pessoas intitulam a si mesmas de bispos? Quem lhes confiou este mandato, esta
graça e esta missão? Sem a sucessão apostólica e o Magistério, o cristianismo
fica subjetivo, a mercê do capricho dos homens, 
sem a garantia e a infalibilidade do Espírito Santo.

Sabemos que todos os
batizados participam da  missão de
evangelizar o mundo. O apostolado é toda a atividade da Igreja no sentido de
“estender o reino de Cristo a toda terra” (AA, 2). Porém, é preciso ficar muito
claro que ninguém pode evangelizar “por conta própria”, no sentido de fazer um
apostolado “independente da Igreja”, sem estar em comunhão com o Bispo da
diocese; e, o que seria pior ainda, pregando uma doutrina que não seja aquela
oficialmente aprovada pelo Magistério da 
Igreja.

Todo aquele que evangeliza,
seja para uma pessoa ou para multidões, exerce um ministério por delegação da
Igreja, e dos Bispos, e portanto não pode ensinar o que quer, mas o que manda a
Igreja.

O Papa Paulo VI disse certa
vez aos Padres Conciliares:

“A fidelidade ao depósito da
Revelação é claro que exige que não se passe em silêncio alguma verdade da fé:
o Povo de Deus, confiado aos nossos cuidados, tem o sagrado e inalienável
direito de receber a Palavra de Deus, toda a Palavra de Deus” (PR, N.419, abril
de 1997, pag.165).

Na Exortação Apostólica Catechesi
Tradendae, o Papa João Paulo II foi mais claro ainda:

“Para  ser verdadeira  a oblação da fé, aqueles que se tornam
discípulos de Cristo têm o direito de receber 
a palavra da fé não mutilada, falsificada ou diminuída, mas sim plena e
integral, com todo o seu rigor e com todo o seu vigor. Atraiçoar em qualquer
ponto a integridade da mensagem é esvaziar a própria catequese… Assim a nenhum
catequista verdadeiro é lícito fazer, por seu próprio arbítrio, uma  seleção no depósito da fé, entre aquilo que
considere  importante e rejeitar o resto”
(CT,30).

Hoje, mais do que nunca, os
leigos são chamados a evangelizar, como jamais na história da Igreja; portanto,
cresceu muito a responsabilidade de estarmos preparados bem para isso.
Infelizmente, ainda existe muita “achologia” nas aulas de religião, catequeses
e pregações, onde muitas vezes prevalece mais a opinião particular do
catequista, do professor de teologia, etc., do que a doutrina oficial da Igreja
ensinada pelo Magistério. E isto acontece principalmente no campo da
Moral.  Na Encíclica Veritates Splendor,
o Papa falou de maneira enfática sobre esta questão:

“A teologia Moral não  se pode reduzir a um conhecimento elaborado
só no contexto das chamadas ciências humanas. Os princípios morais não são
dependentes do momento histórico em que são descobertos. Além disso, o fato de
alguns crentes agirem sem observar os ensinamentos do Magistério ou
considerarem erradamente como moralmente justa uma conduta declarada pelos seus
Pastores contrária à lei de Deus, não pode constituir argumento válido para
rejeitar a verdade das normas morais ensinadas pela Igreja. A afirmação dos
princípios morais não é da competência dos métodos empíricos formais”( VS,
111).

 

Sobre Prof. Felipe Aquino

O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.
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