O Repouso no Espírito Santo (Parte 3)

195_festa_do_divino_espirito_santo_de_pirenopolisResumo de algumas preocupações pastorais

Eminente personalidade afirmou que não há problemas teológicos com o repouso no Espírito, mas há inúmeros problemas pastorais.

Eu concordo e apresento alguns aspectos básicos:

Onde usá-lo: precisamos ser cautelosos a respeito do local onde ocorrerá o repouso. Eu mesmo não usaria o repouso, por exemplo, em uma missão paroquial, ou em uma reunião de oração de uma igreja não-carismática. O ideal, acredito, seria que fosse usado em particular ou em situações de aconselhamento. Pode ser usado também para orações carismáticas de cura.  Necessidade de ensinamento: isso é extremamente importante. Quando estou me preparando para ungir e orar, e sempre ávido que algumas pessoas talvez caiam no chão. Explico que o repouso é uma experiência comum e que, portanto, não precisam chamar uma ambulância nem mandar buscar o médico. Sei de pessoas que fizeram orações para grandes multidões, sem ao menos mencionar o que poderia acontecer. As pessoas caíam sob o poder do Espírito e com isso, os que estavam observando, ficavam chocados e amedrontados e abandonavam a reunião. Em nossa sociedade, quando vemos uma pessoa cair, pensamos que está se sentindo mal ou tendo um ataque cardíaco. Precisamos prevenir a todos sobre o que pode acontecer, e dar-lhes uma noção do que devem esperar, tanto exterior como interiormente, tal como o médico ou o dentista que geralmente informam o paciente sobre todo procedimento que levarão a cabo com ele.  Às vezes, precisamos ajudar as pessoas a abrirem espaço em suas mentes, para que o repouso no Espírito aconteça. Isto permite que elas ajam da maneira que o Espírito Santo inspirar.

Algumas pessoas que não repousam no Espírito se sentem desprezadas ou sentem que Deus não as ama. É preciso que se lhes assegure que Deus as ama. Talvez necessitem de mais ensinamento e oração, até que se tornem psicologicamente mais abertas à experiência. É preciso tranquilizar as pessoas de que a falta do repouso no Espírito não significa que não estão perto de Deus. Do mesmo modo, devemos dizer que o repouso não é sinal de santidade. Suponho que Madre Teresa de Calcutá nunca tenha feito o repouso no Espírito, ao passo que conheço algumas pessoas desprezíveis que já repousaram.

O repouso pode ser controlado: o ato de cair geralmente está sob o controle da pessoa que repousa. Se uma cerimônia carismática estiver sendo realizada em um local que não se preste ao repouso no Espírito, ou em uma situação inadequada, é preciso orientar os participantes a fecharem seus espíritos à experiência e pedir-lhes que não entrem em repouso. Na maioria dos casos, pode-se observar que se assim procedem, o repouso não acontecerá. Pedi a cerca de 700 pessoas em uma pequena igreja de Brisbane, Austrália, que evitassem o repouso, fechando seus espíritos à experiência, porque as circunstâncias não eram adequadas, e elas assim procederam.

Experiências negativas: segundo minha experiência eu diria que atitudes negativas não são frequentes durante o repouso. Aqueles que se preocupam com a ocorrência de acontecimentos negativos geralmente têm uma experiência inadequada ou não compreenderam o que são as forças negativas das quais as pessoas estão sendo libertadas. Algumas vezes, nesses casos, lembranças dolorosas ou espíritos do mal estão sendo substituídos pela presença de Jesus e aquilo que pode parecer negativo é, na verdade, positivo. Frequentemente, os maus espíritos são trazidos por profundas mágoas emocionais, ou estão relacionados com elas e, portanto, poderá haver uma forte liberação de emoções durante o processo de cura. Francis MaçNutt diz: ” nada que não seja simples e tranquilo não é a ação direta do Espírito, mas sim a ‘reação’ da natureza humana ferida, ou as forças do mal”.  Quando uma pessoa, durante o repouso, parece se mexer ou está agitada de algum modo, o dirigente maduro e experiente (com algum conhecimento da batalha espiritual que está sendo travada e sobre a oração de cura interior) deve orar pela pessoa imediatamente.

Considerações sobre o espaço: em um grupo deve haver amplo espaço para que as pessoas repousem no chão.  Recepcionistas: é preciso certificar-se de que os recepcionistas sejam bons e bem-treinados para que tudo seja mantido em ordem, em uma atmosfera de tranquilidade e reverência.  Servos: deve haver servos treinados para ficar atrás das pessoas que estão recebendo oração para que sejam amparadas em sua queda. Verificar sempre se há um servo disponível antes de começar a oração por uma pessoa. Os
servos também devem estar atentos para ajudá-las a se levantarem quando estiverem prontas.

Música: acredito no valor de se ter uma boa equipe de músicos tocando músicas carismáticas durante o tempo em que as pessoas repousam no Espírito. Isto ajuda a focalizar a atenção em Jesus, leva a um louvor profundo, que por sua vez propicia uma entrega maior.  Testemunho após o repouso: após o repouso é aconselhável ouvir os testemunhos das pessoas que o experimentaram de modo que o que foi ensinado possa agora ser apreciado e confirmado pela experiência.

Há três perguntas que podem ajudar a apresentação individual:

1.  Foi uma experiência válida?
2.  Veio ao encontro de alguma necessidade?
3.  Houve uma profunda experiência de Deus?

Só quem experimentou o repouso poderá dizer se ele realmente aconteceu. Muitas vezes, será surpreendente a profundidade da experiência de algumas pessoas. Para mim a profundidade de satisfação que acompanha a experiência é uma indicação de sua autenticidade. Isto leva à necessidade de partilha.  Material informativo: deve haver folhetos ou outros recursos, incluindo listas dos grupos locais de oração, bem como sugestões de leituras para crescimento.

Acompanhamento: acredito que deve haver pessoas amadurecidas e treinadas para fazer o acompanhamento. As pessoas com experiências negativas devem ser assistidas continuamente com aconselhamento e oração. O despertar de emoções profundas, sem que haja um acompanhamento, é matéria de grande preocupação pastoral.

Como lidar com abusos: todos temos consciência de que para tudo pode haver uso e abuso. Os dons podem gerar abusos, e por isso necessitam de orientação  discernimento de mestres e pastores. O repouso no Espírito pode ser usado para o bem, mas pode provocar abusos. Por exemplo: o fato de alguém apresentar-se a três pessoas diferentes para a oração pode ser considerado um abuso. Focalizar a atenção naquele que ministra o dom e não em Jesus pode ser um abuso.  A fixação excessiva na experiência exterior em prejuízo da experiência interior pode ser um abuso. (Isso indica uma falta de entendimento sobre a essência do repouso e, portanto, é um sinal da necessidade de ensinamento). Ministros de oração que estejam em uma aventura egocêntrica de levarem as pessoas ao repouso no Espírito por sua própria capacidade, podem estar abusando deste dom. Penso que é responsabilidade daqueles que estão no ministério de ensinamento estabelecer orientações e recomendações para que todos os abusos sejam corrigidos.

“Antes, durante e depois…”

Preparando-se para o repouso

Como já mencionei em Ministério de cura para leigos, “eu sugeriria a algumas pessoas que talvez nunca tenham repousado no Espírito e desejam crescer no amor do Senhor, que peçam a Ele para lhes proporcionar esse repouso…  As pessoas dizem ‘eu quero’, mas se o desejarem apenas mentalmente e não de coração, em geral não receberão. Se vocês se abrirem, a porta se abrirá de dentro para fora. Digam ao Senhor: ‘Eu quero receber tudo o que tens para mim, Senhor. Quero receber tudo o que possa fazer de mim uma pessoa melhor, mais capaz de amar-Te, de servir-Te mais, a Ti e aos outros”.

Irmã Frances Clare faz as seguintes recomendações:  Antes da experiência: “não faça com que as coisas aconteçam e não impeça que o poder de Deus venha até você, devido ao seu medo de onde irá cair, ou qual será a sua aparência e o que os outros irão pensar. Liberte-se de qualquer desses medos.  Relaxe no amor de Deus e louve-O pelo seu amor por você. Livre-se de todo o sentimento de culpa de não ser digno. Esta experiência não depende de seu merecimento; é para aqueles que necessitam de libertação, cura interior e de plenitude interior.

Durante a experiência: relaxe no amor de Deus. Entregue-se ao Seu amor. Acredite, com toda a fé, que algo está acontecendo dentro de si, ainda que emocionalmente não sinta nada. Permaneça em posição de relaxamento pelo tempo que desejar .

Após a experiência: quando voltar ao nível normal de consciência, não permita qualquer pensamento de auto-condenação, auto-análise, preocupação com o que os outros vão pensar ou decepção por não ter sentido nada. O fato de permanecer em repouso por cinco minutos ou cinco horas não é sinal de um número maior de pecados ou de maior santidade. As palavras de amor e louvor ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo, vindas de um coração sincero, mantêm a cura fluindo continuamente no coração. Mantenha-se disposto a viver de acordo com a vontade de Deus todos os dias. Esta experiência do repouso no Espírito é só o começo. O Senhor continuará Sua tarefa nas próximas horas, semanas, meses e talvez até mesmo nos anos vindouros. É, de fato, uma grande alegria saber que Ele deseja amar-nos e permitir que Seu Precioso Sangue nos purifique deste modo.  É Jesus que cura e Seu Santo Espírito realiza a cura porque o Pai assim o deseja, neste momento especial de sua vida”.

Recomendamos o livro: O Repouso no Espírito, de Roberto DeGrandis S.S.J., Edições Loyola, onde fomos colher os extratos deste relato. É uma obra exaustiva sobre este assunto amplamente pesquisado em nossos dias. Na obra, além de vários testemunhos, o autor descreve as áreas de interesse em pesquisa com médicos e psicólogos.

Sobre Prof. Felipe Aquino

O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.
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