O papa Bento XVI em Auschwitz

 A visita do
Papa Bento XVI ao campo de concentração nazista de Auschwitz foi um marco para
a Igreja e para o Papa. A agência Reuters classificou o discurso do Papa ali
como o “mais intintrospectivo e emocionante de seu pontificado”. Não é
certamente fácil para um Papa alemão, visitar o lugar do maior massacre
praticado por seu povo alemão. O Papa 
apresentou uma reflexão sobre o quão difícil era para um alemão visitar
o ex-campo de extermínio nazista e sobre como era complicado, para uma pessoa
que acredita em Deus, encarar o mal praticado ali, onde foram mortas mais de
1,5 milhões de pessoas. Entre outras coisas disse o Papa:

«Tomar a palavra neste lugar de
horror, de crimes contra Deus e contra o homem sem precedência na história, é
quase impossível, e é particularmente difícil e oprimente para um cristão, para
um Papa que procede da Alemanha».

«Em um
lugar como este faltam as palavras; no fundo, só há espaço para um atônito
silêncio, um silêncio que é um grito interior para Deus: por que te calaste?
Por que quiseste tolerar tudo isso?»
 «Vim hoje como filho do povo
alemão, e precisamente por esse motivo devo dizer e posso dizer» como João
Paulo II: «Não podia deixar de vir aqui. Tinha de vir».

«Era e é um
dever frente à verdade e frente ao direito de quem sofreu, um dever frente a
Deus, vir aqui como sucessor de João Paulo II e como filho do povo alemão,
filho desse povo do qual tomou o poder um grupo de criminosos com promessas
mentirosas, em nome de perspectivas de grandeza, de recuperação da honra da
nação ou de sua importância, com pressões de bem estar e inclusive com a força
do terror e da ameaça… nosso povo pôde ser usado e abusado como instrumento
de sua mania de destruição e de domínio».

 «Onde estava Deus nesses dias? Por
que se calou?».
«Não podemos escrutar o segredo de Deus, só fragmentos, e nos enganamos quando
queremos converter-nos em juízes de Deus e da história.»

«Nosso
grito dirigido a Deus tem que ser ao mesmo tempo um grito que penetra em nosso
próprio coração para que desperte em nós a presença escondida de Deus, para que
o poder que depositou em nossos corações não fique coberto ou sufocado em nós
pelo egoísmo, pelo medo dos homens, pela indiferença e pelo oportunismo.»
O Papa disse que é particularmente
necessário elevar esse grito a Deus em nosso momento atual, «no qual parecem
surgir novamente nos corações dos homens todas as forças escuras: por um lado,
o abuso do nome de Deus para justificar uma violência cega contra pessoas
inocentes; e por outro, o cinismo que não reconhece Deus e que ridiculariza a
fé n’Ele».

«Gritamos a
Deus para que leve os homens a arrepender-se e a reconhecer que a violência não
cria paz, mas suscita mais violência, um círculo de destruição no qual, no
final das contas, todos perdem.»
Com estas perguntas o Papa não
estava evidentemente questionando  Deus,
mas apenas fazendo uma reflexão. Por que Deus teria permitido tal barbaridade?
É na história de pecado da humanidade; e neste caso do seu próprio povo, que
esta pergunta será respondida.  O Papa
resumiu dizendo: “os nazistas, ao assassinarem a nação judaica, visavam
assassinar Deus”. E deixou claro que os criminosos assumiram o poder nesta
época e enganaram o povo. O império do pecado se fez presente.

Alguns
jornais europeus estranharam o fato do Papa não ter falado “sobre o
anti-semitismo católico e a atuação do Papa Pio XII durante o Holocausto”, como
se esse Papa tivesse sido omisso na defesa dos judeus. O Papa Bento  não tocou neste assunto porque a Igreja nunca
foi anti-semitista durante a ação de Hitler, ao contrário, muitos judeus não
foram mortos por causa da ação da Igreja na Itália e outros lugares. Neste
sentido, o diário católico La
Croix, da França fez uma colocação muito importante: “dar
destaque ao que não foi dito pelo papa é uma atitude que corre o risco de
“ignorar a grande profundidade do que ele afirmou” sobre a ausência
de Deus e o silêncio diante de tal maldade.” 
Quer dizer, o Papa, com a sua presença em Auschwitz deixou claro que o
massacre dos judeus, e toda a barbaridade de Hitler e seus comparsas, foi obra
do pecado, do ateísmo  e do desejo de
destruir Deus. Isto é o mais importante. O Papa fez questão de enaltecer o
valor do povo judeu; leu um Salmo. Afirmou o sociólogo Jadwiga Staniszkis:
“Relacionar as raízes cristãs com o judaísmo é um forte argumento contra o
anti-semitismo. Acho que esse discurso deveria ser lido”.

Contra
aqueles que acusam o Papa Pio XII de omissão, perguntamos: Se Pio XII se calou
durante o Holocausto, perguntamos: Por que o 
jornal New York Times se congratulou com ele em 25 de dezembro de 1941
“por ser ele a única voz no silêncio e nas trevas que envolvem a Europa neste
Natal” ? E por que publicou no ano seguinte outro editorial dizendo que Pio “é
a única voz que clama no silêncio de um continente” ? Judeus e não judeus
reconhe­ceram em Pio XII
o corajoso e prudente defensor dos direitos humanos.

A prova
contundente de que Pio XII não se calou no Holocausto, são os testemunhos dos
próprios judeus.

O jornal Lhomme
Nouveau, edição de 18/6/00, p.13, traz a se­guinte noticia: “Lê-se no
periódico Reconquéte a nota abaixo relativa às acusações levantadas contra o
Papa Pio XII:

“O
testemunho mais eloqüente é, sem dúvida, o do Grão-rabino de Roma Israele
Zolli. Foi tão tocado pela incansável dedicação de Pio XII que se converteu ao
Catolicismo, declarando: “A irradiante caridade do Papa, debruçada sobre todas
as misérias provocadas pela guerra, sua bondade para com meus correligionários
perseguidos foram para mim o furacão que varreu meus escrúpulos diante do
tornar-me católico”.

No dia 29
de novembro de 1944, setenta judeus foragidos, em­bora marcados pelo
sofrimento, bateram às portas do Vaticano para agra­decer ao seu benfeitor.

Aos 9 de
fevereiro de 1948, quarenta delegados de United Jewifs Appeals foram recebidos
pelo Santo Padre, ao qual apresentaram seus agradecimentos.

Aos 26 de
maio de 1955, 94 músicos judeus provenientes de quatorze países foram executar
na presença de Pio XII a nona sinfonia de Beethoven “em agradecimento pela
grandiosa obra humanitária reali­zada por Sua Santidade a fim de salvar
numerosos judeus durante a segunda guerra mundial”.

Todos são
unânimes ao afirmarem a mesma coisa: Pinlas Lapide, Cônsul em Milão, o Dr.
Saffran, a Agência judaica Órgão do Sionismo Internacional, o Grão-rabino Dr.
Ello Toaf, o Grão-rabino da Itália e até mesmo Albert Einstein, que declarou:
“A Igreja Católica foi a única a pro­testar contra os assaltos hitleristas que violavam
a liberdade”.

A
Primeira-Ministra israelense Golda Meir declarou na ONU, por ocasião da morte
de Pio XII em 1958:

“Compartilhamos
a dor da humanidade pela morte de Sua Santida­de Pio XlI… Pranteamos um
grande servidor da paz e da caridade. Du­rante os dez anos de terror nazista,
quando nosso povo sofreu espantoso martírio, a voz do Papa se ergueu para
condenar os carrascos e para exprimir sua compaixão em relação às
vítimas”.

Não dá para
compreender como esses depoimentos contundentes sejam tão acintosamen­te ignorados.

Sobre Prof. Felipe Aquino

O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.
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