O filme Noé e o Dilúvio

10174854_1438619253044768_24614678_nEste filme ‘Noé’, que recentemente foi estreado no Brasil, apresenta uma visão que não se coaduna com a interpretação que a Igreja dá do episódio do dilúvio e da aliança de Deus com Noé. O filme traz uma interpretação que nada tem a ver com a visão da Igreja. Senão vejamos.

Os quatro capítulos do Gênesis (6-9) narram o dilúvio bíblico e significa uma expressão do pecado que, a começar com Adão e Eva vão se alastrando cada vez mais. Esta narração contém, como pode-se notar quando se lê atentamente, repetições e contradições. Os exegetas (estudiosos da Bíblia) concluem que a narração é a fusão de dois documentos (fontes Sacerdotal P e Javista J) conservando cada qual os seus detalhes próprios, sem que o autor sagrado tivesse a preocupação de harmonizá-los entre si. Isto mostra que o autor sagrado não estava preocupado com detalhes menores, e visava sim um sentido mais profundo, uma mensagem religiosa.

Nas tradições dos povos antigos há cerca de 290 histórias antigas de dilúvio, e todas com uma base comum: há uma grande catástrofe por conta de uma grande ofensa dos homens contra a divindade. O elemento do castigo que mata os homens e os animais pode ser a água, o fogo, o terremoto, etc.

Na Babilônia há quatro versões semelhantes de dilúvio, semelhantes ao da Bíblia. Note que Abraão foi oriundo da Mesopotâmia. Aos olhos da ciência é certo que não houve um único dilúvio universal.

Quando o texto bíblico fala de “terra inteira” e “todos os homens” não fala em sentido geográfico, mas religioso, hiperbólico (Gn 41,54.57; Dt 2,25; 2Cr 20,29; At 2,5)  isto é, o gênero humano para o autor sagrado se reduzia àqueles que transmitiam os valores religiosos da humanidade.

A mensagem do relato do dilúvio (Gn 6-9) quer mostrar o seguinte: Deus é santo e puro; Deus é justo; não pode deixar o mal imperar; Deus é clemente;  convida à conversão antes de corrigir. O dilúvio marca o fim de um período da história religiosa da humanidade e marca o início de uma nova era; é como se fosse o início de um novo mundo, onde Deus faz aliança com Noé, o “pai” da nova humanidade.

Noé é uma imagem de Cristo. Noé salvou a humanidade pelo lenho da arca, Cristo vai salvá-la pelo lenho da cruz, do dilúvio do pecado. A arca de Noé é uma figura da Igreja; assim como ninguém sobreviveu fora da arca, ninguém se salva fora da Igreja. Todos os que se salvam, mesmo que não pertençam à Igreja, se salvam por meio de Cristo e da Igreja, ainda que não saibam disso;

As águas do dilúvio são figura do Batismo, que pela água dá vida aos fiéis e apaga os pecados; o dilúvio, como nova criação, prefigura “os novos céus e a nova terra” (2Pe 3,5-7.10) que haverão no fim da história.

Como se pode ver, esta visão da Igreja nada tem a ver com a visão apresentada no filme ‘Noé’.

Prof. Felipe Aquino

Sobre Prof. Felipe Aquino

O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.
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