O Encontro que não pode ser esquecido

Reflexão sobre a Páscoa por *Frei Patrício Sciadini, OCD

ROMA, domingo, 15 de abril de 2012 (ZENIT.org) – A palavra “Páscoa” evoca no coração de todos nós cristãos sentimentos de alegria, de fé, de amor pela Pessoa de Jesus que, tendo vencido a morte,  ressuscitou  dando-nos a todos o anúncio  que não somos mais escravos da morte e do pecado. A vida resplandece e floresce em quem crê no Senhor ressuscitado. Mas ao mesmo tempo esta palavra evoca  todo o caminho que o povo de Israel realiza  desde a sua libertação da escravidão do Egito nas noites estreladas no deserto, na experiência do frio e do calor, da fome. Evoca a tentação da idolatria de um lado e de outro o amor incansável de Deus  que através de Moises, caminha na frente do povo  rumo a terra prometida. Um caminho que  inicia com a libertação e que termina  somente no encontro definitivo com o novo cordeiro imolado, Cristo Jesus, em cujo sangue somos lavados e nossas vestes se fazem mais brancas do que a neve.

Páscoa, nova aliança sagrada da passagem da morte a vida. A grande páscoa de Cristo, resultado de tantas pequenas Páscoas que se realizam no caminho  de todo cristão. Páscoa, experiência de nossa fragilidade e da graça de Deus. Um encontro que  não pode ser esquecido porque é festa  a ser contada de pai para filho  por todas as gerações. Celebração em que o menor de todos, vendo todos os preparativos,  fica extasiado  e se aproxima do mais velho e pergunta  com alegria e brilho nos olhos: por que fazemos isto? E  inicia  o relato pascal,  a grande alegria  de contar aos que vêm depois de nós  que fomos amados por Deus e libertados de todos os nossos pecados.

Páscoa celebrada de pé,  com sandálias nos pés, com bastão na mão, comendo o cordeiro “sem mancha e defeito”, imolado,   pronto para retomar  o caminho, comido com erva amarga para que o povo nunca esqueça que a alegria maior é sempre unida a cruz e a dor. Uma dor de alegria e celebração, é verdade que os pés sangram e doem, que o coração está ferido,  mas é também verdade que  um espírito novo  está presente no coração de quem crê. Páscoa  nova, celebrada  não mais de pé, mas com pressa, por Jesus no cenáculo como despedida solene  dos seus discípulos, como entrada dolorosa na paixão, onde o mesmo Jesus  experimenta  o abandono de todos, a solidão, a dificuldade do caminho, as lágrimas amargas, a negação dolorosa. Mas com plena consciência de ter realizado o projeto do Pai até o fim no amor oblativo de si mesmo. Onde tudo é consagrado com o derramamento do seu sangue,  sangue vivo de amor e fecundante  de una nova vida.

Páscoa não compreendida, sofrida  no início do caminho da traição, mas que  na medida em que  a morte de cruz  se aproxima, aumenta a dor e incerteza, o medo  de que tudo está terminado. Mas o Cristo caminha de  cabeça erguida,  voluntariamente, até o calvário, para  se consumir  no amor ao Pai. O seu “tudo está consumado” não é desespero e nem  fracasso, mas sim realização de amor e “sim”  definitivo. Como é bela a páscoa contemplada como pequenas ou grandes mortes, pequenas ou grandes ressurreições. Páscoa é festa que se prepara a partir de dentro para fora,  num processo de conversão e de infinito amor. Experiência de pecado e de graça, somente os que  tem atravessado consciente e corajosamente o deserto da “quaresma”, nos quatro caminhos  indicados pelo Papa Bento XVI: oração, silêncio, partilha e jejum poderão experimentar a alegria da Páscoa. Sem esta vivencia  a Páscoa será um canto  vazio, um conector não marcante, uma passagem  que não transforma  a vida,  mas a torna ainda mais vazia.

A páscoa é uma festa que é marcada por uma palavra tão familiar a todos  nós e inclusive presente em todas a s línguas  de todos os que creem “aleluia”. É necessário que cante a mente, cante o coração e cante o corpo  que se acorda do seu sono e do seu silêncio para contemplar o Cristo ressuscitado. O canto do aleluia  nos faz perceber que   a nossa “HORA” chegou, embora não ainda plenamente,  a hora da vida, da alegria, da vitória sobre o mal. Páscoa no mundo tecnológico e do consumismo,  banalizada,  reduzida a “férias”, viagens, compras, ovos pascais e colombas pascais, chocolate diet e outras coisinhas  que servem para preencher  o vazio do coração sem fé.

Banalizar a Páscoa, instrumentalizá-la  para comércio é algo que fere não a sensibilidade dos cristãos, mas a fé.  A páscoa no hoje da nossa história é sermos  semeadores de esperança somente, que nasce da noite para o dia, outra numa semana e outra  num mês e outra  no fim da vida e outra ainda  daqui a 100 anos. Quero ser semeador da semente da esperança que nascerá daqui a 100 anos, assim não correrei o risco da vaidade. Crer na Páscoa é graça de Deus. Dizer feliz páscoa é dizer ao outro,  seja qual for, “você é feliz só se crê que Cristo  nasceu, sofreu, morreu e ressuscitou” e que ele lhe espera no céu para  você participar da sua glória. A páscoa, mais que uma celebração, uma memória, é uma Pessoa viva, Cristo, e você  que crê em Cristo.

Feliz páscoa!

* Frei Patrício Sciadini, ocd, religioso, Carmelita Descalço, escreveu mais de 60 livros, publicados no Brasil e no exterior, atualmente é o delegado geral no Egito.

Sobre Prof. Felipe Aquino

O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.
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