O Dia da Bíblia

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A Igreja no Brasil dedica o mês de setembro à Bíblia, o que é muito significativo e bom, pois a Palavra de Deus ilumina a vida de cada cristão e da Igreja. É uma grande oportunidade para se conhecer melhor as Sagradas Escrituras, que são como placas de trânsito a nos mostrar o caminho seguro a ser seguido, para não correr o risco de entrar em uma contra mão e acabar sofrendo um grande acidente, trazendo lesões irreversíveis e cicatrizes por toda vida. A Bíblia é sempre para nós a luz de nossa caminhada.

Deus em sua infinita misericórdia nos deixou a sua Palavra que é fonte de consolo, alegria, paciência, sabedoria e felicidade. Ele nos deixou uma Carta Magna. São Paulo diz que “toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para ensinar, para persuadir, para corrigir e formar na justiça” (2Tm 3,16). A carta aos hebreus diz que “a palavra de Deus é viva, eficaz, mais penetrante do que uma espada de dois gumes, e atinge até à divisão da alma e do corpo, das juntas e medulas, e discerne os pensamentos e intenções do coração” (Hb 4,12).

Para aquele que possui a fé sem a qual “é impossível agradar a Deus” (Hb 11,6), a Palavra de Deus é alimento sólido para a vida espiritual, indispensável para aquele que deseja, pela fé, fazer a vontade de Deus e ter luz na própria vida.

Não é sem razão que São Pedro disse: “Antes de tudo, sabei que nenhuma profecia da Escritura é de interpretação pessoal porque jamais uma profecia foi proferida por efeito de uma vontade humana. Homens inspirados pelo Espírito Santo falaram da parte de Deus” (2 Pd 1,20-21).

Toda a Bíblia é a Palavra de Deus aos homens, escrita por pessoas inspiradas pelo próprio Espírito Santo; é a Sua revelação, ensinando-nos tudo o que devemos saber e fazer nesta vida e na outra.

A Bíblia não é um livro de ciência, mas, sim, de fé. Utilizando os mais diversos gêneros literários, ela narra acontecimentos da vida de um povo guiado por Deus, desde quatro mil anos atrás, atravessando os mais variados contextos sociais, políticos, econômicos, etc. Por isso, a Palavra de Deus não pode sempre ser tomada ao “pé da letra”, literalmente, embora muitas vezes o deva ser. “Porque a letra mata, mas o Espírito vivifica” (2 Cor 3,6), disse São Paulo.

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A Igreja Católica e a Bíblia

Portanto, para ler a Bíblia de maneira adequada, exige-se antes de tudo o pré-requisito da fé e da inspiração do Espírito Santo na mente e orientação da Igreja, sem o que a interpretação da Escritura pode ser comprometida. Foi a Igreja Católica quem compôs a Bíblia, discernindo os 72 livros inspirados, desde os primeiros séculos. Santo Agostinho disse que: “Eu não creria no Evangelho, se a isto não me levasse a autoridade da Igreja católica” (Cat. 119). A alma da Igreja é o Espírito Santo dado em Pentecostes; por isso a Igreja não erra na interpretação da Bíblia e isso é dogma de fé. Jesus mesmo lhe garantiu isto: “Quando vier o Paráclito, o Espírito da verdade, ensinar-vos-á toda a verdade” (Jo 16,13a).

Para que a Palavra de Deus seja eficaz em nossa vida, precisamos, pela fé, acreditar nela e colocá-la em prática objetivamente. Em outras palavras, precisamos obedecê-la, pois estaremos obedecendo ao próprio Senhor. Podemos dizer como o salmista, no Salmo 118:

“Vossos preceitos são minhas delícias.

Meus conselheiros são as vossas leis” (v. 24).

“O único consolo em minha aflição

É que vossa palavra me dá vida” (v. 50).

“Quão saborosas são para mim vossas palavras,

mais doces que o mel à minha boca” (v. 103).

“Vossa palavra é um facho que ilumina meus passos. E uma luz em meu caminho” (v. 105).

“Encontro minha alegria na vossa palavra,

Como a de quem encontra um imenso tesouro” (v.162).

O mês da Bíblia termina no dia 30 de setembro; dia de São Jerônimo, presbítero e doutor da Igreja (348-420), e no último domingo de setembro a Igreja no Brasil celebra o “Dia da Bíblia”. São Jerônimo era cidadão romano, muito culto, sabia o latim, o grego e o hebraico, um espírito enciclopédico. Era filósofo, retórico, gramático, dialético. A ele devemos a tradução em latim do Antigo e Novo Testamento, que se tornou, com o título de Vulgata, a Bíblia oficial do cristianismo.

Seu nome era Sofrônio Aurélio Jerônimo; nasceu na Dalmácia, em Strido, e educou-se em Roma; é o mais erudito dos Padres da Igreja latina. Viveu alguns anos na Palestina como eremita. Foi batizado aos 20 anos. Fez os estudos teológicos na famosa Academia de Tréveros. Desde jovem sentiu atração pela vida mundana (cf. Ep. 22,7), mas buscou a religião cristã e orientou-se para a vida ascética.

São Jerônimo é uma personalidade fortíssima: em Roma atacou os vícios e hipocrisias e deu início a novas formas de vida religiosa, atraindo para elas algumas influentes damas patrícias (de Roma), que o seguiram depois na vida eremítica de Belém. Os “rugidos deste leão do deserto” eram ouvidos tanto no Ocidente como no Oriente.

Toda vez que terminava um livro ia fazer uma visita às monjas que dirigia na vida ascética num mosteiro não distante do seu. Ele as escutava, respondendo às suas perguntas. No livro “Homens Ilustres”, onde apresenta um perfil biográfico dos homens ilustres, conclui com um capítulo dedicado a ele mesmo.

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Em 382, transferiu-se para Roma; o Papa Dâmaso (366-384), conhecendo a sua fama de asceta e a sua competência de estudioso, assumiu-o como secretário e conselheiro (382 a 385); encorajou-o a fazer uma nova tradução latina dos textos bíblicos por motivos pastorais e culturais. Após a morte de Dâmaso, foi para a Palestina, e fez a revisão da versão latina da Bíblia (Vulgata), em Belém, por 35 anos; assim, deu à Igreja latina alicerces bíblicos sólidos que não foram abalados nesses dezesseis séculos depois dele. Sempre considerou os seus majestosos trabalhos como “armas que dão à fé”. Em 382, por convite do Papa Dâmaso, participou em Roma de um sínodo para debelar um cisma de Antioquia. O Papa Bento XV chamou-o de “doutor eminente na interpretação das Sagradas Escrituras”. Morreu aos 72 anos, em 420, em Belém.

Como se pode ver, não é sem razão que o Dia da Bíblia quer também lembrar este gigante da Igreja.

Neste dia da Bíblia, peçamos ao Espírito Santo que faça crescer em nós o dom de sabedoria, para que assim possamos amar ainda mais a Palavra de Deus.

Prof. Felipe Aquino

Sobre Prof. Felipe Aquino

O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.
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