O Confucionismo

Em síntese: O Confucionismo, devido a Confúcio (século VI/V a.C.) na China, apregoa o culto dos antepassados, que merecem veneração mediante ritos tradicionais; a estes ritos estão associados preceitos de ordem moral, principalmente os da honestidade e do bom relacionamento com o próximo. A observância destas normas assegura ao ser humano a felicidade (Fu), que é concebida dentro dos termos da vida presente, pois o Confucionismo não desenvolveu a noção de existência póstuma. Em relação a Deus, o confucionista reconhece a ordem do universo devida a imutáveis decretos de Deus, mas sabe que é livre e responsável por seus atos, que podem provocar a sanção divina, ou seja, a outorga da felicidade ou a multiplicação de desgraças.

A figura de Confúcio

Confúcio nasceu em 551 a.C. no Estado feudal de Lu, na província atual de Shangtung. Na sua época a China era governada pela dinastia Zhon (722-481 a.C.); tal fase foi de desagregação nacional: os vários senhores feudais recusavam a obediência ao monarca e disputavam entre si a hegemonia; houve Ministros que assassinaram os seus monarcas, como houve filhos que mataram os seus genitores. Confúcio desejou estabelecer ordem nesse reino convulsionado, mas não o conseguiu. Foi mais feliz como educador e morigerador dos homens.  Morreu em 479 a.C.. Conhecemos os seus ensinamentos apenas mediante os escritos dos discípulos, o mais importante dos quais se intitula Lun Yu, coletânea póstuma dos diálogos de Confúcio.

A religião oficial da China no século VI a.C. compreendia o culto dos antepassados. Confúcio adotou-a e reforçou-a. Os antepassados eram escalonados  segundo graus de importância: havia o antepassado maior, que era o filho primogênito (da-zong) da mulher do fundador de uma linhagem principesca independente; este merecia veneração perpétua, ficando a tua imagem exposta no salão principal do templo da família. Os antepassados menores eram os outros filhos (xiao-zong) da mesma família; as suas imagens eram expostas em salas laterais do templo da família e a sua veneração lhes era prestada apenas até a quinta geração.

O Confucionismo: ritos e felicidade

O Confucionismo é o culto dos antepassados, que, após a morte de Confúcio, inclui o do próprio Confúcio. A China Imperial impunha o culto de Confúcio a todos os magistrados e mantinha um templo confuciano em cada cidade; aí, duas vezes por ano, eram celebradas solenes festas em honra de Confúcio, das quais participavam os oficiais civis e militares da região. Além do que, duas vezes por mês, na Lua nova e na Lua cheia, eram oferecidos sacrifícios.

De quanto foi dito, segue-se que o Confucionismo não é uma religião institucional com seus dogmas, seu sacerdócio e sua organização diferentes dos de outras sociedades. Também se pode dizer que não é uma “religião de salvação”(= promissora de salvação), como o Cristianismo e o Budismo, por exemplo. Verdade é que a noção de salvação não lhe é estranha. Os confucionistas conhecem bem a palavra fu, afixada outrora nas portas das casas chinesas no primeiro dia do ano, com o sentido de “felicidade”, equivalente à palavra hebraica shalom e à latina salus.

Confucionismo: linhas teológicas

Confúcio formulou uns poucos princípios teológicos, que o seu contemporâneo Lao-Tzu propagou.

A ideia de Deus, em parte, é inspirada pela contemplação do céu (T’ien). Este impressiona os homens de duas maneiras, ou seja, pela regularidade dos seus movimentos e pelo terror de alguns fenômenos metereológicos.  A regularidade sugere a existência de certas leis que presidem aos acontecimentos deste mundo, enquanto os terrificantes fenômenos metereológicos fazem crer que Deus interfere na ordem da natureza. Com outras palavras ainda:  ao contemplar os céus, os homens se tornam conscientes de que há decretos divinos infalíveis (ming), de um lado, e, de outro lado, aprendem a temer as sanções de Deus impostas àqueles que cometem aberrações. Com efeito, embora haja no universo ordem sábia e bem traçada, o homem fica sendo livre e responsável, diante de Deus, pelas ações que pratica; resta-lhe sempre a possibilidade de errar, procurando o lucro material em lugar da honestidade ou cultivando o amor das coisas visíveis em vez das virtudes.

O valor de alguém, segundo Confúcio, não se mede necessariamente por aquilo que ele tem ou realiza, mas, sim, pela sua retidão de intenções ou pela sua honestidade. Baseando-se neste princípio, Tzuhsia, discípulo de Confúcio, respondeu a um colega que se queixava de não ter irmãos.

“Ouvi dizer que a vida e a morte dependem do destino; a riqueza e a honra dependem do Céu. Se um homem nobre procede corretamente em todas as circunstâncias e o seu comportamento é agradável a todos e irrepreensível, todos os homens que habitam entre os quatro mares, são os seus irmãos. Por conseguinte, poderá um homem nobre amargurar-se por não ter irmãos?”(Dizeres de Confúcio ou Lun-yü).

Sobre Prof. Felipe Aquino

O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.
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