O Céu sobre a terra

Terra ucraniana

Se fôssemos capazes de ver com os olhos da fé as riquezas divinas que encerra a Missa, reagiríamos como São Pedro no dia da Transfiguração de Jesus.

Diríamos, cativados, ao assistir à Missa:

Como é bom estarmos aqui!, e teríamos, como ele, desejos de perpetuar aqueles momentos (cf. Mt 17,4).

Acho que você se lembra da cena da Transfiguração. Foi aquele dia em que Jesus pediu a Pedro, Tiago e João que o acompanhassem até o alto de uma montanha para orar – a tradição diz que era o monte Tabor –, e lá se transfigurou na presença deles. Seu rosto, seu corpo, suas vestes, começaram a brilhar como o sol, deixando entrever a maravilha indescritível da divindade de Cristo, que no dia a dia ficava oculta na sua humanidade (Cf. Mt 17,2; Mc 9, 2 e 5; e Lc 9,29 e 33). Essa luz que extasiou os três Apóstolos e lhes fez vislumbrar a beleza divina de Jesus e com a qual nenhuma beleza humana se pode comparar, é chamada às vezes de “luz tabórica”, do Tabor.

Pois bem, a Missa – como já víamos – “é uma Pessoa”, é Jesus, Deus e Homem verdadeiro. Se, por um milagre, um raio de “luz tabórica” nos fizesse enxergar na Missa a divindade de Cristo, realmente presente no altar após a Consagração (e presente, depois, nos sacrários), ficaríamos extasiados, deslumbrados, arrebatados por uma alegria indescritível. E, além de Cristo irradiando os fulgores da divindade, veríamos também o que diz João Paulo II na Encíclica sobre a Eucaristia (n. 19):

“A Eucaristia é verdadeiramente um pedaço de Céu que se abre sobre a terra. É um raio de glória da Jerusalém celeste, que atravessa as nuvens da nossa história e vem iluminar o nosso caminho”.

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Um pedaço do Céu que se abre sobre a terra

Você entende? O Papa, nesse texto que acabo de citar, refere-se à Jerusalém celeste, à imagem do Céu, que São João contempla no Apocalipse: Vi descer do céu, de junto de Deus, a Cidade Santa, a nova Jerusalém… Ao mesmo tempo, ouvi do trono [de Deus] uma grande voz que dizia: “Eis aqui o tabernáculo de Deus com os homens. Habitará com eles e serão o seu povo e Deus mesmo estará com eles” (Ap 21,2-3).

Nessa cidade celestial, não haverá nada de execrável, mas nela estará o trono de Deus e do Cordeiro. Os seus servos lhe prestarão culto; verão a sua face e o seu nome estará nas suas frontes (Ap 22,3-4)

Esse “pedaço do céu que se abre sobre a terra” é uma realidade, visível com a fé, em cada Missa. Pois em cada Missa Deus está presente e, com Ele, todos os anjos e santos que, contemplando-O e cultuando-O, formam a Jerusalém celeste.

Veja também o que já dizia o Catecismo da Igreja Católica, antes dessa Encíclica sobre a Eucaristia, de acordo com a fé de sempre. Na Missa, «à oferenda de Cristo unem-se não somente os membros que estão ainda na terra, mas também os que já estão na glória do céu: é em comunhão com a Santíssima Virgem Maria […], assim como com todos os santos e santas, que a Igreja oferece o Sacrifício Eucarístico» (n. 1370).

Penso que vale a pena lembrar-lhe que, na mesma Encíclica sobre a Eucaristia, João Paulo II fez uma referência tocante à presença de Nossa Senhora na Missa.

Na Missa – diz –, que é memorial do Calvário, está presente tudo o que Cristo realizou em sua paixão e morte. Por isso, não pode faltar o que Cristo fez para sua Mãe em nosso favor. De fato, entrega-lhe o discípulo predileto e, nele, entrega cada um de nós:

“Eis aí o teu filho”. E de igual modo, diz a cada um de nós: “Eis aí a tua mãe” (Cf. Jo 19,26-27). Viver o memorial da morte de Cristo na Eucaristia [a Missa] implica também receber continuamente este dom. Significa levar conosco – a exemplo de João – aquela que sempre de novo nos é dada como Mãe» (Ecclesia de Eucharistia, n.57).

Já tinha pensado nisso? Recebemos Maria como Mãe em cada Missa! É para ficarmos loucos de agradecimento e de confiança.

Mais orações do coração 

Tendo no coração essas luzes da fé, procuremos agir em consequência.

Essas realidades podem inspirar-nos lampejos de devoção, daquelas «orações do coração», íntimas e silenciosas, de que falávamos na meditação passada.

É maravilhoso abrir os olhos interiores e “ver” que Nossa Senhora está também junto de Jesus Eucaristia, junto do altar, como esteve junto da Cruz (Jo 19,25); e, então, falar-lhe, pedir-lhe que nos ajude a rezar com amor as orações litúrgicas da Missa, que nos acompanhe a receber com fervor a Santa Comunhão; que se lembre, como diz uma oração litúrgica, de dizer «coisas boas» a seu Filho em nosso favor.

E também estão presentes os santos, e os anjos. São Josemaria gostava de dizer que, no altar, na Missa, se sabia «rodeado de anjos», que com ele louvavam o Senhor.

Quando esteve no Brasil, em 1974, na véspera da sua partida, disse-nos, aos que convivemos com ele, as seguintes palavras, como um “legado de despedida”:

«Quando vierem dizer ao Senhor – referia-se a Jesus sacramentado, presente no Sacrário –, talvez sem ruído de palavras: “Senhor, eu te amo, creio que estás aqui”, nesses momentos, louvem também a Santíssima Trindade, o Pai, o Filho e o Espírito Santo, e invoquem Maria e José, porque de alguma maneira estarão presentes no Sacrário, como o estiveram em Belém e em Nazaré. Não se esqueçam!»

Antes de terminarmos hoje a reflexão, queria acrescentar um pensamento. Na Missa, você, com certeza, reza pelas pessoas queridas que já faleceram. Provavelmente tem a convicção moral – uma piedosa convicção íntima – de que muitas delas já estão no Céu ou, pelo menos, no Purgatório. Se é isso o que acha, não percebe que elas também têm que estar presentes neste «Céu sobre a terra» que é a Eucaristia? Por isso, repare que em nenhum lugar poderá estar mais perto das pessoas que amou – pai, mãe, esposa ou marido, filhos, parentes, amigos falecidos –, que em nenhum lugar poderá “conversar” melhor com eles do que na Santa Missa, na comunhão e rezando perto do Sacrário.

Como é grande a riqueza da Missa! Quantos motivos para vivê-la com fervor, em contínua oração! As diversas sugestões que vim comentando ficam aí, à sua disposição, como que guardadas numa arca sem chave, para que possa lançar mão ora de umas ora de outras, conforme os dias e a inspiração que Deus lhe der.

Retirado do livro: “Para estar com Deus”. Pe. Francisco Faus. Ed. Cléofas e Cultor.

Sobre Prof. Felipe Aquino

O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.
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