O católico e a política

O leigo é chamado a “consagrar o
mundo a Deus”; isto é, levar o mundo em que vive e trabalha a viver o
Evangelho. Ele chega nos lugares mais escondidos da sociedade, onde é difícil o
clérigo chegar. Seu campo de atuação é a fábrica, a rua, o comércio, a
universidade, etc; e também a política. Aí 
também ele é chamado a ser o  “o
sal da terra e a luz do mundo” (Mt 5,13-14).

A política é a arte de se
buscar  o bem comum; isto é, o respeito
pela dignidade humana e  satisfação de
suas necessidades básicas e fundamentais: habitação, educação, saúde, trabalho,
segurança, alimentação, etc. Por isso, a Igreja sempre aconselhou os seus
filhos preparados a enfrentarem este desafio.

A política é bela e necessária. O
Vaticano II a chamou de “difícil e nobilíssima arte” (GS, 75). O detestável é a
politicagem; isto é, o uso mesquinho da política em causa e enriquecimento
próprio. Aquilo que deveria ser um nobre serviço ao povo, se transforma, então,
em traição a este povo. Por causa de tantos maus exemplos desta natureza, o
povo está descrente dos políticos; e esta classe é hoje, sem dúvida, a que
recebe maior descrédito da sociedade.

 No entanto, a política sadia
continua sendo boa e necessária, mais do que nunca, porque é através dela que a
sociedade é dirigida e a autoridade é exercida para o bem do povo.  Quanto mais os bons fugirem da política, mas
os maus a dominarão. Dizia o Papa Leão XIII que “a audácia dos maus se alimenta
da covardia dos bons”. Mais do que nunca isto é verdade no campo da política.

O Concílio Vaticano II incentivou o
leigo a fazer da política um campo de apostolado, veja:

“A Igreja
considera digno de louvor e consideração o trabalho daqueles que se dedicam ao
bem da coisa pública a serviço dos homens e assumem os trabalhos deste cargo.”

“Todos os
cristãos se tornem cônscios de seu papel próprio e essencial na comunidade
política”. 

” Além
disso com empenho se deve cuidar da educação civil e política, hoje muito
necessária tanto para o povo como sobretudo para a juventude a fim de que todos
os cidadãos possam desempenhar o seu papel na vida da comunidade política. Os
que são idôneos ou possam tornar-se para exercer a difícil e ao mesmo tempo
nobilíssima arte política, preparem-se para ela e procurem exercê-la, esquecidos
do proveito próprio e de vantagens materiais. Pela integridade e com prudência,
lutem contra a injustiça e a opressão, ou o absolutismo e a intolerância..” (Gaudium
et Spes, 75).

E a Igreja
recomenda que aqueles que estão preparados não fujam desta missão:

“Os católicos versados em política,
e devidamente firmes na fé e na doutrina cristã, não recusem cargos públicos,
se puderem por uma digna administração prover o bem comum e ao mesmo tempo
abrir caminho para o Evangelho (AA, 14)”.

O Catecismo
da Igreja reconhece a necessidade da autoridade pública:

 “Não há autoridade que não venha de Deus, e as
existentes forma instituídas por Deus” (Rom 13,1). (Cat. §1918)

“Toda
comunidade humana tem necessidade de uma autoridade para se manter e
desenvolver”. (Cat. §1919)

“A
autoridade é exercida de maneira legítima se estiver ligada à busca do bem
comum da sociedade. Para atingi-lo deve utilizar meios moralmente aceitáveis”.
(Cat. §1921)

“O quarto
mandamento ordena também que honremos todos aqueles que, para nosso bem,
receberam de Deus uma autoridade na sociedade.” (Cat. §2234)

“A
sociedade humana não estará bem constituída nem será fecunda a não ser que lhe
presida uma autoridade legítima que salvaguarde as instituições e dedique o
necessário trabalho e esforço ao bem comum”. (Cat. §1897)

Por outro
lado, a Igreja lembra que a autoridade tem sérias obrigações:

“A
autoridade não adquire de si mesma sua legitimidade moral. Não deve
comportar-se de maneira despótica, mas agir para o bem comum como uma “força
moral fundada na liberdade e no senso de responsabilidade”. (Cat. §1902)

Portanto,
os cristãos preparados para isto, devem participar ativamente da vida pública.
Mas, algumas exigências são necessárias. Em primeiro lugar, que a pessoa seja
idônea, honesta, e disposta a servir ao povo; e não, servir-se do povo. Em
segundo lugar,  deve estar preparada para
esta função, o que não é fácil; é preciso liderança e um certo preparo
intelectual. Terceiro, como cristão, estar disposto e preparado para atuar
segundo o Evangelho e os ensinamentos da Igreja, especialmente no que se refere
à Moral católica. Esta não aceita o principio cômodo e fácil de que “os fins
justificam os meios”. São Tomás de Aquino ensinava que: “Não se pode justificar
uma ação má, embora feita com boa intenção” (S. Tomás de Aquino, Decem. prec.
6).

Hoje
trava-se um duelo da vida contra a morte, no campo da bioética;  e esta decisão será sobretudo política. Mais
e mais países, a cada dia, aprovam, contra a moral católica, o aborto, a
eutanásia, o bebê de proveta, a inseminação artificial humana, a manipulação de
embriões, o uso da “camisinha”, etc. Somente a Igreja católica tem sabido se
opor com segurança e bases filosóficas contra essa enxurrada de imoralidade. E
tudo isto é decidido na arena política; daí, a necessidade urgente de políticos
cristãos, conhecedores da doutrina da Igreja, para defender no meio dos homens
a Lei de Cristo.

 Ainda mais, o cristão não pode entrar na
política movido pela mínima intenção de “arranjar um bom emprego”, ganhar um
bom salário ou ter prestígio e poder. O cristão é como Cristo, “vive para
servir e não para ganhar ser servido” (cf. Mt 20,26). É claro que terá direito
a um salário, necessário à sua subsistência, mas isto deve ser o “acréscimo” do
Evangelho, e não uma ambição.

Infelizmente
se nota, às vezes, que até bons cristãos antes de serem políticos, acabam sendo
dominados pelos vícios da politicagem: corrupção, conchavos, desrespeito à
moral católica, etc. Já dizia um velho ditado que “o poder corrompe”. Se o
político cristão, não agir, tão somente, por amor a Deus e aos irmãos, poderá
ser devorado pela corrupção e troca de favores. Então, ao entrar para o difícil
mundo da política, o cristão precisa, mais do que os outros, zelar
cuidadosamente, sem vacilar, na “vigilância e oração”, a fim de não cair nas
tentações que serão muitas. Não faltarão ocasiões onde se lhe serão
apresentadas as oportunidades de trocar o seu voto e prestígio por um punhado
de dinheiro ou por outros benefícios escusos.

Outro
defeito grave que se nota, até em bons políticos, é a preocupação com a sua
reeleição; isto faz com que esses passem a trabalhar mais em função da ambição
pessoal da sua reeleição do que pelas reais necessidades do povo. Aí então,
tudo se complica e se compromete, pois uma “segunda intenção” passa a dominar
os atos da pessoa.

Sobre Prof. Felipe Aquino

O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.
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