O Anglicanismo

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No século passado se registrou, na Inglaterra, o chamado “Movimento de Oxford”, chefiado por teólogos anglicanos (entre os quais John Newman depois convertido ao catolicismo e feito cardeal).

Esses estudiosos se puseram a pesquisar a literatura teológica dos primeiros séculos cio cristianismo ou os Padres da Igreja; mediante esse retorno às fontes, verificaram que a Igreja Católica havia guardado puramente a mensagem de Cristo e das primeiras gerações cristãs. A continuidade desse estudo é muito alvissareira, pois pode preparar o reatamento da comunhão entre o anglicanismo e o catolicismo.

A Comunhão Anglicana ou o anglicanismo teve suas origens no século XVI, época da Reforma Protestante.

Na Inglaterra, o rei Henrique VIII (1509-1547), nos inícios de seu governo mostrou-se zeloso pela fé cristã tradicional. Em 1524, contra a obra de Lutero sobre O Cativeiro Babilônico, escreveu uma Afirmação dos Sete Sacramentos, que lhe valeu do Papa Leão X o título de “Defensor da Fé” Não obstante, havia de ser arrastado por seus afetos.

Em 1509, Henrique esposou Catarina de Aragão, viúva de seu irmão Artur l)este casamento teve vários filhos, dos quais um só, Maria Tudor, ficou em vida.Com o tempo, Henrique se apaixonou por uma cortesã, Ana de Boleyn. Por isso, procurou dissolver O seu casamento com Catarina, alegando que fora nulo, porque os nubentes eram cunhados em primeiro grau. Tal pretexto era falso, porque o Papa Júlio II dera a Henrique explícita dispensa para se casar com Catarina; ademais somente, após 18 anos de vida conjugal Henrique trazia à tona esse “impedimento”. A corte real favorecia os anseios do rei. A rainha Catarina apelava para a Santa Sé, pedindo justiça. O Papa Clemente VII resolveu entregar o exame do processo a um tribunal de Roma (julho de 1529).

Em janeiro de 1531, o Papa proibiu a Henrique novas núpcias enquanto a causa estivesse sob julgamento. O rei, vendo que pouca esperança lhe restava, quis obter a dissolução do seu casamento da parte da hierarquia da Inglaterra: Thomas Cromwell, obscuro advogado que adquirira influência sobre o rei, aconselhava a Henrique que, a exemplo dos príncipes alemães, se separasse de Roma. Em fevereiro de 1531 uma assembléia do clero, instigada pelo rei, proclamou Henrique “Chefe Supremo da igreja da Inglaterra”, com a cláusula “na medida em que a Lei de Cristo o permite”. Em 1532, o rei elevou a sé arquiepiscopal de Cantuária Thomas Cranmer que, numa viagem à Alemanha, tinha entrado em contato com o luteranismo; Cranmer resolveu declarar nulo o casamento de Henrique VIII, de modo que este se casou em 1533 com Ana Boleyn. O Papa respondeu excomungando o monarca e finalmente declarando válido o casamento com Catarina. O cisma estava às portas: em novembro de 1534, o parlamento inglês votou o “Ato de Supremacia”, que proclamava ser o rei o “Único e Supremo Chefe da igreja na Inglaterra”; os súditos que não reconhecessem esse ato seriam punidos com a morte. A grande maioria do clero se submeteu, talvez porque acostumada ao conceito de Igreja nacional e bastante mundanizada. Resistiram, porém, até a morte, vários leigos e clérigos, dos quais se destacaram o leigo Tomás Moro e o bispo John Fisher.

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Muitos mosteiros foram fechados, relíquias e imagens foram destruídas. Apesar do cisma e das pressões luteranas, o rei queria conservar íntegra a fé católica na Inglaterra: combatia tanto a adesão ao Papa (manto as inovações religiosas do continente.

Henrique teve por sucessor um filho de dez anos, que lhe nascera do seu terceiro matrimônio! Este menino, Eduardo VI, teve como tutores o duque de Somerset e o de Northunberland que, juntamente com o arcebispo Cranmer, muito trabalharam pela introdução da teologia protestante na Inglaterra. Houve revoltas em diversos condados e as desordens se avolumaram na Inglaterra, a tal ponto que, quando Eduardo VI morreu (aos 16 anos de idade), em 1553, a nação em peso se pronunciou pela princesa Maria, a Católica, filha de Henrique VIII e Catarina, contrariando a designação que Eduardo fizera em. favor de Joana, cortesã de sangue real, protestante.

Maria Tudor resolveu a situação. Era católica convicta e se pôs a trabalhar, apoiada por seu primo, o cardeal Reginaldo Pole, legado papal.

Em 1554, o Parlamento voltou a nova união da Inglaterra com a Santa Sé.

Os prelados depostos por Eduardo VI foram restituídos às suas sedes, enquanto os hereges, vindos do estrangeiro, foram expulsos.

A rainha Maria, no seu zelo restaurador, adotou medidas extremas, semelhantes às que Henrique VIII tomara contra os católicos. Esse zelo excessivo era, em parte, favorecido pelo povo, mas encontrou desaprovação da parte de católicos, que se tornaram avessos à rainha. Esta se tornou impopular também por seu casamento com Filipe, filho de Carlos V, que pouco depois subiu ao trono da Espanha com o nome de Filipe II. Morreu prematuramente (1558); pouco depois do seu desaparecimento, extinguia-se a restauração católica na Inglaterra.

Sucedeu-lhe no trono uma filha de Ana de Boleyn com Henrique VIII: a rainha Elisabete (1558-1603), visto que Maria não deixara herdeiros A nova soberana elevou a Inglaterra a extraordinário poder político e econômico. A sua religiosidade era misteriosa: convertera-se ao catolicismo sob Maria e, elevada ao trono, continuava a frequentar a missa, confessar-se e comungar. Essas atitudes, porém, não eram profundas e cediam a interesses políticos. No dia de sua coroação, jurou conservar a religião católica no país; não obstante, motivos de conveniência a levaram a violar a sua palavra. Os católicos a consideravam rainha ilegítima e propunham Maria Stuart, da Escócia, como herdeira legítima do trono. Isso fazia Elisabete se inclinar, cada vez mais, para o protestantismo. Em conseqüência, sob as aparências de católica, foi tomando medidas anticatólicas e antipapais. Libertou os teólogos presos na Inglaterra e chamou de volta os pregadores de novidade outrora expulsos.

Um dos feitos mais importantes de Elisabete foi a tentativa de restaurar a hierarquia episcopal na Inglaterra, praticamente extinta por Henrique XIII e Eduardo VI. Para tanto, foi escolhido como arcebispo de Cantuária um antigo capelão da rainha, Mateus Parker, que recebeu a ordenação episcopal em 17/12/1559, às cinco horas da manhã, na capela de Lamberth, segundo um ritual novo, chamado “Ordinal”, confeccionado sob o rei Eduardo VI. O sagrante foi um bispo deposto, que se prestou a tal ofício: William Barlon, ex-titular da diocese de Beth, ordenado ainda sob Henrique VIII, validamente. Mateus Parker, uma vez ordenado bispo, ordenou outros bispos, reconstituindo assim a hierarquia na Inglaterra.

Após longos estudos de peritos, que investigaram de perto os fatos, o Papa Leão XIII, em 1896, declarou inválidas as ordenações anglicanas, baseando-se em dois motivos: 1°) insuficiência do rito (o Ordinal de Eduardo VI excluía qualquer alusão á missa como sacrifício de Cristo perpetuado sobre os altares pelo ministério dos sacerdotes; 2°) falta de intenção devida (William Barlon queria constituir uma hierarquia diversa daquela que Cristo fundou, desvinculada da Sé de Pedro). É por isso que a Igreja Católica maté hoje não reconhece as ordenações anglicanas, embora o assunto possa ser reestudado na base de novos aspectos que os estudiosos têm trazido á tona em ampla bibliografia. Este ponto é decisivo para a restauração da comunhão entre a Santa Sé e Cantuária. O reatamento, em nossos dias, vem sendo dificultado pela ordenação de mulheres para o presbiterato e até para o episcopado; dentro da Comunhão Anglicana, este fato tem aberto distância crescente entre os anglicanos e os católicos (acompanhados pelos ortodoxos orientais muito fiéis à Tradição).

No século passado, registrou-se na Inglaterra o chamado “Movimento de Oxford”, chefiado por teólogos anglicanos (entre os quais John Newman, depois de convertido ao catolicismo e feito cardeal). Esses estudiosos puseram ­se a pesquisar a literatura teológica dos primeiros séculos do cristianismo ou os Padres da Igreja; mediante esse retorno à fontes, verificaram que a Igreja Católica havia guardado puramente mensagem de Cristo e das primeiras gerações cristãs. A continuidade desse estudo é muito alvissareira, pois pode preparar o reatamento da comunhão entre o anglicanismo e o catolicismo.

Sobre Prof. Felipe Aquino

O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.
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