Mas por que você não reza aos santos? (Parte 5)

Um grande Santo

Enquanto isso, exercia a pressão da sua grande popularidade para influenciar o rei e os seus conselheiros a fazerem uma paz humana e aliviar o campo do pulgão de uma guerra constante. Ajudou a reformar o clero servindo na comissão do governo para escolher bispos para as dioceses da França. Na outra ponta da escala social, melhorou as condições sob as quais os galés da Armada eram forçados a trabalhar, e despendeu tanto como o equivalente de seis milhões de dólares em resgatar cristãos da espécie de cativeiro que ele próprio suportara na Berbéria.

Embora S. Vicente de Paulo tenha realizado isso melhor do que qualquer outro, ninguém poderia duvidar de que não foi ele o responsável por esse incomparável transbordamento de bem. Era Deus que trabalhava por intermédio de um santo.

Como um santo é… canonizado

Na manhã do Domingo 17 de maio de 1925, a basílica de S. Pedro em Roma estava cheia à cunha. A multidão tinha vindo ouvir o Papa Pio XI declarar oficialmente Teresinha Martin uma santa de Deus.

O Papa não havia subitamente decidido, por um capricho, dar o nome de santa a essa jovem francesa. Anos de estudo cuidadoso entravam na decisão. Retraçando a vida dela e o exame a que foi submetida, podemos ver justamente como a Igreja Católica procede para declarar santa uma pessoa.

O caso de Santa Teresa do Menino Jesus, como Teresa Martin era chamada na sua ordem religiosa, é algo extraordinário. A nenhum santo da Igreja Católica nos tempos modernos foi jamais concedido esse título de maneira tão rápida. Somente vinte e oito anos decorreram entre a morte dela e a declaração final da sua santidade. Para muitos santos, centenas de anos decorreram antes que a Igreja Católica se sentisse pronta para proferir uma decisão. A lei ordinária da Igreja declara que ao menos meio século deve passar depois da morte de uma pessoa, antes que uma discussão oficial de santidade possa ter início. A exceção mostrará o cuidado excepcional que a Igreja usa em todos os casos.

Bastante pouco há que dizer sobre a vida de Teresinha Martin. Ela nasceu a 2 de janeiro de 1873, como filha mais moça de Luís Martin, joalheiro e homem muito religioso. O seu lugar de nascimento foi Bordéus, na França. Ela era uma alegre menina, jovial e afetiva em grau assinalado.

Nada verdadeiramente espantoso sucedeu na sua infância, a não ser o efeito que sobre ela teve a infortunada morte de sua mãe. Sua mãe, a quem ela era mui ternamente apegada, morreu quando a menina tinha quatro anos. Da noite para o dia a caçula da família mudou dos seus modos infantis para uma gravidade e madureza muito assinaladas. Ao mesmo tempo, tornou-se inteiramente tímida. Assaz estranhamente, quando tinha catorze anos, pareceu restabelecer-se desta fase do seu desenvolvimento e recuperar a infância de que carecera.

Depois da morte da mãe, a família mudou-se para a cidade de Lisieux, na França. Duas filhas foram ser freiras no convento Carmelita local, e a própria Teresa era consumida por um ardente desejo de ali as seguir. A prudência e a lei da Igreja proibiam a entrada de uma simples menina em vida tão austera, e os mais prementes pedidos dela para admissão ao Carmelo, como era chamado o convento, foram recusados.

Ela persistiu nos seus desejos e rogos, mas verificou que o Bispo e a Superiora do convento eram completamente infensos aos seus desejos. Assim, por ocasião de uma peregrinação a Roma, ela falou francamente com o Papa (Leão XIII) numa audiência pública, e pediu-lhe permissão para entrar no convento quando tivesse quinze anos. Ele lhe assegurou que Deus arranjaria as coisas se essa fosse a sua vontade. Teresa voltou para Lisieux, e com oração paciente esperou que Deus manifestasse a sua vontade.

Leia também: Mas por que você não reza aos santos? (Parte 1)

Mas por que você não reza aos santos? (Parte 2)

Mas por que você não reza aos santos? (Parte 3)

Mas por que você não reza aos santos? (Parte 4)

Mas por que você não reza aos santos? (Parte 6)

A jovem Santa

Inesperadamente o Bispo mudou de ideia, e pouco depois a Superiora também cedeu. Assim, com quinze anos de idade. Teresa entrou para o convento, e após o período de prova prescrito pelas regras, teve permissão para fazer os votos que a ligavam perpetuamente ao modo de vida das Carmelitas. Isso foi em 1890.

A sua vida não devia durar muito. Logo ela foi feita Mestra de Noviças, ou seja a freira encarregada das jovens que vinham experimentar como era, ela agia com tal prudência e intuição nos negócios humanos e divinos, que regras e tradições foram postas de lado para ceder lugar a ela.

O convento não era grande; nele residiam somente vinte freiras que tinham feito os votos finais. Essa era a sua esfera de influência. A regra da ordem era estrita; jejum e longa oração eram a regra básica da vida cotidiana das freiras. Sóror Teresa do Menino Jesus, como era agora chamada, nunca deixou o convento.

Durante os últimos anos da sua vida, a mando das superioras escreveu, em forma de biografia, um relato das suas experiências espirituais. Este só foi publicado depois da sua morte. Esta não tardou a vir. Ela morreu em 1897, de tuberculose, quando ainda tinha menos de vinte e cinco anos de idade.

A “História de uma Alma”

Por esse tempo ela já começara a exercer influência fora dos muros do seu convento. A gente da cidade sabia da existência dela e respeitava a sua santidade evidente. Quando a sua autobiografia, chamada “História de uma Alma”, apareceu impressa, o mundo subitamente se deu conta de que uma santa estivera vivendo no meio dele. Dentro em pouco tempo, quase meio milhão de exemplares do livro tinham sido vendidos, a ele ainda continua a ser largamente lido num vasto rol de traduções pelo mundo inteiro. É, na realidade, um dos livros mais singulares já escritos.

Tão vasto e tão entusiástico foi o interesse do povo em toda parte pela autora desse livro notável, que as autoridades da Igreja foram solicitadas a investigar a vida dela.

A Igreja Católica tem um conjunto de leis muito detalhado preparado para investigações desta natureza. Essas leis são o resultado de séculos de experiência em tratar da investigação da santidade verdadeira.

Nas primitivas épocas do Cristianismo, a devoção dos fiéis distava aquele a quem a Igreja deveria venerar como um santo. Essa experiência foi finalmente assentada por escrito, em forma de regulamentos, por volta do século décimo. Depois de mais séculos de experiência em julgar essas matérias, a Igreja consolidou as suas regras quatro grande volumes, durante o tempo do Papa Benedito XIV. Esta continua sendo a base da lei da Igreja sobre o assunto hoje em dia, embora a revisão geral de todas as leis da Igreja Católica em 1918 haja consideravelmente esclarecido e simplificado a matéria.

O primeiro passo nessa investigações é um exame local dirigido pelo Bispo do lugar em questão. Em 1910, portanto, o Bispo de Lisieux designou um tribunal eclesiástico para proferir juízo sobre a questão da reputada santidade de Sóror Teresa. Antes de tudo, ordenou que lhe fossem enviados todos os escritos dela, especialmente cartas. Investigou-se se essas cartas eram realmente escritas por ela. O livro que ela escrevera, a sua autobiografia, já estava nas mãos dele.

O tribunal passou então a coligir as provas de que ela tinha reputação de santidade. A lei prescreve deverem ser inquiridos aqueles que a conheceram pessoalmente. Em Lisieux ainda havia vivas nove das freiras que tinham sido companheiras diárias de Sóror Teresa. Foram interrogadas cuidadosamente. Além disto, vinte e nove outras testemunhas foram citadas. O grande número de cartas, vindas de todo o mundo, que atestavam a santidade de Sóror Teresa, e que tinham sido enviadas à Superiora do seu convento e ao próprio Bispo, tornaram-se parte desse processo. Milagres que tinham sido reputadamente operados por Deus por intercessão dela também foram incluídos.

Nenhuma decisão apressada

Uma investigação final foi feita sobre a veneração que estava sendo tributada a essa freira. A Igreja Católica não admitirá ser compelida a uma decisão pela opinião pública. Conseguintemente, o Bispo investigou se alguém estava prestando a ela homenagem pública com qualquer espécie de cerimônias oficiais. Como parte desta investigação, o seu túmulo foi examinado, o corpo foi exumado e autenticado como sendo dela, e reinumado.

Enquanto isso, um membro do tribunal, que absolutamente não era favorável a ela, foi duro no seu trabalho. O seu título oficial era o de Promotor da Fé, mas a linguagem popular pitorescamente apelidou-o o “Advogado do Diabo”. A sua função oficial era descobrir uma evidência que tendesse a provar que Sóror Teresa absolutamente não era uma santa, e apresentar quaisquer objeções que pudesse para mostrar que toda a reputação da santidade dele era baseada em fundamentos falsos.

Todo esse trabalho foi feito em Lisieux durante os anos de 1910 e 1911. As várias investigações foram laboriosas; muitos testemunhos e fatos tiveram de ser apreciados profundamente. No fim, nenhuma decisão foi adotada. Aliás, nenhuma fora pretendida. Todo o corpo de informação coligido foi transmitido ao Papa.

Necessidade de prova segura

Já então passou ele a ser assunto de um departamento especial em Roma, designado pelo Papa, para determinar, com base nas provas produzidas, se havia alguma coisa real naquela reputação de santidade, ou se seria melhor arquivar toda a matéria.

Em Roma o assunto foi tomado em mão por um Cardeal, que mais uma vez convocou um conselho para empreender a investigação inteira. Os escritos de Sóror Teresa foram examinados mui cuidadosamente por um grupo de teólogos, a fim de determinar se eram ortodoxos a todos os respeitos. Por cima dos ombros deles olhava outro Advogado do Diabo, ansiosíssimo por pescar qualquer erro. Todos os argumentos pré e contra foram postos por escrito, as provas foram submetidas a uma junta de Cardeais, que deliberou sobre a matéria e decidiu nada haver a objetar a que se prosseguisse o processo.

Esta decisão foi então levada à atenção do Papa, que por sua vez investigou o processo nesse ponto, e a 9 de junho de 1914 autorizou os Cardeais a iniciarem as audiências oficiais sobre o caso. Isto queria dizer que aparentemente havia razão para investigar oficialmente a reputação de santidade de Sóror Teresa.

Todo um novo processo judiciário foi então iniciado. No centro do inquérito estava a questão de saber se Sóror Teresa realmente praticara a virtude de maneira heroica, e se se podia provar existirem milagres evidentes e inegáveis em atenção a pedido dela.

Um novo tribunal foi nomeado pelo Papa, e por quase dois anos colheu provas, principalmente em Lisieux. Ao todo, noventa e uma sessões foram realizadas. Quarenta e cinco testemunhas foram ouvidas, além de consultados cientistas e médicos das pessoas que tinham sido objeto dos milagres.

Uma vez mais, toda essa informação foi reenviada a Roma e cuidadosamente ponderada. Juristas pró e contra a declaração de santidade tiveram permissão para argumentar pró e contra. O Advogado do Diabo teve muito pouco a que se agarrar, mas fez como melhor pode.

Pretendeu que Sóror Teresa era doente, e deu a entender que ela era neurótica. Desde a idade de dez anos ela ficara definitivamente doente, condição que se originara nela desde a morte de sua mãe. Os médicos tinham sido incapazes de diagnosticar a precisa natureza física dessa doença. Esta subitamente desapareceu, antes de ela entrar para o convento, em resposta a preces feitas a Maria, Mãe de Deus. O Advogado do Diabo pretendeu que ela nunca se restabelecera normalmente dessa doença.

E milagres

Era bastante pouco. Ainda para satisfazer o Advogado do Diabo, as testemunhas foram ouvidas. Atestaram que Sóror Teresa sempre fora mansa e humilde, paciente e amável, de temperamento uniforme e cheio de alegria durante toda a sua vida de convento. Qualquer que tivesse sido a sua doença, ela se restabelecera completamente dela antes de entrar para a sua vida no convento. Certamente ela não era nem anormal nem neurótica.

Veio então o tempo de examinar os reputados milagres que se haviam operado em resposta a orações de pessoas que pediam o auxílio da intercessão dela junto a Deus. Antes da sua morte, ela tinha dito com candura inteiramente simples: “Passarei meu céu fazendo bem na terra”. Depois da sua morte, ocorrências inteiramente surpreendentes começaram a produzir-se no mundo inteiro. Do vasto número delas assim relatadas, duas foram escolhidas para exame.

Ora, a Igreja Católica não tem interesse em examinar apenas fatos inusitados. Pessoas são curadas todo dia pela ciência médica, muitas vezes de maneira extraordinária. Novas drogas são descobertas, e não sabemos quantas mais o serão no futuro. O que sabemos perfeitamente é que, se sem qualquer tratamento médico pessoas são curadas de doenças incuráveis, então temos aí algo de cientificamente inexplicável.

Charles Anne, um jovem que estudava para o sacerdócio, tinha sido acometido de um sério caso de tuberculose pulmonar. O diagnóstico revelara cavidades nos pulmões, e o seu estado era desesperador. Então, em resposta a orações feitas a Sóror Teresa, em 1917 ele ficou súbita e completamente curado de toda essa doença.

Irmã Louise Gennaro, de Saint-Germain, foi vítima de uma severa úlcera gástrica. Também se restabeleceu instantânea e completamente, depois de rezar à “Florzinha de Lisieux”, como Sóror Teresa começava a ser conhecida.

Investigação profunda

Essas duas curas relatadas foram examinadas com toda a exação científica possível. Médicos foram citados e interrogados. O tribunal quis saber se aquelas pessoas estavam realmente doentes, ou se tinham apenas doenças imaginárias. Às vezes as pessoas são curadas de doenças mentais que têm uma reação física sobre elas, e a cura parece então extraordinária. Foi sabido que as doenças, nos dois casos citados, eram inegavelmente físicas – não havendo nelas nada de mental.

A própria natureza, em certas crises de doença, produz restabelecimentos notáveis. Um homem que sofre de pneumonia chega a uma crise na sua doença. Se sobrevive, o seu restabelecimento pode ser inteiramente rápido. Daí haver a investigação, nos dois casos em questão, considerado se as doenças eram de tal natureza que se devesse esperar um rápido restabelecimento. Obviamente não eram tais: tuberculose e úlceras não são doenças críticas.

Mas talvez as curas tivessem sido devidas aos tratamentos que as pessoas receberam. Talvez o médico tivesse feito alguma coisa, possivelmente mesmo alguma coisa inteiramente errada, e o resultado teria sido então produzir uma cura onde o tratamento aprovado poderia não ter dado resultado de que o paciente não tenha usado tratamentos, para que tal suspeita não ocorra. Nos casos em questão, verificou-se que não fora empregado nenhum tratamento médico que pudesse ter afetado o desfecho.

Evidência de curas

Finalmente, as curas foram súbitas. Muitas vezes as pessoas se restabelecem de úlceras, mas só depois de uma longa série de tratamentos. Sóror Louise foi curada instantaneamente. Para tuberculose adiantada não há cura completa. Contudo, Charles Anne foi completamente restituído à saúde.

Eles não haviam experimentado um súbito surto de entusiasmo religioso e pensado estar curados, somente para mais tarde perceberem que a velha doença ainda estava neles. Isto muitas vezes tem ocorrido em “curas de fé” e quejandas. Os médicos então familiarizados com a espécie de paciente que pode imaginar doenças quando está bom e imaginar curas quando está doente. Mas o tempo desmente esses tais. Os de que tratamos foram curados e ficaram curados. Cinco anos decorreram entre as curas em 1917 e a decisão final em 1923.

Finalmente, outra investigação foi feita sobre a honra que estava sendo tributada a Sóror Teresa, para se ter certeza de que, mesmo então, ninguém se antecipava à decisão da Igreja.

Todas essas matérias foram séria e minuciosamente consideradas pelas mais altas autoridades em Roma. Três reuniões de Cardeais foram efetuadas e os seus votos tomados. Finalmente, a 19 de março de 1923 chegou-se à decisão de que o Papa podia com segurança proceder à beatificação de Sóror Teresa. O próprio Papa então tomou se partido, e decretou que se efetuasse a 29 de abril de 1923 a cerimônia da beatificação.

A beatificação é um pronunciamento, pelo Papa, de que podem ser prestadas honras religiosas a um servo de Deus por alguma diocese particular ou alguma organização religiosa. Fundamentalmente, ela é uma questão de administração. Não autoriza uma pessoa a ser chamada santa, nem envolve o poder de ensinar sem erro que o Papa possui.

O passo final é chamado canonização. Por ele a pessoa designada é, oficialmente e sem qualquer possibilidade de erro, declarada estar no céu, e é também declarado seguro para todos o seguir o exemplo dele ou dela. Ao mesmo tempo é possibilitada uma veneração mundial ao novo santo.

A finalidade do duplo passo da beatificação e canonização é conceder tempo para que ocorra qualquer possibilidade de erro (é claro como seria improvável tal coisa), e aguardar novos sinais de Deus na forma de milagres, para provar que a pessoa beatificada está realmente gozando a visão de Deus no céu.

“A Florzinha” de Lisieux

As investigações no caso de Santa Teresinha foram relativamente simples. Dois milagres, dos numerosos oferecidos, foram examinados e provados. Uma senhora belga chamada Maria Pellemans foi curada de tuberculose pulmonar e intestinal enquanto, em estado quase moribundo, se ajoelhava em oração junto ao túmulo da Florzinha. Em Parma, na Itália, uma freira chamada Gabriella Trimusi foi curada de reumatismo e de tuberculose complicados com curvatura da espinha que a obrigava a usar um colete de ferro. As investigações foram completadas, pela Congregação de Cardeais designada para o caso, em 29 de março de 1925.

No Domingo 17 de maio de 1925, o Papa Pio XI solenemente declarava que Sóror Teresa do Menino Jesus, conhecida como a Florzinha de Lisieux, era uma santa da Igreja Católica.

O processo delineado no caso da Florzinha de Lisieux pode parecer excessivamente complicado e fastidioso. Para os que levam longos messes colhendo provas e pesando-as, muito mais deve ele ter parecido tal. Lembremo-nos, porém, de que a causa de canonização da Florzinha de Lisieux foi excepcional. Nenhum santo, nos tempos modernos, teve o seu processo concluído em breve vinte e oito anos.

Sobrenatural

Quando tudo isso tinha sido finalmente realizado, a Igreja Católica estava certa de que Santa Teresinha levara realmente uma vida tão extraordinariamente santa, que era inexplicável sobre quaisquer fundamentos de caráter ou de circunstância.

Não havia dúvida de que ela era uma mulher de gênio. O seu gênio foi no sentido de recobrar a glória da infância. Uma criança não cuida de grandes empreendimentos ou feitos; as pequenas coisas da terra é que lhe dão alegria. Uma criança pode brincar com um cachorrinho durante horas, porque vê a glória e a maravilha desse animalzinho.

Como o mostra a sua autobiografia, Santa Teresinha tinha um entusiasmo inteiramente notável por todas as coisas pequenas da terra. A sua imaginação era viva e alegre; só os seus desejos é que eram de grandeza.

Tudo isto era natural. A Igreja não a canonizou por capacidade natural. O que nela era sobrenatural era o modo como ela aplicava todo esse gênio natural a um fim sobrenatural. Cedo ela decidiu que devia ser santa; nada menos a satisfaria.

Porém ela sentia que não poderia ser uma santa que fizesse maravilhas por Deus neste mundo. Procurou alguma pequena trilha para se fazer santa, e achou-a Cristo dissera: “Se não vos fizerdes como as criancinhas, não entrareis no reino dos céus”. E Teresinha achou a sua trilha para o Céu como uma criancinha.

Ora, a marca da infância é o completo abandono à mãe e ao pai. Uma criança tudo espera deles: Santa Teresinha tudo esperou de Deus, abandonando-se completamente à vontade e aos caminhos dele. Quando os seus acariciados planos para entrar no convento foram contrariados, ela se dispôs a aceitar essa decisão. Quando se achou vivendo no convento com mulheres cujas pequenas faltas lhe sacudiam os nervos, de bom grado aceitou isto, e era muito afável para com aquelas de que menos gostava. Dela nunca saiu uma palavra de queixa.

Os deveres que lhe eram designados no convento eram muito simples – varrer, espanar, lavar roupa e assim por diante. Teresa eram consumida pela ideia de salvar almas. Mas compreendeu que a trilha de Deus devia ser a sua trilha, e obedecia com uma boa-vontade tão completa e feliz, que parecia não ter vontade própria.

Tinha uma humildade simplesmente espantosa. Essa humildade era composta de uma clara intuição de criança sobre a sua própria dignidade, e de um juízo maduro de que nada do que ela era vinha de si mesma; tudo vinha de Deus. Quando estava morrendo, disse que iria para o céu e de lá faria cair uma chuva de rosas, em forma de favores, sobre a terra. Para Teresinha isto era simplesmente a verdade, e não adiantava escondê-lo. Todo o tempo ela creu que era absolutamente nada, que Deus é quem fazia tudo por meio dela. Quando se lê a sua autobiografia e a sua vida, vem-se a conhecer o que é santidade heroica. Não é uma mera mostra de bondade; é uma manifestação daquela santidade que só de Deus vem.

Sobre Prof. Felipe Aquino

O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.
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