Revista: “PERGUNTE E RESPONDEREMOS”
D. Estevão Bettencourt, osb
Nº 307 – Ano 1987 – p. 529
(1Cor 16,22)
A grande novidade do Cristianismo consiste na Boa-Nova de que Deus vem ao homem antes que o homem tente ir a Deus. Esta notícia marca toda a Revelação bíblica, que fala frequentemente da visita de Deus, a fim de atender aos anseios de vida que o próprio Criador colocou no coração do homem. Os escritos do Novo Testamento assinalam com alegria a vinda do Senhor na pessoa do Messias: “Bendito seja o Senhor, o Deus de Israel, porque visitou o seu povo e o libertou” (Lc 1, 68). Todavia o evangelista verifica em tom de tristeza: “Veio para o que era seu, e os seus não o receberam” (Jo 1,11). Apesar de tudo, o Senhor continua a oferecer a sua presença a todo homem que tenha a delicadeza de ouvir a sua voz: “Eis que estou à porta e bato. Se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa, e cearei com ele” (Ap 3,20). O pulsar do Senhor é suave e não se impõe. Daí a exortação à vigilância, repetidamente formulada por Jesus: “Vigiai, porque não sabeis em que dia vem o vosso Senhor” (Mt 24,42; 25, 1-13).
Vigiar significa renunciar ao sono da noite ou, metaforicamente, lutar contra o torpor espiritual e a negligência, estar em alerta como se cada dia fosse o último da vida do indivíduo na Terra. O Senhor pode demorar – o que suscita cansaço no cristão, como o suscitou nas dez virgens da parábola (Mt 25, 1-13); mas o discípulo de Cristo não se deixa vencer pelo desânimo; ele crê que a história é regida por um sábio desígnio do Senhor e, por isto, reaviva constantemente a chama da sua fé e da sua esperança. “Aquele que dá testemunho destas coisas, diz: “Sim, eu venho em breve!” – “Amém. Vem, Senhor Jesus (Marana tha)!” (Ap 22,20; cf. 1Cor 16,22).
São estas algumas ideias que ocorrem à mente do cristão no fim de mais um ano, quando a Igreja celebra o Advento e o Natal de Jesus. O presépio é um ponto de chegada e um ponto de partida; sim, pôs termo à expectativa dos Patriarcas e Profetas, e veio aguçar nos cristãos o desejo da plenitude. Aliás, desta já temos um penhor seguro nos sacramentos, sinais que se podem tornar cada vez mais transparentes para os valores eternos presentes no tempo. É hoje e aqui que o cristão começa a desfrutar a graça de Deus, ciente de que a cada momento podem cair os véus que lhe encobrem a Face da beleza Infinita!