Jubileu das Famílias (Parte 2)

Lógica do dom
Quando no matrimônio, o homem e a mulher se dão e se recebem reciprocamente na união de uma só carne, a lógica do dom sincero entra na vida deles. Sem ela, o matrimônio seria vazio, enquanto a comunhão das pessoas, edificada sobre tal lógica, se torna comunhão dos pais. Quando transmitem a vida ao filho, um novo tu humano se insere na órbita do nós dos cônjuges, uma pessoa que eles chamarão com um nome novo: nosso filho…; nossa filha…. Gerei um homem com o auxílio do Senhor (Gên 4,1), diz Eva, a primeira mulher da história: um ser humano, primeiramente esperado durante nove meses e manifestado aos pais, aos irmãos e às irmãs. O processo da concepção e do desenvolvimento no ventre materno, do parto, do nascimento serve para criar como que um espaço adequado, para que a nova criatura possa manifestarse como dom: pois tal é ela desde o princípio.
Poder-se-ia, porventura, qualificar de outro modo este ser frágil e indefeso, dependente em tudo de seus pais e completamente confiado a eles? O recém nascido dá-se aos pais pelo fato mesmo de vir à existência. O seu existir é já um dom, o primeiro dom do Criador à criatura. O filho não é um direito dos pais O filho não é algo devido, mas um dom. O dom mais excelente do matrimônio é uma pessoa humana. O filho não pode ser considerado como objeto de propriedade, a que conduziria o reconhecimento de um pretenso «direito ao filho». Nesse campo somente o filho possui verdadeiros direitos: o de ser o fruto do ato específico do amor conjugal de seus pais, e também o direito de ser respeitado como pessoa desde o momento de sua concepção. Portanto além de rechaçar a fecundação artificial heteróloga, a Igreja permanece contrária, do ponto de vista moral, à fecundação artificial homóloga, ou seja, entre os próprios cônjuges; esta é, em si mesma, ilícita e contrária à dignidade da procriação e da união conjugal, mesmo quando se tomam todas as providências para evitar a morte do embrião humano.

Reflexões do sacerdote ou do dirigente
Diálogo
Por que o único lugar digno para gerar uma pessoa humana é o ato conjugal?
Como os filhos enriquecem o bem dos pais?
Qual é a diferença entre ser concebido de modo natural e ser um produto, como um objeto?
Existe algum direito da criança a esse respeito?
Ave Maria, cheia de graça…; Rainha da Família, rogai por nós!
Oração da Evangelium Vitae Canto Final

3. A dignidade sublime da criança
Canto inicial
Oração do Pai Nosso
Leitura Bíblica
No sexto mês, o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galiléea, chamada Nazaré, a uma virgem desposada com um varão chamado José, da casa de Davi; e o nome da virgem era Maria… Entrando onde ela estava, disse-lhe: ‘Eis que conceberás no teu seio e darás à luz um filho, e tu o chamarás com o nome de Jesus (…)’. Maria, porém, disse ao anjo: ‘Como é que vai ser isso, se eu não conheço homem algum?’ O anjo lhe respondeu: ‘O Espírito Santo virá sobre ti e o poder do Altíssimo te cobrirá com sua sombra (…)’. Disse, então, Maria: ‘Eu sou a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra!’ E o anjo a deixou (Lc 1,26 ss).

Reflexão
O mistério da pessoa humana
O mistério do homem só se torna claro verdadeiramente no mistério do Verbo encarnado. Cristo, o novo Adão, na mesma revelação do mistério do Pai e de seu amor, manifesta plenamente o homem ao próprio homem e lhe descobre a sua altíssima vocação. É, com efeito, a única criatura sobre a terra a ser querida por Deus por si mesma. A origem do homem não obedece apenas às leis da biologia, mas sim e diretamente à vontade criadora de Deus: é a esta vontade que se deve a genealogia dos filhos e filhas das famílias humanas. Deus quis o homem desde o princípio – e Deus o quer em cada concepção e nascimento humano.
Deus quer o homem como um ser semelhante a si, como pessoa. Este homem, cada homem, é criado por Deus por si mesmo. Isto aplica-se a todos, incluindo aqueles que nascem com doenças ou deficiências. Na constituição pessoal de cada um, está inscrita a vontade de Deus, que quer o homem.
Os pais, diante de um novo ser humano, têm, ou deveriam ter, plena conciência do fato que Deus quer este homem por si mesmo. Esta sintética expressão é muito rica e profunda. Desde o momento da concepção, e, depois, do nascimento, o novo ser está destinado a exprimir em plenitude a sua humanidade  a encontrar-se como pessoa.
Isto diz respeito absolutamente a todos, também aos doentes crônicos e deficientes. Ser homem é sua vocação fundamental: ser homem à medida do dom recebido. À medida daquele talento que é a própria humanidade e, só depois, à medida dos outros talentos. Mas, no desígnio de Deus, a vocação da pessoa humana ultrapassa os confins do tempo. Vai ao encontro da vontade do Pai revelada no Verbo encarnado: Deus quer oferecer ao homem a participação na sua própria vida divina. Por isso Cristo diz: Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância (Jo 10,10).
Valor sagrado da vida A pessoa humana é chamada a uma plenitude de vida que se estende para muito além das dimensões da sua existência terrena, porque consiste na participação da própria vida de Deus. A sublimidade dessa vocação sobrenatural revela a grandeza e o valor precioso da vida humana, inclusive já na sua
fase temporal. Com efeito, a vida temporal é condição basilar, momento inicial e parte integrante de todo o processo global e unitário da existência humana: um processo que, para além de toda expectativa e merecimento, é iluminado pela promessa e renovado pelo dom da vida divina, que alcançará a sua plena realização na eternidade (cf. 1Jo 3,12). Reflexões do sacerdote ou do dirigente Diálogo Por que a vida é sagrada e inviolável? Somos donos de nós mesmos?
Por que cada criança é um dom para cada um dos membros da família e para toda a sociedade?
Compromissos
Ave Maria, cheia de graça…; Rainha da Família, rogai por nós!
Oração da Evangelium Vitae Canto Final

4. Paternidadematernidade, participação na criação
Canto inicial
Oração do Pai Nosso
Leitura Bíblica
Yahweh Deus disse: ‘Não é bom que o homem esteja só. Vou fazer uma auxiliar que lhe corresponda…’. Da costela que tirara do homem, Yahweh Deus modelou uma mulher e a trouxe ao homem. Então o homem exclamou: ‘Esta sim, é osso de meus ossos e carne de minha carne! Ela será chamada mulher, porque foi tirada o homem!’ (Gn 2,18.2223).

Reflexão
imagem e semelhança
O matrimônio e o amor conjugal por sua própria índole se ordenam à procriação e educação dos filhos. Aliás, os filhos são o dom mais excelente do matrimônio e constituem um benefício máximo para os próprios pais. Deus mesmo disse: Não convém ao homem ficar sozinho (Gên 2,18), e criou de início o homem como varão e mulher (Mt 19,4), querendo conferir ao homem uma participação especial em sua obra criadora, abençoou o varão e a mulher dizendo: crescei e multiplicai-vos (Gên 1,28). Assim pois, os cônjuges sabem que são cooperadores do amor de Deus Criador e como que seus intérpretes. Tal colaboração não se refere apenas às leis da biologia; mas pretende sobretudo sublinhar que, na paternidade e maternidade humana, o próprio Deus está presente de um modo diverso do que se verifica em qualquer outra geração sobre a terra.
Efetivamente, só de Deus pode vir aquela imagem e semelhança, que é própria do ser humano, tal como aconteceu na criação. A geração é a continuação da criação.
Colaboradores de Deus Trata-se pois de uma certa participação da pessoa humana no domínio de Deus que manifiesta também a específica responsabilidade que lhe está confiada no referente à vida propriamente humana. Essa responsabilidade atinge o auge na doação da vida através da geração por obra do homem e da mulher no matrimônio.
Ao falar de uma participação especial do homem e da mulher na obra criadora de Deus, o Concílio Vaticano II pretende pôr em relevo como a geração do filho é um fato não só profundamente humano mas também altamente religioso, enquanto implica os cônjuges, que formam uma só carne (Gên 2, 24), e simultaneamente o próprio Deus que se faz presente. Precisamente nesse papel de colaboradores de Deus, que transmite a sua imagem à nova criatura, está a grandeza dos cônjuges, dispostos a colaborar com o amor do Criador e Salvador, que por meio deles aumenta cada dia mais e enriquece a sua família. Assim o homem e a mulher, unidos pelo matrimônio estão associados a uma obra divina: por meio do ato da geração, o dom de Deus é acolhido, e uma nova vida se abre ao futuro. Mas, uma vez realçada a missão específica dos pais, há que acrescentar: a obrigação de acolher e servir à vida compete a todos e deve manifestarse sobretudo a favor da vida que está em condições de maior fragilidade. Aquilo que for feito a cada um deles é feito ao próprio Cristo (cf. Mt 25,3146).

Reflexões do sacerdote ou do dirigente
Diálogo
O que quer dizer ser colaboradores de Deus? Há uma responsabilidade própria dos pais?
Qual é ela?
Além dos pais, quem mais participa dessa responsabilidade?
Compromissos
Ave Maria, cheia de graça…; Rainha da Família, rogai por nós! Oração da Evangelium Vitae Canto Final

5. A responsabilidade em transmitir a vida e proteger as crianças
Canto inicial
Oração do Pai Nosso
Leitura Bíblica
Deus criou o ser humano à sua imagem, à imagem de Deus o criou, homem e mulher Ele os criou. E Deus os abençoou e disse: ‘Sede fecundos, multiplicai-vos e enchei a terra’ (Gn 1,2728a).

Reflexão
O dever de transmitir a vida e educá-la é a missão própria dos esposos. Deus, o Senhor da vida, confiou aos homens o nobre encargo de preservar a vida e protegê-la com o máximo cuidado desde a concepção. A sexualidade própria do ser humano e a faculdade humana de gerar excedem maravilhosamente o que se encontra nos graus inferiores de vida. Estejam todos certos de que a vida dos humana e a missão de a transmitir e educar os filhos não se confinam ao tempo presente, mas estão sempre relacionadas com a destinação eterna dos homens.
Ser pai e mãe
A paternidade e maternidade responsável exprimem o compromisso concreto de atuar esse dever, que, no mundo contemporâneo, reveste novas características. De modo particular, paternidade e maternidade responsável referem-se diretamente ao momento em que o homem e a mulher, unindo-se numa só carne, podem tornar-se pais. É momento impregnado de um valor peculiar, quer pela sua relação interpessoal quer pelo serviço à vida: eles podem se tornar progenitores  pai e mãe , comunicando a vida a um novo ser humano. As duas dimensões do ato conjugal, a unitiva e a procriativa, não podem ser separadas artificialmente sem atentar contra a verdade íntima do próprio ato conjugal.

O Concílio Vaticano II, particularmente atento ao problema da pessoa humana e da sua vocação, afirma que a união conjugal referida na Bíblia pela expressão uma só carne pode ser compreendida e explicada plenamente apenas recorrendo aos valores da pessoa e do dom. Cada homem e cada mulher realizam-se em plenitude mediante o dom sincero de si e, no caso dos esposos, o momento da união conjugal constitui uma experiência muito particular disso mesmo. É então que o homem e a mulher, na verdade da sua masculinidade e feminilidade, se tornam dom recíproco. Toda a vida no matrimônio é dom; mas isso torna-se de modo particular evidente quando os cônjuges, oferecendo-se reciprocamente no amor, realizam aquele encontro que faz dos dois uma só carne (Gn 2,24).
Momento de especial responsabilidade Eles vivem então um momento de especial responsabilidade, também em razão da potencialidade procriadora conexa com o ato conjugal. Os esposos podem, naquele momento, tornar-se pai e mãe, dando início ao processo de uma nova vida humana, que depois se desenvolverá na ventre materno.
Se a mulher é a primeira que se dá conta de ter-se tornado mãe, o homem com quem se uniu em uma só carne toma consciência, por sua vez e através do testemunho dela, de terse tornado pai. A pessoa não pode deixar de reconhecer ou não aceitar o resultado de uma decisão que foi também sua. Como poderia o homem não se sentir comprometido nesse ato? Impõe-se que ambos, o homem e a mulher, assumam conjuntamente, perante si mesmos e os outros, a responsabilidade da nova vida por eles suscitada.

Sobre Prof. Felipe Aquino

O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.
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