«Jesus de Nazaré»: Um Papa em luta pela credibilidade do cristianismo

Obra central do teólogo Joseph Ratzinger, hoje Bento XVI, cruza
história e fé, tentando apresentar um Cristo «real» e convincente para
pessoas de todos os temposLisboa, 10 Mar (Ecclesia) – O novo livro de Joseph Ratzinger, Bento
XVI, sobre «Jesus de Nazaré» é uma obra central do trabalho do teólogo e
intelectual alemão, que se empenha numa luta pela credibilidade
religiosa e histórica do cristianismo.
O volume, hoje publicado, é o segundo de uma trilogia prometida pelo
Papa e aborda os momentos da morte e da ressurreição de Jesus, tema este
que o próprio considera como “ponto decisivo” da sua investigação.
“Que Jesus tenha existido só no passado ou, pelo contrário, exista também no presente depende da ressurreição”, afirma.
No capítulo da obra dedicado à «ressurreição de Jesus da morte»,
Bento XVI refere que a mesma “ultrapassa a história, mas deixou o seu
rasto na história”.
“Se se pudesse de modo verdadeiramente científico demonstrar que é
impossível a historicidade das palavras e dos acontecimentos essenciais,
a fé perderia o seu fundamento”, observa.
Para Joseph Ratzinger, no entanto, a história não basta: “Se a
certeza da fé se baseasse exclusivamente numa certificação
histórico-científica continuaria a ser sempre passível de revisão”.
«Jesus de Nazaré. Da Entrada em Jerusalém até à Ressurreição»
desenrola-se em nove capítulos, mostrando, segundo o Papa, as palavras e
acontecimentos decisivos da vida de Cristo.
Bento XVI apresenta um Deus que sofre e um homem em luta contra o
poder da sua época, que o condenaria à morte – uma decisão que o Papa
coloca sobre os ombros da “aristocracia do templo” de Jerusalém e não
sobre o povo judeu, no seu todo.
O Cristo de Joseph Ratzinger não é um revolucionário político ou um
“simples reformador que defende os preceitos judaicos”, menos ainda “uma
personalidade religiosa falhada”, como o próprio definiria Jesus de
Nazaré, caso este não tivesse ressuscitado.
À imagem do que fizera em 2007, no primeiro volume desta obra de
reflexão bíblica e teológica, Bento XVI centra-se na figura de Cristo
que é apresentada pelos Evangelhos canónicos (Marcos, Mateus, Lucas e
João), considerando estes livros como as principais fontes credíveis
para chegar ao Jesus “real”.
“Entrar nas numerosas e justíssimas questões específicas relativas a
cada detalhe de palavra e de história não é função deste livro, que
procura conhecer a figura de Jesus deixando aos especialistas os
problemas particulares, mas, certamente não podemos dispensar-nos de
enfrentar a questão da efectiva historicidade dos acontecimentos
essenciais”, escreve.
Neste sentido, Joseph Ratzinger sustenta que a “fé bíblica não narra
histórias como símbolos de verdades meta-históricas, mas funda-se na
história que aconteceu sobre a superfície desta Terra”.
Esta verificabilidade histórica alarga-se ao início da “própria
Igreja”, que o Papa coloca nos gestos da instituição da Eucaristia e do
lava-pés, realizados por Jesus na véspera da sua morte, segundo os
Evangelhos.
Bento XVI afirma que a Igreja primitiva “encontrou (não inventou!)” [sic] elementos
fundamentais para a sua unidade: a «sucessão apostólica», o “Cânone da
Escritura” e o chamado “Símbolo da Fé” ou Credo.
O novo livro do Papa é publicado em sete línguas, incluindo o
português, com uma primeira tiragem de 1,2 milhões de exemplares, 20 mil
dos quais em Portugal, anunciou o director da Editora do Vaticano,
padre Giuseppe Costa, em entrevista ao jornal «L’Osservatore Romano».
(A Agência ECCLESIA criou uma secção especial com
todas as notícias e comentários à obra «Jesus de Nazaré. Da Entrada em
Jerusalém até à Ressurreição»: http://agencia.ecclesia.pt/jesusnazareii)

Por Octávio Carmo, da Agência Ecclesia

Sobre Prof. Felipe Aquino

O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.
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