“Jesus de Nazaré”: da caneta do Papa ao e-book

Entrevista com o editor de Bento XVI

Por Giulia Galeotti

CIDADE DO VATICANO, quarta-feira, 16 de março de 2011 (ZENIT.org) – Sete edições iniciais, com um total de 1.200.000 exemplares e contratos assinados com 22 editoras no mundo inteiro. São os números do livro de Bento XVI, “Jesus de Nazaré. Da entrada em Jerusalém até a Ressurreição”.

O volume foi apresentado no dia 10 de março, na Sala de Imprensa da Santa Sé. Sobre sua gênese, as vicissitudes que acompanharam a execução e, especialmente, a operação editorial que está na sua base, ‘L’Osservatore Romano’ entrevistou o padre salesiano Giuseppe Costa, diretor da ‘Libreria Editrice Vaticana’ (LEV).

ZENIT: Em janeiro, você previa a publicação do volume para março: perfeitamente a tempo. Por mérito de quem?

Giuseppe Costa: O mérito é um pouco de todos, mas acima de tudo do autor, que o entregou a tempo. Seguiu-se então um longo processo de tradução para vários idiomas, e desde fevereiro foi feita a impressão e houve uma organização que realmente exigiu muito esforço.

ZENIT: Qual foi a história do livro?

Giuseppe Costa: Há quase um ano e meio, o Pe. Georg Gänswein [secretário do Papa, N. da R.], entregou-me a cópia eletrônica em um ‘memory stick’ e impresso em papel. O Papa tinha terminado o texto, a lápis, com a sua caligrafia pequena e, em seguida, como sempre, Birgit Wansing o passou ao computador.

ZENIT: Na Itália, o primeiro volume foi publicado pela ‘Rizzoli’, enquanto o presente, pela LEV: uma notável mudança.

Giuseppe Costa: Certamente que sim. O livro, impresso pela imprensa vaticana, é distribuído pela RCS, que, com sua excelente organização, garantiu a distribuição de 300 mil exemplares em três dias.

ZENIT: O assunto da tradução não deve ser nada fácil.

Giuseppe Costa: Em italiano, especialmente, não foi fácil, porque, nestas décadas, os livros de Joseph Ratzinger foram traduzidos por diversas mãos: o desafio foi encontrar certa homogeneidade da linguagem. É preciso evitar também o risco de que a tradução a várias línguas não conserve ou traia o pensamento do autor. A fidelidade ao original foi assegurada com atenção e cuidado, graças aos tradutores da Secretaria de Estado.

ZENIT: Com o primeiro volume, houve problemas de tradução?

Giuseppe Costa: Sim. Por exemplo, a tradução chinesa não era impecável, e outras não respondiam à linguagem teológica.

ZENIT: Foram acrescentadas mais solicitações para traduções com relação ao primeiro volume?

Giuseppe Costa: Sim, o interesse é superior e, portanto, o número de editores cresceu. E nós estamos apenas no começo: assinamos contratos com 22 editoras no mundo inteiro e estamos negociando com outras.

ZENIT: Como os editores são escolhidos?

Giuseppe Costa: Quando se sabe que o Papa está escrevendo um livro, chegam pedidos de vários países, então os editores no final são apenas uma parte dos que haviam solicitado. Nos EUA, por exemplo, ‘Ignatius Press’ nos pareceu a mais adequada, ainda que tenha havido pedidos de editoras importantes, como a ‘Doubleday’ e ‘Our Sunday Visitor’. Para a edição francesa, escolhemos ‘Parole et Silence’, uma editora em crescimento, muito comprometida com a difusão do magistério papal; e, na Espanha, ‘Encuentro’.

ZENIT: A mudança foi completa…

Giuseppe Costa: Quase completa: nem todos os editores do primeiro volume imprimiram também o segundo. A escolha é baseada em vários critérios: a seriedade editorial e organizativa, certamente, mas também a confiabilidade; escolhemos editores capazes de promover não só um livro, mas também seu conteúdo.

ZENIT: Quais são os números previstos?

Giuseppe Costa: Em 10 de março, saíram sete edições: em alemão, italiano, inglês, francês, espanhol, português e polonês, com um total de 1.200.000 cópias. A edição alemã saiu com 150 mil cópias, mas ‘Herder’ adicionou 50 mil e está pronta para outras impressões. A edição italiana já está distribuída, com 300 mil exemplares, e estamos reimprimindo outros 100 mil. Já na França, estão prontas outras 100 mil cópias; Portugal começou com 20 mil. No final de março, chegará a edição croata.

ZENIT: Há planos também para o e-book?

Giuseppe Costa: Sim, e em algumas línguas também está disponível para o primeiro volume.

ZENIT: E para o futuro?

Giuseppe Costa: No prefácio deste livro, o próprio Papa anuncia uma terceira parte, dedicada aos Evangelhos da infância. E a LEV prevê uma edição única dos três volumes. Acreditamos que este novo livro de Bento XVI será um ‘long seller’. Como tal, será devidamente promovido através de apresentações, encontros e outras iniciativas.

ZENIT: O volume está dedicado aos últimos dias da vida de Jesus. O lançamento na proximidade da Páscoa é uma coincidência?

Giuseppe Costa: Não, este é, sem dúvida, o melhor período. Poderia ter sido publicado antes, mas em novembro saiu o livro-entrevista.

ZENIT: Bento XVI é certamente uma assinatura que não exige muita publicidade…

Giuseppe Costa: Não somente isso, mas, como editor, devo dizer que o Papa fez a LEV crescer, porque tivemos de adaptar infraestruturas e organização, demonstrando capacidades que não tínhamos antes. Obviamente, o Papa nos incentiva também no campo cultural, para que proponhamos ensaios nos quais seus trabalhos e livros possam ser comentados, para a divulgação do seu magistério ao público em geral.

ZENIT: Não há autores se não houver leitores; também no caso de Bento XVI?

Giuseppe Costa: É sempre fácil de ler o Papa, mesmo nas questões mais complexas. Bento XVI é um teólogo refinado, e às vezes também se aprofunda em questões que estão relacionadas com o método de pesquisa, mas quem está interessado na narrativa da fé, pela dimensão espiritual ou mesmo pela comunicação humana, sempre considera suas páginas muito compreensíveis. E cativantes.

Sobre Prof. Felipe Aquino

O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.
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