Introdução ao Apocalipse (Parte 2)

11. O Tema do Livro do Apocalipse
O Apocalipse foi escrito para falar de Jesus, não da Besta ou do Anticristo. Todo o livro do Apocalipse se destina a falar do triunfo efetivo e total do Cordeiro (a forma simbólica de referir-se a Jesus no Apocalipse). O centro e essência do livro é Cristo, não a Besta. O centro e essência do livro é a graça, não o pecado. O centro e essência do livro é a ressurreição, não a morte (nem a de Cristo nem a de ninguém). O centro e essência do livro é Cristo, não o diabo. O centro e essência do livro é o Reino de Deus (em Cristo), não o inferno ou a destruição. E o mais atraente no Apocalipse (em todo o Novo Testamento) éprecisamente que é Cristo Jesus quem no Apocalipse nos fala de Jesus, o Cristo (justamente para dar autoridade ou força à mensagem do livro, que só aparece uns 50 ou 60 anos depois da morte e ressurreição de Cristo).
O Apocalipse todo parte da ressurreição de Jesus Cristo. Se Jesus não tivesse ressuscitado, nos diz o Apocalipse, nossa fé seria uma mentira e nós, uns idiotas (ver 1 Cor 15), mas Jesus ressuscitou. Tudo, no Apocalipse, se projeta e se anima na esperança de sua “volta” gloriosa. Ele não é apenas “Aquele que era” e “Aquele que é”, mas também, e sobretudo, é “Aquele que virá”(Ap 4,8;1,4); Ele é o “Ômega” (Ap 22,13); Ele é “o último” (Ap 22,13); Ele é o fim de tudo (Ap 22,13); Ele é aquele cuja “vinda” imploram o Espírito e a Esposa (Ap 22,17;1,7-8). Toda esta acumulação de títulos para dizermos, o mais claramente possível, que o futuro, o verdadeiro futuro, o futuro definitivo, é de Jesus Cristo e tão-somente Dele.
Ao contrário do que ocorre nos Evangelhos, no livro do Apocalipse toda aatenção do escritor está voltada para o acontecimento decisivo da vida de Jesus: sua morte e ressurreição (o que o Evangelho de João chama “a hora”). Mas, nós cremos na ressurreição de Jesus Cristo? Cremos de verdade que ele “virá” como Senhor?, quer dizer: que a última palavra na vida dos seres humanos e do universo todo pertence a Deus, não ao dinheiro, ou ao poder, ou à violência, ou à injustiça, ou à morte, ou à ideologia, ou a um partido político?

12. Esquema geral do Apocalipse
O livro está dividido em duas grandes partes:
– Do capítulo 4 ao 11 revela “o Cordeiro”. Só o Cordeiro (o próprio Jesus) pode abrir o livro selado (ver Ap 5). Nada, pois, de revelações sobre o futuro trazidas por ninguém mais; só Cristo pode nos revelar o futuro porque sóEle é dono desse futuro. Só Cristo, só o Cordeiro pode iluminar todo o sentido do Antigo Testamento. E emprega-se a figura de um cordeiro para simbolizar queCristo não vem fazer mal a ninguém, que Ele pode apenas dar vida, não tomá-la ou destruí-la.
– Do capítulo 12 ao 22 revela-se o “filho do homem”, o homem de Deus, o homem no qual Deus reina plenamente, o homem no qual se nos revela o que é o Reino de Deus.

13. O Apocalipse é puro Evangelho, Pura Boa Nova
O Apocalipse pretende ser pura boa notícia, puro Eu-anguelion. O Apocalipse é um grande livro de esperança, já que celebra a vitória definitivado Cordeiro sobre a Besta, a vitória definitiva da vida sobre a morte, a vitória definitiva do amor sobre o ódio, sobre a violência e a perseguição (ver Ap5,12). O Apocalipse tem, como objetivo essencial, encorajar os crentes em meio asuas tribulações e exortá-los a não desanimarem, a perderem o medo, a seremperseverantes. O Apocalipse é, essencialmente, boa notícia cumulada de bem-aventuranças e aleluias (ver as 7 bem-aventuranças do Apocalipse: Ap 1,3;14,13; 16,15; 19,9; 20,6; 22,7; 22,14).
Para o Apocalipse, porque é pura boa nova, o fim, o definitivo, está nas mãos de Deus, não nas dos romanos, ou nas do império, ou nas do dinheiro, ou da violência, ou da morte, ou do poder atômico, ou da injustiça; não será essa uma boa notícia? E, além disso, o que Deus quer é a salvação da humanidade. O mundo, o universo, será transformado radicalmente até se converter em um mundo novo, em um mundo renovado segundo as concepções de Deus. E, assim, onde abundou o pecado, vai superabundar a graça (ver Ap 7,9-17; Rm 5,20). O Éden, o Paraíso, segundo o Apocalipse, não se encontra lá atrás, no passado, mas no futuro; o Reino efetivo de Deus está adiante, não atrás, ou fora, num mundo paralelo (ver Ap 22,2-5; Gn 1-4).

14. O Apocalipse é um Livro Litúrgico
Nele uma comunidade louva a Deus, o santo e onipotente, e associa Cristoa esse louvor. O povo, a comunidade que louva a Deus através de Cristo, é umacomunidade de sacerdotes (ver Ap 1, 6; 5,10; 20,6). Assim como há nele sete bem-aventuranças, há sete louvores: Ap 1,4-7; 5,9-10; 5,12; 5,13; 7,10; 11,15;19,6-7. Na mesma linha da Carta aos Hebreus e de 1 Pedro 2,9, o Apocalipse dizque Cristo é o único sacerdote e que, fazendo parte de seu corpo, todos os membros da comunidade, corpo de Cristo, todos são agora sacerdotes (ver Ap5,10). Por ser o Apocalipse um livro litúrgico, tudo nele ocorre em um só dia,que é, precisamente, um domingo, dia da ressurreição de Cristo (ver Ap 1,10).

15. Detalhes importantes a esclarecer
1. Como já mencionamos acima, tudo o que se diz no Apocalipse é para referência “direta” ao tempo em o que o livro foi escrito (ou seja: ao final do século I da era cristã). Para que não nos reste a menor dúvida, o autor repete isso duas vezes já nos três primeiros versículos do livro e o diz cinco vezes no capítulo final (ver Ap 22,6; 22,7; 22,10; 22,12; 22,20). Prova, além disso, desse mesmo fato é que todos os Apocalipses judaicos diziam coisas que tinham de cumprir-se no momento em que se estava publicando o livro e nunca faziam afirmações sobre futuros remotos no tempo; o Apocalipse de João não é nenhuma exceção nesse ponto.
2. O fato de as igrejas às quais se dirigem as sete cartas no início do livro serem apenas sete implica, precisamente pelo uso do número sete (sempre simbólico na mentalidade judaica), que a necessidade de crítica recaia sobre todas as comunidades cristãs, e que todas essas críticas possam dirigir-se a cada uma das igrejas do mundo. As expressões usadas nessas cartas significam o seguinte: só a Igreja que passe por esses sete filtros é uma Igreja perfeita, é uma Igreja como Cristo a quer. O relato segue um esquema bem claro: as igrejas pares nessa numeração de sete (a segunda, a quarta e a sexta) são elogiadas; as igrejas ímpares, e em ordem crescente (a primeira, a terceira, a quinta e a sétima) são qualificadas como negativas. Nesse esquema, a Igreja de Tiatira, muito pequena e de muito pouca importância na história da Igreja, é colocada numa posição de grande valor e em lugar central na avaliação feita pelo autor do Apocalipse. Não se chama a Igreja de Tiatira à conversão, ao invés disso, elogia-se seu amor, sua integridade, sua fé, sua entrega ao serviço, sua perseverança e outras boas obras. É na carta à Igreja de Tiatira que se dá a Cristo o título mais elevado ao falar de sua divindade (o título de “Filho de Deus”, ver Ap 2,18), título que só volta a aparecer, ainda assim apenas implicitamente, ao final da carta (ver Ap 2,28).
3. Os números, como sempre na Sagrada Escritura, são utilizados no Apocalipse com todo o seu sentido simbólico. Recordemos que, na mentalidade judaica, os números têm valor de letras, como todas as letras têm valor numérico. Por isso, pode-se encontrar o valor numérico (a cifra) de qualquer nome e, também, um número qualquer pode ser expresso em letras e, portanto, por um nome.
Na mentalidade judaica no tocante à Bíblia o sete é o número de Deus e, por isso, daquilo que é perfeito. O que se faz sete vezes está feito com perfeição (a prata mais pura, no Salmo 12,6 ou as sete petições no Pai Nosso que, de fato, é a repetição septenária do único pedido que se há de fazer: que venha a nós o vosso Reino).
O número doze significa, sempre, a totalidade do povo (as doze tribos). Dizer que tenha chamado os doze implica que tenha chamado todo o povo.
O número mil representava, em Israel, o incontável; como quando dizemos “já lhe disse isso mil vezes”.
O número três é o número de Deus (significa a santíssima Trindade: Pai, Filho e Espírito Santo); mostra quando se trata em repetir três vezes, ou menciona três coisas em seguida, significa o superlativo ou o mais perfeito (assim Santo, Santo, Santo significa totalmente Santo);
O número três quando se trata de três e meio (a metade de sete), representa, a partir do livro de Daniel, a duração de qualquer tipo de perseguição (por exemplo em Lc 4,25, ou em Tg 5,17). Esses três tempos e meio aparecem como três meses e meio, como três anos e meio, como 42 meses, como 1.260 dias etc. Aludem sempre a feitos históricos que eles, os redatores, vivenciaram. Por exemplo: Nero desapareceu de Roma por três meses e meio e, em seguida, reapareceu para mandar matar aqueles que se haviam alegrado com seu desaparecimento.
O número seis (não consegue nunca chegar a sete) emprega-se sempre que se quer aludir a alguém que pretendia ser considerado como Deus, sem sê-lo.
O número quatro é usado sempre que se quer aludir ao universo inteiro, uma vez que tem a ver com as quatro direções do cosmos.
O número dez se usa para tudo aquilo que pode ser contado, mas se acaba, e deve ser aprendido de memória (naturalmente, tem a ver com o que se pode enumerar com os dedos das mãos).
Mais adiante falaremos de dois números muito importantes: o 666 e o número dos 144.000 salvos.
4. O Apocalipse, como todos os livros escritos segundo o gênero literário apocalíptico, é um livro escrito durante uma perseguição contra pessoas de mentalidade judaica, por isso está cheio de símbolos. Esses símbolos só eram claramente compreensíveis para o judeu iniciado nos “mistérios” cristãos. Que poderia revelar a um soldado romano a expressão “o cordeiro triunfará sobre a besta”? Mas um cristão, que tivesse participado das reuniões clandestinas da comunidade, entenderia perfeitamente que o que se queria dizer era que Cristo acabaria triunfando sobre o império romano e seu representante oficial, o imperador. Precisamente porque o Apocalipse tinha um sentido político muito forte, falava continuamente através de expressões simbólicas. E assim haviam feito sempre todos os livros apocalípticos judaicos.
No Apocalipse trata-se de descrever o indescritível e, para isso usam-se imagens já utilizadas pelo povo judeu e outras imagens conhecidas usadas pelos pagãos, mas com um sentido novo, com um sentido cristão. As imagens do Apocalipse eram perfeitamente compreensíveis para judeus que haviam lido os livros de Jeremias, Ezequiel, Daniel, Joel ou Isaías. Para descrever o indescritível usam-se até mesmo símbolos da astrologia ou da mitologia pagã.   
5. Todas as aparições relatadas no Apocalipse têm exatamente o mesmo sentido que tem toda aparição no Novo Testamento: justificar e autorizar uma missão ou apostolado de alguém. A aparição bíblica nunca tem sentido em si mesma, tem sempre uma função. Por isso, em todas essas aparições o relator não dá importância ao como, mas à finalidade da aparição (contra todo o nosso sensacionalismo e “milagreirismo” atual).
6. Observemos que, no Apocalipse, sempre se diz que Cristo vem, não que nós tenhamos de ir a algum lugar. Não se diz que nós vamos para o céu, mas sim que o céu (ou seja “Deus”) tem de vir aqui. É este mundo, diz o Apocalipse, o que tem de se converter plenamente no Reino de Deus, num mundo como Deus o quer, num mundo em que reine visivelmente o amor (Deus), não o dinheiro, ou o poder, ou a morte, ou a injustiça, ou a enfermidade, ou a dor. “Ele vem” significa o mesmo que “venha a nós o vosso Reino” ou a jaculatória contínua dos leitores do Apocalipse: “Maranatha”: vem, Senhor.
7. Observemos, também, a repetição da expressão “não temas” no início das revelações (em Ap 1,17). Toda manifestação/revelação de Deus (ou seja: toda “teofania”) começa por afastar o temor. E assim acontece no Evangelho cada vez que há uma revelação/manifestação de Deus (ver Mt 1,20; 14,27; 17,7; 28,5; Mc 4,40; 6,50; 16,6; Lc 1,13; 1,30; 2,10; Jo 6,20). Se o Novo Testamento revela algo é a proximidade de Deus conosco através da encarnação, e que essa proximidade é salvadora; se Deus se aproxima do homem é para salvá-lo, é por amor. Se Deus é amor, e o amor expulsa o temor (ver 1Jo 4,18), toda manifestação de Deus traz a paz e afasta o temor.
8. Marcar com um selo ou tatuar sobre a pele o nome do dono era coisa muito comum na época em que foi escrito o Apocalipse. Entre os cristãos se dizia “marcar com o selo” ao ato de fazer o sinal da cruz sobre a fronte do catecúmeno no dia de seu batismo/confirmação. Também se chamava “o selo” ao Espírito Santo que vinha sobre o cristão e o possuía para sempre no momento de seu batismo/confirmação. Como contraposição se diz, no Apocalipse, que há gente que, em vez de levar o selo de Cristo, leva a marca da Besta, pois pertencem a ela e a ela servem; em vez de pertencer ao Reino de Deus, se orgulham de pertencer ao reino da Besta, ao império romano, e servem precisamente a quem persegue a Cristo e a seus servidores (ver Ap 7,2-17; 9,4; 13,16-18).
9. Para quem está a par do que significam as imagens e símbolos do Apocalipse, o número de 144.000 salvos (ver Ap 14,1-5; 7,2-17) não pode ser mais claro. Trata-se de doze vezes doze vezes mil, isto é: o povo inteiro, de todos os povos da terra, até tornar-se uma multidão incontável. E isso é, exatamente, o que se diz no mesmo lugar em o que se mencionam  esses 144.000 (ver Ap 7,4-9; 19,1 e 6; 20,4; 13,7 e 16). Não se trata, pois, de um número matemático exato, não é 143.999 +1, e sim, um número simbólico, ocorrência típica deste livro, de uma multidão incontável de todos os povos, raças, nações, de todas as idades e de toda condição social.
10. O Apocalipse é, naturalmente, um livro político. A isso precisamente se deve que nele se utilizem tantos símbolos e imagens: para que só entendesse seu sentido claro o cristão iniciado e não qualquer soldado romano que lançasse mão do livro. Os romanos eram absolutamente intransigentes com quem questionava de algum modo o poder do imperador ou do império romano. Isso, exatamente isso, é o que se faz no Apocalipse. Quem louva ao Cordeiro que reina para sempre não é amigo do César (ver Jo 19,12-15). O Apocalipse afirma que tudo será transformado, que nada no universo se subtrai ou pode subtrair-se ao poder de Cristo. Até as estruturas mais físicas do universo serão transformadas pelo reinado efetivo de Cristo. Se para alguém está claro que não se pode servir a dois senhores é para o autor do Apocalipse (ver Mt 6,24; Lc 16,13). Segundo o livro do Apocalipse, Roma, e com ela o império romano inteiro, deve cair e caíra (ver Ap 17 e 18). Para que não nos reste a menor dúvida do que pensava o autor sobre Roma, capital do império, ele a denomina (sessenta anos depois da morte e ressurreição de Cristo, e trinta anos depois de ali terem sido mortos  Pedro e Paulo) a grande prostituta, a que fez multiplicarem-se por toda a Terra as abominações, a Babilônia que deve ser destruída. Claro que o Apocalipse é um livro com sentido político! Em nome do livro do Apocalipse não se pode, legitimamente, pedir a um cristão que se mantenha apartado da política, porque o Apocalipse não só tinha sentido político quando foi escrito, mas continua a ter no presente.
11. A Besta aparece muitas vezes no livro do Apocalipse (ver Ap 11,7; todo o cap. 13; 14,9-11;16, 2.10.13; 17,3; 19,19-20). A imagem da Besta foi tomada do livro de Daniel 7. O que no livro de Daniel se diz sobre as quatro bestas se resumiu no Apocalipse em uma só Besta, que é Roma, o império romano, e seu representante oficial, o imperador desse império. Todo o Apocalipse trata, na verdade, de uma luta entre a Besta e Cristo e de como a Besta é totalmente vencida por Cristo. Uma vez mais, é Cristo quem agora detém todo o poder no universo (Mt 28,18; Fl 2, 9-11) e é Cristo quem terminará vencendo a quem se oponha a Ele. Por forte que pareça o império ou o imperador, diz o autor do Apocalipse, por fraco que pareçam Cristo (um Cordeiro) ou os cristãos, Cristo acabará triunfando e os cristãos com Ele. Justamente pelo conteúdo político de uma tal afirmação os cristãos dos primeiros séculos tinham de usar de símbolos para dizê-la, símbolos só compreensíveis para o cristão iniciado daquele tempo.
12. A mulher vestida de sol (Ap 11,15-19) é, no campo do bem, o que é a mulher vestida de vermelho escarlate no campo do mal. A mulher vestida de escarlate é a cidade de Roma, com tudo o que ela representava para o império romano. Assim, a mulher vestida de sol representa a Igreja, povo de Deus, de fato o grupo fiel de judeus que, na época da perseguição levada a efeito por Domiciano, se tornara cristão e se mantinha fiel a Cristo.
Essa mulher vestida de sol (ainda que tenha servido como símbolo de Maria na festa litúrgica da assunção, não é, no Apocalipse, a santíssima Virgem Maria, porque essa mulher vestida de sol, como Eva por causa de seu pecado, dá a luz em meio à dor (ver Ap 12,2).
13. Na mentalidade judaica se tornara tradição igualar a idolatria à prostituição (ver Os 1,2; Ez 16; 20,30; 23) e a fidelidade absoluta a Javé à virgindade (ver Ap 19,9; 21,2; 2Co 11,2), por isso a menção a esses virgens vestidos de branco (Ap 14,4). A virgindade de que fala o Apocalipse não tem nada a ver com virgindade física, mas é simplesmente uma imagem (mais uma imagem!) para descrever a virgindade teológica: a fidelidade absoluta ao Cordeiro (Cristo).
14. De uma vez por todas!: o Apocalipse não menciona ninguém, nem uma só vez, com o nome de “anticristo”. Onde encontraremos o nome de “anticristo” é nas cartas de são João (1Jo 2,18.22; 4,3; 2Jo 7). E, por certo, para João, anticristo é todo aquele que se opõe à doutrina de Jesus Cristo. Não há, segundo João, um anticristo, mas muitos, todo aquele que, em qualquer época, se oponha a Cristo.
15. Falemos do número da Besta (o 666 ou o 616). Recordemos que em hebraico toda letra tem valor numérico, e todo número tem valor de letra. Em numerosas versões originais do Apocalipse aparece, em vez do número 666, o número 616. Em hebraico, a expressão “Nero-César” soma 666 pontos. Em letras gregas, a expressão “César-Deus” soma 616 pontos. Uma vez mais, no momento em que foi escrito o Apocalipse, tratou-se de representar, desta vez por meio de números, uma mensagem político-teológica em relação a Cristo, ao imperador de Roma, e aos cristãos dessa época.
16. A expressão “novos céus” e “nova Terra” (Ap 21,1) jamais significou que a Terra ou o universo viessem a ser destruídos, mas sim, renovados. O Apocalipse não faz senão utilizar uma imagem de Isaías (51,16; 65,17; 66,22) para explicar a renovação que ocorrerá no reinado do Messias. E assim o utiliza são Paulo (Rm 8,18-19). O Novo Adão não é um homem diferente que tenha aparecido pela destruição do homem velho, mas sim o homem, o mesmo homem, mas totalmente renovado, graças a Cristo.
 
Nota final: O Apocalipse é um livro escrito para animar, para dar esperanças, para fortalecer o cristão. Nada nele foi escrito para assustar, ameaçar ou revelar algo sobre a história como ciência. Nele não há uma só palavra que tenha sido escrita para falar do ano dois mil do nascimento de Jesus (que, por certo, já passou há muito tempo). Para o Apocalipse, como para todo o Evangelho, o Reino de Deus já está aqui, entre nós, e aqui deve produzir seu fruto; o semeado por Deus deve chegar aqui à colheita plena. Nos, cristãos, somos os únicos que sabemos, por fé, que o universo não acabará em uma hecatombe de nenhum tipo, mas no triunfo definitivo, total, absoluto e evidente de Cristo, no que chamamos, e o Evangelho chama, o “Reino de Deus”.

Sobre Prof. Felipe Aquino

O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.
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