Inócua, a vasectomia? – EB

Em síntese: A vasectomia tem sido objeto de estudos apurados por parte de dois cientistas norte-americanos, Nancy Alexander e Thomas Clarkson, que julgam ser tal operação provocadora ou catalisadora de arteriosclerose; com efeito, os espermatozoides, não podendo ser expelidos, penetram dentro dos tecidos e do próprio sangue do organismo, acarretando finalmente a formação de placas escleróticas. Embora haja vozes que lhes contradigam, os dois pesquisadores vêm multiplicando as suas experiências e advertem o público no sentido de não aceitar tal intervenção cirúrgica enquanto não se esclarecem melhor as suas consequências.

A posição de Alexander e Clarkson compreende-se bem a partir do princípio de que “a natureza é sábia”, de modo que, quando se viola a respectiva ordem, todo o organismo se ressente.

Comentário: Entre os meios apregoados para conter a natalidade no mundo inteiro, e também no Brasil, aponta-se a vasectomia. Esta consiste na extração dos canais (vasa deferentia) que, no homem, conduzem os espermatozoides para fora do organismo; em consequência, o homem já não pode ejacular – o que lhe permite ter relações sexuais sem o perigo de tornar grávida alguma mulher.

Cerca de 35 milhões de homens no mundo inteiro, sendo que seis milhões nos Estados Unidos, sofreram tal operação. Esta se realiza em quinze minutos num consultório médico, mediante anestesia local, sem grandes despesas para os respectivos pacientes. A potência sexual destes fica incólume. Tais características tornam “popular” a vasectomia.

Ora esta maneira de considerar os fatos vem sendo posta em xeque por recentes experiências realizadas nos Estados Unidos. Da revista TIME (edição latino-americana), 9/02/81, p. 43 extraímos as notícias subsequentes.

As experiências mais recentes

A Dra. Nancy Alexander, fisiologista do Oregon Regional Primate Research Center em Beaverton, e o Dr. Thomas Clarkson, patologista veterinário da Bowman Gray School of Medicine em Winston-Salem, N. C., realizaram duas experiências de vasectomia em diferentes espécies de macacos. De uma feita, dez indivíduos machos foram submetidos a regime dietético portador de forte percentagem de colesterol, a saber: cerca do dobro do nível de colesterol que a média dos norte-americanos costuma ingerir. Após seis meses de dieta, cinco dos animais foram submetidos à esterilização por vasectomia. Os outros cinco se viram preservados para servir ao controle da experiência; foram, sim, sujeitos a cirurgia, não, porém, à vasectomia. Dez meses mais tarde, as artérias de todos foram extraídas a fim de se examinar o depósito de colesterol que traziam. Verificou-se então que, embora todos os animais apresentassem lesões adiposas, os indivíduos submetidos à vasectomia estavam afetados em proporções muito mais vastas.

Numa subsequente experiência, os pesquisadores compararam as artérias de dez macacos machos que tinham sido esterilizados havia nove, dez ou mesmo quatorze anos, com as artérias de oito machos que não tinham sofrido intervenção cirúrgica. Todos haviam sido alimentados com baixo nível de gorduras e sem uso de colesterol. Ora averiguou-se que os macacos sujeitos à vasectomia apresentavam mais amplos depósitos de gordura.

A explicação para os fatos proposta pelos dois pesquisadores é a seguinte: por ocasião da vasectomia os canais portadores de espermas são extraídos; isto, porém, não impede que os espermatozódes continuem a ser produzidos pelo organismo. Não podendo ser ejaculados, penetram dentro dos tecidos que lhes ficam próximos ou mesmo dentro do fluxo sanguíneo; em tais novos ambientes são tidos como corpos “estranhos” e atacados por anticorpos. Ora os Drs. Nancy Alexander e Thomas Clarkson julgam que os compostos resultantes de espermatozoides e anticorpos prejudicam as paredes das artérias e aceleram a formação de placas arteriocleróticas. Essas placas, porém, não aparecem necessariamente logo depois de efetuada a vasectomia, mas podem manifestar-se alguns anos, ou mesmo dez anos, após a esterilização.

As conclusões dos dois pesquisadores não podiam deixar de suscitar dúvidas e contradições. Assim, por exemplo, o New York City-base Association for Voluntary Sterilization objetou que as experiências realizadas em primatas não eram suficientemente sólidas do ponto de vista estatístico. Também o fisiologista Ira Richards declarou não haver evidência de que as doenças cardíacas são mais freqüentes em homens esterilizados.

Nancy Alexander e Thomas Clarkson continuam a sustentar suas teses. Em consequência, a Dra. Alexander apregoa cautela quando os colegas aceitam praticar em seres humanos a esterilização que têm efetuado em macacos. Adverte textualmente:

“Se um homem sofre séria ameaça de arteriosclerose – por exemplo, se padece de pressão alta ou se seus pais foram vítimas de algum mal cardíaco -, queira esperar mais seguras informações sobre os riscos de vasectomia”.

Entrementes a medicina vem-se interessando mais e mais pela questão, de modo que nos Estados Unidos estão em curso importantes estudos sobre vasectomia e arteriosclerose.

Faz-se oportuno dizer a propósito algumas palavras de Reflexão

Não é difícil aceitar a perspectiva de que a vasectomia tenha sérias contra-indicações. E isto, pelo fato mesmo de mutilar a natureza humana e permitir o uso “mutilado” de uma das funções do organismo. A natureza se defende espontaneamente quando agredida ou quando sujeita a excessos ou desvios. A própria pílula anticoncepcional, que é outro meio de mutilar a função sexual, apresenta suas ponderáveis contra-indicações. No caso da vasectomia a pesquisa moderna não fez mais do que evidenciar, com certa precisão, a maneira como a intervenção antinatural é repelida pelo organismo masculino.

Donde se vê que tal tipo de operação cirúrgica não é autêntico meio de planejamento da população. Antes merece recusa não só por parte da consciência moral, mas também por parte da ciência médica mais atualizada.

Revista: “PERGUNTE E RESPONDEREMOS”

D. Estevão Bettencourt, osb

Nº 257 – Ano 1981 – Pág. 274

Sobre Prof. Felipe Aquino

O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.
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