Hipnose – EB (Parte 1)

Em síntese:

O Dr. Antonio Carlos de Moraes Passos e a Dra. Isa­bel Crstina Labate Marcondes publicaram interessante livro sobre a hipnose, abordando a história, as teorias e a metodologia da hipnose; consi­deram também as aplicações clínicas e terapêuticas assim como as contra-indicações da hipnose; pode ser altamente benéfica quando bem apli­cada, mas será nociva quando indevidamente aplicada. O artigo que se segue, explana o que o livro afirma no tocante a fenômenos muitas vezes tidos como procedentes do além, quando na verdade se derivam do próprio psiquismo humano.

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O Dr. Antonio Carlos de Moraes Passos (ACMP) e a Dra. Isabel Cristina Labate Marcondes (ICLM) publicaram valioso livro sobre “Hipnose”. Considerações Atuais”11 apontando vantagens do recurso à hipnose na terapia de doenças e falhas do comportamento como também contraindicações da mesma; apresentam a metodologia indutora, além de ou­tras questões atinentes à temática. O livro é de alto nível cientifico. Nas páginas subsequentes interessar-nos-à por em relevo alguns tópicos da obra que tem incidência em fenômenos tidos corno “místicos” ou religiosos.

1. Hipnose: que é?

Eis como os autores definem a hipnose:

“Podemos dizer que a hipnose é um estado do estreitamento de consciência, provocado artificialmente, que geralmente (mas nem sempre) se parece com o sono, porém fisiologicamente dele se distingue, e que se caracteriza pelo aparecimento espontâneo (ou em resposta a um estímulo verbal, ou a outro qualquer) de uma variedade de fenômenos que incluem: 1 – alteração da atenção; 2 – alteração da memória; 3 – aumento da sugestionabilidade; 4 – produção, no paciente, de idéias e respostas diferentes daquelas do seu estado mental normal , 5 – alterações motoras e sensoriais; 6- aumento da labilidade dos processos regulados pelo sistema nervoso autônomo)” (p.16).

Assim entendida, a hipnose não se identifica com o sono convencional. Pode haver, sim, transição do transe hipnótico para o sono propriamente dito.

Pergunta-se em consequência: que é sugestão? – Eis a resposta fornecida pelos autores:

“Sugestão significa induzir aquela convicção de modo direto, sem oferecer ao indivíduo elementos nos quais ele possa apoiar-se, senão expressando-lhe simplesmente o objeto da convicção e utilizando sua capacidade de transformar automaticamente a compreensão em um ato correspondente (…).

A sugestão se revela assim como um processo psíquico de caráter irracional em grande parte inconsciente, que segue a mesma particular relação emotiva-efetiva” (p.17).

Os autores, a seguir, apresentam certas experiências que demonstram o grau maior ou menor de sensibilidade dos pacientes. Nem todos se prestam a ser levados ao transe hipnótico:

“O número de testes de sensibilidade é grande, sendo os mais comurnente usados:

O entrecruzamento das Mãos e/ou Entrecruzamento dos Dedos. Pede-se ao indivíduo que aperte urna mão contra a outra, com os dedos cruzados. Diz-se ao paciente: “Olhe fixamente para suas mãos e para seus dedos. Eu vou contar até cinco. A medida que eu for contando, suas mãos e seus dedos irão se colando uns nos outros. Quando chegar em cinco, você não poderá abrir os dedos nem as mãos.” Conta-se então de um até cinco, dizendo-se: “NÃO pode abrir, não pode abrir. Tente abrir; tente”. Alguns não conseguem abrir nem os dedos; outros conseguem mas com dificuldade alguns segundos depois e outros abrem imediatamente. Os dois primeiros grupos indicam os indivíduos mais sensíveis, que são separados e passam ao segundo teste.

Teste de Oscilação Lateral do Corpo. Põe-se o indivíduo em pé e manda-se que ele feche os olhos e imagine que seu corpo está oscilando de um lado para outro. Pode-se dar até urna imagem para isso, dizendo que ele está em um barco em um rio e que o barco oscila de um lado para outro. Alguns oscilam, outros não. Aqueles que responderam bem a essa oscilação passam para o terceiro teste. Os outros são excluídos.

Teste da Queda para Trás. Pede-se ao indivíduo que fique em pé; feche os olhos, fique em urna posição com seu corpo duro, rígido, como se fora de um soldado em posição de sentido. O operador fica atrás do paciente e repete varias vezes: “Seu corpo vai ficando duro, duro, duro, rígido, rígido, rígido, como urna tábua, duro, duro, duro. Agora seu corpo, duro e rígido, vai caindo para trás”. Os sensíveis tem urna queda, precisando inclusive ser amparados pelo hipnotista. Aqueles que responderam bem ao teste são utilizados; os outros são dispensados.

Existem muitos outros testes que também são usados, conforme a preferência do hipnotista” (p. 19).

2. Em transe hipnótico: uma experiência

Eis uma experiência de hiperestesia cutânea muito significativa induzida por sugestão feita a uma pessoa hipnotizada. O relato é da própria paciente:

“Submeti-me à hipnose duvidando um pouco de sua veracidade, apesar de ter assistido ao transe de alguns colegas. Estava, entretanto, curiosa. Eis aquilo de que me recordo:

Abri e fechei os olhos (pestanejando) 25 vezes, olhando sempre para o mesmo ponto. Já sentia as pálpebras cansadas quando ele (o médico) me disse que as conservasse fechadas. Ele me disse que abaixasse a cabeça. Abaixei, porém várias vezes involuntariedade a levantei mas tornava a baixá-la mediante nova sugestão. Senti o corpo todo muito relaxado durante toda a sessão e não fiz obstáculos a isso.

Não me
recordo de ter sido feita a catalepsia de meu braço. Se foi feita, esqueci
totalmente, por isso não posso dizer se levantei o braço ou não.

Quando ele me disse que ida colocar algodão nos meus ouvidos, para eu não ouvir mais os barulhos do ambiente, eu estava sabendo que era somente sugestão, que o algodão não existia. Porém, quando ele levou as mãos aos meus ouvidos, eu quis imaginar que de fato ele estava colocando o algodão e que eu não iria ouvir nada dali em diante. Não sei se depois disso o telefone e/ou a campainha tocaram, se as conversas continuaram lá fora, ou se houve outros barulhos. É certo que eu não ouve daí em diante, nada mais a não ser a sua voz.  Não me lembro de mais nada.

Lembro-me de ter feito um movimento de vaivém com o braço direito e ele me ter dito…”não pode parar; não pode parar”. Não sei se consegui parar ou não; não me lembro.

Então foi-me sugerido que imaginasse urna panela com água fervendo sobre o fogo. Consegui imaginar rapidamente o fogo; um fogo muito forte. Imaginei, também, a panela sobre o fogo. A água fervia trazendo bolhas à superfície. O vapor que dela se desprendia era muito quente. Foi-me sugerido que passasse a mão direita sobre a panela. Obedeci, mas, antes de concluir a ação, pensei na possibilidade de sentir realmente o calor da água fervendo. Foi então que tive a consciência de que me sentia muito mal. Minha respiração não era normal. Concluí a ação e coloquei a mão sobre a panela. Cada vez me sentia pior; uma onda de calor invadia-me o corpo e minha cabeça pesava tanto que me parecia não mais poder levantá-la. Retirei a mão de cirna da panela para meu colo, e lembro-me vagamente de ouvir: .. sua mão está vermelha… sua mão esta’ dolorosa… quente… sensível… vermelha…” Não me recordo de tê-lo ouvido dizer se iria doer ou não.

Nesse momento meu mal-estar aumentava tanto que só me recordo de uma fortíssima dor na nuca, uma dor horrível e de sentir muito calor. Tive a impressão de que ida ficar louca; que jamais voltava ao meu estado normal. Levantei-me da cadeira onde me achava sentada; não podia mais continuar ali impassível, do contrário acabada enlouquecendo mesmo. Tive medo do que estava por vi”: Não sei bem o que disse naquele momento. Sei que falei alto; talvez tivesse gritado; não sei. Lembro-me de despir o casaco de malha que trazia vestido e de levar as mãos à cabeça. Se fiz alguma coisa a mais, não me recordo. Depois deitei-me e lembro-me de que fiz tudo para não pensar que iria ficar louca, para esquecer a dor de cabeça e para obedecer-lhe prontamente em tudo que me sugerisse. Naquele momento quis confiar nele, acreditando que ele seria capaz de me fazer melhorar”: Não me recordo do que me sugeriu. Não tenho ideia de quanto tempo fiquei em repouso. Quando me levantei não sentia mais calor”: A dor na nuca diminuíra consideravelmente, embora não tivesse desaparecido totalmente, pois ainda sentia urna dor muito leve, que perdurou pelo resto daquela tarde.

Devo assinalar que, quando me submeti à hipnose, sentia-me muito bem, e que, também, não sofro de dores de cabeça, sendo muito raro tê-las” (p. 215).

Este caso explica fenômenos ocorrentes no espiritismo e mesmo fora dele. Há pessoas que ouvem, vêem, sentem… coisas estranhas e juram que existe algum objeto real que provoca as respectivas sensações; haveria, sim, corno dizem, um espírito desencarnado, um anjo bom ou mau, um exú responsável pelo fenômeno. Tal hipótese está superada; trata-se de alucinações visuais, auditivas, sensoriais que a pessoa sugestionada por Si mesma ou por outrem concebe e padece.

3. Hipermnésia (memória ampliada)

Um dos mais interessantes fenômenos ocorrentes com pessoas hipnotizadas ou a hipercinésia ou a exacerbação (ampliação) da nemória: 0 (a) paciente hipnotizado(a) se lembra facilmente de muitas coisas do seu passado,… coisas de que não se lembra em estado de vigília.

Eis o que referem os autores em pauta:

‘”Cralsineck apresentou no 35º Congresso da Pan American Medical Association um trabalho sobre hipnose e memória. Constou de dois tipos de experimentação:

Primeira experimentação: Uma estudante com QI de 130 leu em 15 minutos dez paginas de História. Interrogada sobre questões específicas, datas, nomes, sobrenomes etc. pode responder somente a 35% dos itens. Sob hipnose foi dada urna história semelhante em igual tempo. Interrogada, respondeu a 98% das questões; repetiu longas passagens; foi capaz de dar o número da página de alguns parágrafos e até a linha de certas palavras.

No segundo experimento, Cralsineck separou um grupo de 10 estudantes de enfermagem com QI iguais. Deveriam memorizar 10 grupos de sílabas sem-sentido, durante três minutos. Nenhum foi capaz de repetir as sílabas. Sob hipnose, um outro grupo (tanto quanto possível igual ao primeiro) leu o mesmo grupo de sílabas e obteve 96% de respostas certas… (pp. 28s).

“O Dr. Gerlach, professor nascido em Koenigsberg, na Prússia Oriental foi mobilizado e incorporado ao VI Exército Alemão, que marchou sobre Stalingrado. Em 30 de janeiro de 1943, foi ferido e feito prisioneiro pelos soviéticos. Durante seu cativeiro escreveu suas impressões sobre a Desvalorização de Todos Os Valores. O manuscrito foi descoberto, o que lhe valeu alguns anos em um campo de concentração. Somente foi libertado cinco anos após o término da guerra. Voltou para a Alemanha, e tentou, então, recompor de memória o manuscrito que fizera na prisão. Não conseguiu ir além de alguns fragmentos, poucas frases, desistindo então da ideia. Leu, ocasionalmente, um artigo sobre experiências realizadas por um médico de Munique sobre recordações do passado com o auxílio da hipnose. Procurou esse médico que se prontificou a tratá-lo. Durante três semanas foi hipnotizado duas vezes por dia, durante duas a três horas. Sob o transe hipnótico Gedach ditou, quase sem interrupção, todas as suas memórias, que publicou no livro- O Exército Traído – e foi um best-seller. O médico, que não cobrara pelo tratamento, quando sou­be do êxito do livro, reivindicou judicialmente participação nos lucros, a titulo de pagamento de honorários. Ganhou a pendência judicial” (p. 29).

REVISTA:”PERGUNTE E RESPONDEREMOS”

D. Estêvão Bettencourt, Osb

Sobre Prof. Felipe Aquino

O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.
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