São Lourenço sofreu o
martírio durante a perseguição de Valeriano, em 258. Era o primeiro dos sete
diáconos da Igreja romana. Sua função era muito importante e o fazia, depois do
papa, o primeiro responsável pelas coisas da Igreja. Como diácono, São Lourenço
tinha o encargo de assistir o papa nas celebrações e administrava os bens da
Igreja, dirigia a construção dos cemitérios, olhava pelos necessitados, pelos
órfãos e viúvas. Foi executado quatro dias depois da morte de Sisto II e de
seus companheiros. Preso, foi intimado a comparecer diante do prefeito
Cornelius Saecularis, a fim de prestar contas dos bens e das riquezas que a
Igreja possuía. Pediu, então, um prazo para fazê-lo, dizendo que tudo
entregaria. Confessou que a Igreja era muito rica e sua riqueza ultrapassava a
do Imperador. Foram-lhe concedidos três dias. São Lourenço reuniu os cegos, os
coxos, os aleijados, toda sorte de enfermos, crianças e velhos. Anotou-lhes os
nomes e os repassou à autoridade. Indignado, o governador condenou-o a um
suplício especialmente cruel: amarrado sobre uma grelha, foi assado vivo e
lentamente; em meio aos tormentos mais atrozes, ele conservou o seu “bom
humor cristão”, dizendo ao carrasco: Vira-me, que deste lado já está bem
assado… Agora está bom, está bem assado… Podes comer!”. O seu culto
remonta ao séc. IV, sendo festejado a 10 de agosto.
O hino seguinte, composto
por Santo Ambrósio (338-397), relatando a biografia do mártir Lourenço, faz
parte de sua famosa Hinologia (canto ambrosiano), nascida a partir de 386. A hinologia ambrosiana
alterna a recitação de um Salmo bíblico com o canto de um hino relacionado com
a festividade do dia, a comemoração de um mártir etc.
Lourenço, o arcediago
quase um apóstolo,
imortalizado pela fé romana
com a coroa própria dos mártires.
Enquanto seguia o mártir
Sisto,
um responso profético dele obteve:
“Cessa, filho, de afligir-te:
me seguirás daqui a três dias”.
Não sentiu o temor do
suplício
o designado herdeiro daquele sangue
que com o olhar piedoso contempla
o destino que logo será seu.
Já naquele mártir
o sucessor legítimo celebra
o triunfo de mártir, na posse como está
de um empenho marcado pela voz e pelo sangue.
Impõem-lhe de entregar em
três dias
os tesouros eclesiais;
docilmente promete, não recusa,
acrescentando uma zombaria à vitória.
Que esplêndido espetáculo!
Reúne filas de pobres e exclama,
indicando aqueles míseros:
“Eis as riquezas da Igreja!”.
Verdadeiras e perenes
riquezas
são dos fiéis os pobres;
zombado o avaro se impacienta:
a vingança e as chamas apresta.
Queima-se por si o carnífice
e foge de suas próprias chamas:
“Virem-me”, pede o mártir,
e ordena: “se está cozido, comam”.
Autor: Santo Ambrósio