Falta de conhecimento de si e do outro

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“Se tu vens, por exemplo, às quatro horas da tarde, desde as três eu começarei a ser feliz” (Antoine Saint Exupéry)

Como vimos, não é fácil conhecer a nós mesmos e aos outros. E muitos problemas surgem no casamento, quando cada um dos cônjuges não se conhece e não conhece bem o outro. Não temos o direito de mentir a nós mesmos.

A harmonia conjugal depende muito disso, algo que deve ser cultivado desde o namoro e o noivado.

Infelizmente muitos não namoraram como deveriam; isto é, não se conheceram; por isso, depois de casados se estranham; para alguns parece que se casou com um desconhecido(a).

A vida a dois é um contínuo conhecer-se. Ninguém ama a quem não conhece. Infelizmente, inúmeros casais chegam ao casamento sem se conhecer profundamente, o que dificulta o seu relacionamento e crescimento.

O ajustamento conjugal é algo dinâmico, crescente e que depende desse mútuo conhecimento. Estamos tratando com dois psiquismos vivos, complexos e que progridem. Um casal tem uma vida conjugal harmoniosa não quando não tem problemas, mas quando sabe enfrentá-los com maturidade e resolvê-los, sempre se valorizando, se respeitando e se conhecendo.

Sabemos que dentro de nós existe além do consciente, o inconsciente. Então, além de conhecer o próprio consciente, é preciso conhecer o do seu parceiro, com a ajuda dele. Caso contrário o entendimento e a cooperação mútua ficam dificultados.

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Cada um de nós é um “mistério a ser revelado”, uma verdadeira caixa de segredos. Para que alguém nos conheça, é preciso que nós nos revelemos de maneira autêntica e sem fingimentos, sem máscaras. E nisso é preciso cuidado porque temos a incrível capacidade de mostrar ao outro aquilo que nós não somos.

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No casamento, as máscaras caem com o tempo, então, para muitos começam as decepções e os desentendimentos. Já encontrei casais que não se conheciam profundamente, e que por isso se separaram. Viveram um relacionamento superficial antes do casamento e depois se assustaram quando os seus defeitos foram aparecendo. Esses defeitos sempre existiram em cada um, mas ficaram escondidos antes do casamento. Faltou-lhes o conhecimento mútuo, mais profundo, através do qual um soubesse a “história da vida do outro”, os seus problemas e as suas aspirações.

É fundamental que cada um conheça o passado do outro, pois toda a vida passada está gravada no nosso inconsciente e, de vez em quando, essas lembranças vêm à tona, influenciando o nosso comportamento e o do outro.

Se não se conhece a história da pessoa com quem se vive, como será possível compreendê-la, aceitá-la e ter paciência com ela? Quanto mais se conhece a pessoa, mais facilidade se tem de acolhê-la, perdoá-la e ajudá-la a crescer. Isso é essencial para o casal.

Muitas vezes rotulamos as pessoas de “chatas”, “antiquadas”, etc., simplesmente porque não as conhecemos bem; e assim cometemos muita injustiça. Se deixarmos a pessoa falar, contar a sua vida, suas lutas e problemas, o nosso ponto de vista sobre ela certamente mudará.

Para garantir um bom e verdadeiro relacionamento, é necessário que cada um saiba se calar e deixar que o outro conte “a história de sua vida”, de sua família, de seus pais, de sua infância… É preciso conhecer as horas amargas e as experiências difíceis que o outro viveu.

Se você quiser conhecer bem seu amado (a), então, conheça os seus pais, seus irmãos, seus hábitos, seus problemas, suas qualidades, etc. Conheça seu tempo de escola, seus dramas passados, seus medos, angústias vividas… Pois tudo isso está vivo nele ou nela.

É bom não esquecer que o seu cônjuge foi criado em uma família diferente da sua.

Cada um de nó s leva para o casamento como um “inconsciente familiar”; tudo que herdamos de nossos pais e parentes. Não somos isolados em uma família, pertencemos a uma “constelação familiar” como as estrelas nas galáxias.

Infelizmente os casais se unem conhecendo-se pouco, e este conhecimento não cresce muito após o casamento. É preciso que um revele ao outro o seu mistério: as aspirações, os sonhos, as qualidades, os defeitos, os gostos… Enfim, tudo; porque tudo isso está bem escondido no inconsciente de cada um e será a matéria-prima do diálogo e do conhecimento do casal.

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Nada pode ser escondido ou disfarçado. É lógico que cada coisa deve ser contada na hora oportuna e de modo correto, mas nada pode ser camuflado. Essa é uma das causas do sucesso no diálogo.

O essencial na revelação de si mesmo ao outro é que ela seja verdadeira. Jesus Cristo nos ensina: “a verdade vos livrará” (Jo 8,32). É importante conhecer as aptidões e os interesses do parceiro; quais são os seus impulsos mais fortes. Quais deles precisam ser mais trabalhados no outro e em você.

Muitos de nós trazemos recalques da infância e da adolescência; são os problemas que enfrentamos e que não foram bem resolvidos, deixando marcas profundas em nossas almas. Os castigos duros, as advertências ásperas, os medos apavorantes, as ameaças de violência, os conselhos errados, os abandonos sofridos, a superproteção, o lar desajustado, as brigas dos pais, as carências de amor, tudo isso pode ter deixado recalques em nossa alma, e não desapareceram.

Nosso comportamento de hoje tem muito a ver com o nosso passado. Por que sou tímido? Por que sou inseguro? Por que corro atrás do dinheiro de maneira desesperada? Por que me sinto perseguido? Por que tenho tanto medo? Por que não consigo fazer um carinho em minha esposa? Por que não gosto da vida sexual? Por que me sinto inválido, incompetente? Por que sou teimoso? Por que sou escandaloso? Por que tenho tanta necessidade de gastar? Por que sou tão vaidosa? Por que sou egoísta demais? Por que sou egocêntrico e quero tudo girando em torno de mim? Por que sou ganancioso? Por que sou tão inconstante?

Por que tenho inveja das pessoas que se saem melhor do que eu? Por que sou tão crítico e reclamo dos outros? Por que sinto raiva com facilidade?

Pode ter certeza que as respostas a essas perguntas e a muitas outras podem estar escondidas em seu inconsciente; e se você não se conhecer não poderá vencer isso; e além de sofrer faz o outro sofrer.

Quando se toma conhecimento das causas é mais fácil vencer os efeitos negativos. Por isso não podemos fugir de uma autoanálise corajosa, sem preguiça de refletir e sem medo de enfrentar a nossa realidade e os nossos próprios problemas.

Não podemos ter medo de enfrentar os fantasmas da infância e da adolescência que se esconderam nos labirintos de nosso inconsciente. É preciso acender as luzes e colocá-los para fora com determinação. E é preciso que o seu cônjuge conheça isso para que possa te compreender e te ajudar.

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A harmonia conjugal exige a integração harmoniosa dos impulsos que cada um traz para a vida a dois. Isso significa “crescer” a dois. Se isso não acontecer o casal pode ficar cansado um do outro, desencantados e até desanimados. Por exemplo, se um dos cônjuges é perfeccionista, tem o impulso de autoafirmação forte, precisa ser ajudado pelo outro para equilibrar esse impulso e não gerar uma úlcera nervosa.

Na caminhada longa do conhecimento mútuo através do diálogo, é preciso saber ouvir o outro com paciência para se poder entender exatamente o que ele quer dizer, e não haver o mal-entendido que gera muito conflito desnecessário.

O casal nunca pode perder de vista que tem uma missão: construir o outro e a família; isso exige empenho, perícia, cuidado. Lidamos com pessoas como trabalhamos com diamantes.

Prof. Felipe Aquino

Sobre Prof. Felipe Aquino

O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.
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