Estigmas: Casos autênticos x Casos falsos ou duvidosos

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Casos tidos como autênticos:

São Francisco de Assis (1181-1226)

Aos 14 de setembro de 1224, festa da Exaltação da Santa Cruz, enquanto rezava no eremitério do Monte Alverne, Francisco teve a visão de um Serafim, sobre o qual brilhava o Crucificado. Quando a imagem desapareceu, Francisco sentiu o coração arder de amor, enquanto na sua carne estavam impressos os sinais da Paixão do Senhor; apareceram nas suas mãos e nos seus pés as marcas dos cravos: além disto, trazia no costado uma fenda como se tivesse sido atingido por uma lança; a túnica e o calção do santo se achavam manchados de sangue. É Tomás de Celano, o biógrafo mais famoso de Francisco, quem o narra (Vita I Parte 11, Capo 11, p. 93). S. Boaventura (t 1274) oferece relato semelhante em Legenda Maior, capo XIII, p. 2. Testemunhas oculares confirmam o fato, pois o puderam observar no cadáver do Santo.

Imediatamente após o falecimento de Francisco, Frei Elias escreveu ao Provincial da França com grande alegria:

“Anuncio-vos uma grande alegria, ou mesmo um novo milagre. Desde a origem do mundo, nunca se ouviu contar tão maravilhosa coisa, a não ser do Filho de Deus, que é Cristo nosso Deus. Com efeito; muito antes da sua morte, o nosso Pai e Irmão apareceu crucificado, trazendo em seu corpo as cinco chagas, que são realmente os estigmas de Cristo: as suas mãos e os seus pés tinham, por assim dizer, furos devidos a pregos cravados na carne… ao passo que o seu costado parecia ter sido golpeado por uma lança, deixando as marcas de sangue” (S. Boaventura, Legenda Maior Lectío tertia).

A notícia dos estigmas de S. Francisco é tão documentada por testemunhas próximas ao fato que os críticos julgam não os poder pôr em dúvida. É, sim, possível discutir a configuração desses estigmas, pois os relatos nem sempre concordam entre si. É razoável, pois, acreditar que Francisco, ao contemplar assiduamente a Paixão do Senhor, foi agraciado com as chagas decorrentes dessa Santa Paixão.

Santa Catarina de Sena (1347-1380)

Parece que não teve estigmas visíveis, mas chagas internas.

A biografia de Catarina foi escrita por testemunhas fidedignas, como, por exemplo, o Bem-aventurado Raimundo de Cápua, confessor da Santa e, posteriormente, Mestre Geral da ordem Dominicana; verdade é que a admiração de Raimundo por Catarina levou o biógrafo a certos exageros, mas julga-se que, em substância, o que ele refere é fidedigno.

Desde criança, Catarina foi muito atraída por Jesus; retirava-se numa gruta para rezar a sós durante horas. Fez-se Irmã da Ordem Terceira de S. Domingos, e teve visões e êxtases que repercutiam sobre o seu corpo, o qual se enrijecia e até levitava.

Recebeu estigmas, ou seja, as dores dos estigmas. Eis como o Bem-aventurado Raimundo de Cápua o descreve na qualidade de testemunha ocular:

“Catarina estava na capela de S. Sixtina em Pisa. Recebeu a S. Comunhão e, como relatam as pessoas presentes na capela, ela estendeu os braços e as mãos; ficou radiante de luz e caiu por terra, como se tivesse sido mortalmente ferida. Pouco depois recuperou os sentidos.

Então, conta o Bem-aventurado Raimundo, ela chamou seu confessor, e em voz baixa lhe disse: ‘Saiba, ó Pai, que pela misericórdia de Deus, trago no meu corpo os estigmas de Jesus. Vi o Senhor pregado à Cruz: das cicatrizes de suas sacratíssimas chagas desceram cinco filetes de sangue, dirigidos respectivamente às mãos, aos pés e ao coração. Ciente do mistério, exclamei logo: ‘Ah, Senhor meu Deus, eu te peço que não apareçam essas cicatrizes na superfície do meu corpo’. Enquanto eu o dizia, antes que os filetes chegassem a mim, a sua cor de sangue se transformou em cor refulgente, e, sob a forma de luz pura, chegavam aos cinco pontos do meu corpo, isto é, às mãos, aos pés e ao coração’”.

Perguntou-lhe então o Bem-aventurado Raimundo: “Nenhum filete chegou ao lado direito?”. Respondeu ela: “Não, mas sim ao lado esquerdo, acima do meu coração – aquela luz que saia do lado direito de Jesus, feriu-me diretamente”. Continuou o Bem-aventurado Raimundo:

“Sentes dor nesses cinco pontos?”. Ela, após profundo suspiro, respondeu: “É tal a dor que sinto nesses cinco pontos, especialmente no coração, que, se o Senhor não fizer outro milagre, não me parece possível que eu possa subsistir, escapando da morte dentro de poucos dias”.

Após a morte de Catarina, o Pe. Prior do Convento da Minerva escreveu ao Bem-aventurado Raimundo para dizer-lhe que ele e muitas outras testemunhas tinham visto as chagas no corpo da Santa por ocasião das suas exéquias. Além disto, no pé de Catarina que se conserva em Veneza, se observa a marca das chagas: o mesmo se dá na mão da Santa que é guardada no Convento de S. Sixto em Roma.

Leia também: O que são estigmas?

Qual o significado religioso dos estigmas?

Os estigmas: O que são? EB -Parte 1

Os estigmas: O que são? Por que são? EB (Parte 2)

Santa Verônica Giuliana (1660-1727)

Era capuchinha. Foi canonizada por Gregório XI. Desde criança, desejou imitar os mártires, que haviam sofrido por amor de Jesus.

Recebeu os estigmas aos 5 de abril de 1697, no decorrer de longo êxtase. Essas chagas foram observadas pelo Bispo Mons. Eustachi, de Città di Castello, com quatro outras testemunhas e, mais tarde, por diversas Irmãs Capuchinhas. O Pe. Tassinari, que acompanhou o Sr. Bispo, descreve:

“Mons. Eustachi observou, e fez observar a todos nós, as chagas das mãos de Irmã Verônica; na parte superior destas, havia uma ferida grande como o calibre de um prego de tamanho médio ou do diâmetro de um pequeno quattrino florentino: em cima de cada chaga, havia uma tênue crosta… Quanto à chaga do costado, à esquerda, seria uma ferida do tamanho do dedo mindinho, larga no meio e pontiaguda nas duas extremidades” (Sumário do Processo de Canonização, p. 212).

Santa Gema Galgani (1878-1903)

Desde menina, foi muito virtuosa; sofreu vicissitudes de família. Experimentou distúrbios psiconeuróticos, quando um jovem se enamorou dela, e quis pedi-Ia em noivado. As tias com quem ela morava, consideravam essa perspectiva com bons olhos, porque o rapaz era sério. Gema, porém, se recusava; sem saber como evitaria o passo, pedia a Deus que a ajudasse. Adoeceu gravemente, ficando desenganada. Mas foi curada imprevistamente após muitas orações.

Numa visão apareceu-lhe Jesus Crucificado. Sentiu profundas dores. Diz ela: “As chagas de Jesus ficaram gravadas na minha mente de maneira tão viva que jamais se apagaram”. Após a S. Comunhão, certo dia, recebeu promessa de um grande presente. Avisou o confessor. O presente consistia nos estigmas, que se formaram nela enquanto contemplava Jesus com as chagas abertas: destas procediam raios de fogo, que atingiam os pontos correspondentes do corpo de Gema. Esses estigmas se abriam todas as semanas às 20 horas de quinta-feira e permaneciam abertos até as 15 horas de sexta-feira, derramando sangue. Uma vez terminado o fluxo de sangue, as chagas começavam a se enxugar e fechar. No dia seguinte ou, ao mais tardar, no domingo, tudo estava fechado e, no lugar dos estigmas, se observava uma mancha branca.

Frei São Pio de Pietrelcina (1887-1968)

Foi capuchinho. Durante cinquenta anos, trouxe os estigmas; alguns desapareceram pouco antes da sua morte; outros, logo depois do seu falecimento. – O caso foi estudado meticulosamente, pois é relativamente recente e sujeito a exames mais rigorosos do que os casos anteriormente registrados.

Frei Pio era de saúde fraca, mas homem de grande bondade e virtude; a todos inspirava simpatia e confiança; às vezes passava quinze ou dezesseis horas por dia confessando e atendendo ao povo.

O primeiro especialista que examinou os estigmas de Frei Pio, foi o Prof. Bignami. Deu ordem para que se enfaixassem as feridas na presença de duas testemunhas e se lacrasse a bandagem. Durante oito dias sucessivos, todas as manhãs eram trocadas as faixas. No oitavo dia, foram retiradas definitivamente as ataduras; o Pe. Pio celebrou então a S. Missa, verificando-se que de suas mãos jorrava tanto sangue que as testemunhas foram obrigadas a oferecer-lhe lenços para que as enxugasse. Aliás, dia por dia, as chagas, ao serem descobertas, emitiam sangue.

O Dr. Andréa Cardone, médico da família de Frei Pio desde 1910, afirma que encontrou em ambas as mãos do padre perfurações do diâmetro de 1,5cm; atravessavam a palma da mão tão profundamente que esta se tornava transparente para a luz.

Muitos médicos examinaram as chagas de Frei Pio, sem poder averiguar algum indicio de embuste, hipocrisia ou mentira. É o que leva a crer que se trata de autêntico fenômeno suscitado pela graça de Deus.

Casos duvidosos e falsos

São muitos os casos de duvidosos e falsos estigmas. Relacionaremos apenas três deles:

Santa Clara de Montefalco (1268-1308)

Dizem que não teve propriamente estigmas, mas trazia em seu corpo os instrumentos da Paixão do Senhor, encontrados aí em autópsia depois da morte.

Com efeito, no dia após os funerais fez-se autópsia e diz-se que no coração da santa foram encontrados os cravos, a lança, o flagelo, um crucifixo de carne e nervos… Tal resultado, porém, é contestado, pois a autópsia foi realizada por uma Irmã na presença de outras Religiosas, que nada sabiam de anatomia.

Crê-se que interpretaram a estrutura interna do coração como se fossem os instrumentos da Paixão. Interpretação imaginosa, favorecida pela fantasia e a afetividade.

Margarida de Città di Castello (1248-1291)

Algo de semelhante se relata a propósito desta Irmã: objetos de piedade e três pérolas terão sido encontrados em seu coração – o que carece de documentação adequada.

Paulo Diebel

Em 1928 na cidade de Paris foi descoberto o senhor alemão Paulo Diebel.

Dizia que podia produzir à vontade lágrimas de sangue e estigmas.

Observado atentamente pelo Dr. Osty, foi desmascarado. O médico virou as pálpebras de Diebel e verificou que estavam cheias de pontadas de alfinete e, por isto, sangravam. Quanto aos estigmas, eram falsificados com o sangue de Diebel retirado de uma chaga de suas pernas.

D. Estêvão Tavares Bettencourt

Sobre Prof. Felipe Aquino

O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.
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