Esse plebiscito é oportuno?

Vamos combinar uma coisa. Ninguém de nós vai ficar nervoso sem necessidade. O
assunto a ser abordado poderia causar transtornos circulatórios. O ar, a água e
a terra são bens inestimáveis que nos vem do Criador, e devem estar ao alcance
de todos. “Não havia entre eles necessitados” (At 3, 34). O que dizer se no
alto de uma escada houvesse  dez copos de água para dez sedentos? Se o
mais saudável conseguir se antecipar aos outros, e sorver sete copos, e deixar
para os outros nove apenas três copos, isso se pode considerar solução
fraterna? É o que pode acontecer com a posse da terra no Brasil. Calma. A
conversa não é con tra os legítimos proprietários de terra, que nela trabalham,
e arrancam farta alimentação para a população. Sabemos que 2% da população
detém 60% das terras. E não são eles os principais produtores que alimentam a
nação. Quem produz imensamente mais são os pequenos e médios proprietários.
Estes não são objeto de reajustamento. O que se quer é forçar os que são
possuidores de verdadeiras sesmarias, a abrirem mão do seu excesso. É bom saber
que a terra não é mais a única fonte de riqueza, mas hoje vale muito o
conhecimento. Por que o povo simples, que tem vocação agrícola, não pode ter o
seu chão para trabalhar, uma vez que este é a fonte de dignidade de sua vida e
de sua riqueza?

 Fala-se agora em fazer um plebiscito para estabelecer o tamanho máximo de uma
propriedade rural. O limite máximo se estabeleceu na maioria dos países modernos.
Comenta-se que aqui seriam 35 módulos fiscais, o que varia de Estado para
Estado. Em alguns seriam 40
hectares, em outros 150… A querida CNBB sempre foi a
favor da justa reforma agrária, mas não foi ela que estabeleceu tal limite (que
eu considero muito pequeno). Isso foi promovido pelo Fórum Nacional de Reforma
Agrária, e recebeu o apoio das Pastorais Sociais da CNBB. Embora a última
Assembléia episcopal tenha debatido “Igreja e Questão Agrária no Início do
Século XXI”, não houve palavra definitiva dos Bispos sobre tal
plebiscito.  Não se discutiu o tamanho do módulo, nem a quem pertenceria o
território que ultrapassasse tal área. Em suma, sem querer contrariar os
notáveis da República, considero que seria muito bom discutir melhor assunto
tão melindroso, e de grande importância. Queremos “paz na terra”.

 Dom Aloísio Roque Oppermann scj  –  Arcebispo de Uberaba, MG

 email: domroqueopp@terra.com.br

Sobre Prof. Felipe Aquino

O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.
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