Esperança secularizada

Já faz muito tempo que a esperança cristã deixou de ser virtude passiva, um vestíbulo do fatalismo. No cristianismo tornou-se fator dinamizador da existência, um combustível do arrojo. Até pode tomar feições de protesto contra o mundo atual, que quer impedir, pelas suas limitações, a realização dos valores perenes. “Não vos conformeis com este mundo” (1 Jo 2, 15). Essencialmente é abertura para o futuro, é busca do sentido integral da vida. Dá características de racionalidade ao peregrinar humano, e faz com que o homem se torne consciente. Ter esperança significa querer assumir o futuro, e entregar às próprias mãos a seleção dos acontecimentos.  Esse impulso vital – para não se precipitar no abismo da ilusão e das frustrações – precisa das luzes do intelecto e também da graça da fé. Aqui reside a originalidade do cristianismo. A esperança tem que ser inteligente e se revestir de abrangência.  Mas não pode se apoucar, encerrando o espírito humano no cárcere do “ici bas”, no mundo visível. A verdadeira ” esperança não decepciona” (Rom 5,5).

Nos dias atuais essa virtude se tornou muito rasteira. A nossa expectativa se concentrou no melhor celular, na diminuição dos assaltos, na eliminação dos ruídos perturbadores, no asfaltamento da nossa rodovia de preferência, na liquidez de nossas posses, no aumento de nossa influência pessoal. Tudo se resume no intramundano. Somos árvores, potencialmente frondosas, reduzidas a arbustos dentro de um vaso estreito. “A vossa fé e esperança estejam em Deus” (1 Pd 1,21). O elevar os olhos para a transcendência, para além do horizonte visível, tornou-se um exercício difícil para nossas pálpebras pesadas. O que isso acarreta de negativo para o homem moderno, é indescritível. A nossa antropologia se desenvolveu muito, se desdobrou em várias ciências de grande auxílio. Mas perdeu de vista o homem todo. Os sentidos, por não perceberem os valores de eternidade, que devem caracterizar o ser humano, nada registram. A  humanidade, sem  a esperança nos valores derradeiros, pode tornar o  espírito  um paquiderme insensível, apenas voltado para os valores deste século. O ressurgimento de Jesus para uma vida nova, é a nossa luz.

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Dom Aloísio Roque Oppermann

Sobre Prof. Felipe Aquino

O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.
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