Envelhecer: Fracasso? Sabedoria? (Parte 2)

De resto, a juventude psicológica é mais importante do que a juventude biológica ou etária.

Quem se habitua, na idade juvenil, a vier para um grande ideal ou para as causas nobres, enfrentando corajosamente os desafios que daí resultam, pode entrar na velhice com o espírito jovem e conservar uma perene juventude; seja durante a vida inteira fiel aos seus nobres propósitos e alimente o destemor necessário para cultivá-los, e terá o essencial da juventude, mesmo dentro das limitações físicas impostas pela idade senil. É jovem o ancião que procura recuperar-se prontamente de suas feridas e que faz dos obstáculos trampolim para ser magnânimo e generoso,… aquele que, apesar das suas misérias, não deixa de recomeçar diariamente… Ao contrário, é velho quem, na década dos vinte anos, se entrega ao pessimismo e ao desânimo.

Com outras palavras: não envelhece tão facilmente aquele que pensa em servir mais do que em ser servido,… aquele que se mantém na atitude de disponibilidade que tinha em suas primeiras décadas de vida. Essa disponibilidade duradoura está ancorada no amor de Deus e ano amor a Deus que cada cristão deve trazer dentro de si. Diz S. Agostinho: “Quem é amado por Deus, não envelhece, pois traz dentro de si Aquele que é mais jovem do que todos”.

São precisamente estas verdades que os trechos subsequentes, publicados à guisa de Apêndice, procuram ilustrar.

A propósito recomenda-se ROMANO GUARDINI, As idades da Vida. Ed. Quadrante, Rua Iperoig 604, 05016 São Paulo (SP).

Apêndice

À guisa de complemento, acrescentamos dois belos textos atinentes ao assunto.

Leia também: Envelhecer: Fracasso? Sabedoria? (Parte 1)

A importância dos avós na educação dos filhos

Como enfrentar o envelhecimento dos pais?

Como viver a viuvez?

Permanecer Jovem
(Anônimo)

Ninguém é velho unicamente por ter vivido um certo número de anos. Só é velho quem abandona o seu ideal. Os anos enrugam a pele do rosto. Mas renunciar ao ideal enruga a alma. O aborrecimento, a dúvida, a falta de segurança, o temor, a falta de objetivos claros e o desespero ao lado do desânimo fazem inclinar e soçobrar o espírito.

A juventude não é um período da vida. É um estado de espírito. Consiste ele numa certa forma da vontade, disposição da imaginação, força das emoções, uma preponderância da coragem sobre a timidez e a sede da aventura sobre o amor à comodidade.

Ser jovem é guardar aos 40, 50, 60, 70 e mais anos o amor ao maravilhoso, a admiração pelas coisas extraordinárias e os pensamentos brilhantes, o desafio intrépido lançado aos acontecimentos, o apetite insaciável da criança (para quem tudo é novo), o senso do lado feliz e alegre da existência.

És jovem, se voltas de teus trabalhos e saídas, calmo, tranquilo, com os olhos inundados de luz, com os ouvidos cheios de melodias e o coração mais dilatado, mais atento aos outros, mais penetrado de sua dignidade e mais convicto da fraternidade que une todos os homens.

És velho, se não gostas mais de flores, nem de árvores, nem de pássaros, nem de melodias. Se não ris mais. Se não te interessas mais por nada de novo, se nada mais queres empreender, nada mais queres melhorar. Se não sabes mais aplaudir. Se tens inveja dos outros, em vez de admirar o que eles realizam. Se te sentas à beira da estrada, maldizendo os transeuntes, em vez de aceitar e estimular os homens que caminham, que buscam e que querem acertar. Se apagas a mecha que ainda fumega, e, ao invés de semear boa semente, choras sobre os campos ressequidos, os jardins sem flores e os pomares sem frutos.

És jovem, se és disponível. Se sabes construir ilhas de paz em ti e em torno de ti.

És velho, se constróis muros de egoísmo e ajudas a construi-los entre os que te cercam.

És tão jovem quanto tua confiança, tão velho quanto tua desconfiança. Tão jovem quanto tua segurança, tão velho quanto teu temor. Tão jovem quanto tua esperança, tão velho quanto teu desespero. És tão jovem quanto tua fé, tão velho quanto tua dúvida.

Permaneces jovem enquanto teu coração for capaz de receber mensagens de beleza, de ardor, de coragem, de grandeza e de ânimo… da terra… de um homem… ou então, do céu… do infinito.

Mas, quando todas as cordas do teu coração estiverem estraçalhadas e seu fundo ficar recoberto das neves do pessimismo e do gelo do cinismo, então é velho. E então… pede a Deus tenha piedade de tua alma.

Não conte os anos!

Héber Salvador de Lima

Não importa quantos anos você complete em seu aniversário…

Você será sempre jovem enquanto o Amor florir em sua vida, enquanto irradiar

Beleza,

Paz,

Esperança,

Coragem, Otimismo, e Pureza de olhar e de coração para todos os que vivem ao seu redor. A continuidade da vida nunca se rompe: o rio corre e avança sempre até perder-se de nossa vista; mas, lá bem longe, debaixo de outros céus e em outros horizontes, ele leva consigo as mesmas águas que recolheu em nossas terras.

São estas mesmas águas do passado que fertilizam e fazem florescer nosso futuro.

São estas mesma águas

– o dia-a-dia, que vivemos – as que dão testemunho ao céu, aos vales e às montanhas, a Deus, aos anjos, aos homens deste mundo, testemunho de que o rio correu muito, mas não envelheceu!

Assista também: É preciso saber envelhecer – Eclo 25, 5-8

Não importa, portanto, quantos anos

Você viveu até agora…

O importante é saber se ainda existe flor em sua vida:

Fé, Esperança, Amor, Alegria, Otimismo…

O importante é saber se está contribuindo para tornar o mundo mais feliz ao seu redor!

Prossiga, pois, sempre sorrindo, como estas águas marulhantes em demanda do mar…

O rio nunca para nem olha para trás…

E, sobretudo, irmão, nunca se esqueça:

um rio nunca envelhece!

¹ São Paulo fala de uma bela luta (2Tm 4, 7), bela milícia (1Tm 1, 18), bela doutrina (1Tm 4, 6), belo testemunho (1Tm 3,7), bela lei (1Tm 1, 8), belo fundamento (1Tm 6, 19); belo ministro (de Cristo) (1Tm 4, 6)…

D. Estevão Bettencourt, osb
Revista: “PERGUNTE E RESPONDEREMOS”

Nº 339 – Ano 1990 – p. 352

Sobre Prof. Felipe Aquino

O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.
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