Entrevista com Pe.Reginaldo Manzotti

“Eu entrei no seminário com 11 anos”

Pe. Reginaldo Manzotti concede uma entrevista exclusiva ao Zenit (parte II)

BRASILIA, sexta-feira, 24 de Fevereiro de 2012 (ZENIT.org).- O fundador e coordenador da  “Associação Evangelizar é Preciso”, Pe. Reginaldo Manzotti, concedeu uma entrevista exclusiva ao Zenit.

Publicamos para os nossos leitores a segunda parte dessa entrevista. Para ler a primeira parte da entrevista podem acessar clicando aqui.

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Padre Reginaldo o senhor gosta de dizer que faz momentos de evangelização e não “shows”.

Olha, eu acredito muito na catequese. Não é um chavão, mas é um posicionamento meu: Um povo catequizado é um povo evangelizado, um povo evangelizado é um povo comprometido. E eu acredito que isso se deve muito à minha formação no seminário.

As vezes, fora do Brasil, existem pessoas que não entendem a nossa cultura e esse modo de evangelizar.

Olha, eu entrei no seminário com 11 anos. Tive uma vida dentro do seminário. A solidez da minha filosofia, a solidez da minha teologia… Eu digo sempre para os seminaristas: estudem muito! Eu digo muito para os compositores de música: mais do que compor, estudem para ter conteúdo nas músicas.

Então, eu percebi que quem critica o Brasil fora são pessoas que não nos conhecem. Você não pode pensar que, por exemplo, do ponto de vista de um europeu se dará a mesma abertura ou a mesma sensibilidade de um brasileiro.

E qual é a nossa característica?

Nós somos brasileiros. Nós somos daqueles que não vemos com os olhos. Nós vemos com as mãos, nós precisamos tocar. A nossa religiosidade é muito expressiva como religiosidade popular; nós precisamos de procissões, é da nossa cultura essa forma de expressar. Quando nós encontramos alguém não estendemos a mão, nós abrimos o braço para acolher.

Então, isso não pode faltar na nossa fé. Nós não podemos copiar o modelo europeu de evangelização porque o nosso povo é de sangue quente, o nosso povo é de calor humano, o nosso povo é de abraço.

E foi isso que tentou levar para os eventos?

Então, isso eu percebi e tento levar para os eventos. A roupagem pode ser diferente, mas o conteúdo, ele é fiél porque o conteúdo não é meu. Eu posso colocar no pacote, no embrulho, eu posso até colocar uma fita mais interessante, mas o conteúdo do presente é único, é da Igreja. E isso pra mim é precioso, isso é inegociável.

Qual foi o motivo que fez o senhor entrar no seminário com 11 anos?

Olha, eu entrei com 11 anos. O que me motivou foi a figura muito forte do pároco da minha paróquia, Cônego Sétimo Giancollo, um homem culto, comprometido, devotado ao sacrifício, um homem zeloso pela liturgia. E ele despertou em mim um desejo: puxa, esse homem é um exemplo! Deus se usou dele para despertar em mim esse interesse.

Eu vim de uma família católica: meu pai vicentino, minha mãe do apostolado da oração. E é bem verdade que eu, com 11 anos, eu não tinha capacidade de discernimento, essa certeza de que eu “sei que vou ser padre”. Eu sentia uma inquietação. Com 11 anos eu encontrei uma revista e tinha uma propaganda de um seminário. Sem consultar minha mãe e nem falar pro meu pai, pois eu era o filho mais novo, o caçula, eu mandei uma carta.

E os seus pais?

Para grande surpresa da minha mãe, em outubro, aparece um padre alemão que, como promotor vocacional, foi me fazer uma visita. O problema é que eu não tinha contado para os meus pais. Quando eu cheguei da escola e o padre tava lá, foi uma surpresa para todos. Mas, no outro ano, em março, eu já estava no seminário.

Tive crises, tive que fazer um discernimento, tive que reconfirmar minha decisão, tive que fazer um processo de maturidade da vocação, mas isso é importante. Há alguns erros sobre isso.

Quais?

Primeiro erro: as pessoas acharem que vão para o seminário e de lá vão sair padre. Não. Seminário é processo de discernimento. Segundo: os padres estão meio que “acuados” hoje. O estigma que carregam no mundo é um estigma muito negativo: de pessoas problemáticas. Pelo contrário, eu tenho passado para a juventude algo diferente, que eu sou realizado como padre. Se eu nascesse de novo padre eu seria. E fico muito feliz quando escuto jovens de todo o Brasil que dizem assim: “padre, eu estou entrando no seminário”. Eu dou o maior apoio. “Padre, a partir do senhor, eu pensei em ser padre”. E eu quero ser um exemplo. Eu tenho minhas dificuldades, mas que bom que posso estimular na juventude o desejo do sacerdócio.

E é possível isso hoje?

E é possível sim. E eu acredito que o seminário é fundamental. Não sei se o seminário menor, mas os anos que se passam no seminário são preciosos. E se a pessoa entrou no seminário e não foi padre, tenho certeza de que será um bom cristão e um bom cidadão. Não foi de nenhum modo um tempo inválido para a sua vida. Todo o contrário. E serão luz no mundo.

O senhor criou um obra de evangelização: “Evangelizar é Preciso”. Como ela trabalha?

A obra Evangelizar é Preciso trabalha na gratuidade e na ajuda dos colaboradores. E gostaria de frisar bem isso: o padre Reginaldo Manzotti não cobra chachê para as suas apresentações. E eu rodo o Brasil e a única coisa que as pessoas ajudam é na ajuda de custo para hotel, comida e transporte. O padre Reginaldo não cobra cachê de apresentação. É na gratuidade.

Segundo: não aceitamos venda de bilheteria. No máximo levar 1kg de alimento, 1 litro de leite, ou um agasalho, ou alguma coisa que vai ajudar a comunidade local.

Terceiro: são 1060 emissoras de rádio. Não cobramos 1 real sequer porque é na gratuidade. Temos programas de televisão. As vinculações não cobramos nada. O nosso interesse não é ganhar dinheiro na evangelização, mas chegar no coração da família humana. Por que? Porque pelo rádio e pela televisão nós despensamos a pedida de licença pro síndico, pro porteiro.

E como as pessoas podem ajudar?

Então, como as pessoas podem ajudar? São pessoas que nos escutam, por exemplo hoje, nós tivemos 1 milhão de acessos na internet: http://www.padrereginaldomanzotti.org.br/. Hoje, além do Brasil, temos Japão, Estados Unidos, Europa, em diversos locais… E tudo na gratuidade.

Então, as pessoas que se interessarem em ajudar essa obra que é para a Igreja. Não é o padre Reginaldo Manzotti. É para a Igreja! Podem entrar no site e tem lá: quero me tornar um associado, ou ligar: (41) 8401-0909 e no dígito 1 deixa seu nome e telefone e nossa equipe retorna a ligação.

Padre, obrigado pela entrevista. Poderia deixar a sua benção para o Zenit?

Eu gosto muito do trabalho que vocês fazem. Zenit tem um trabalho maravilhoso e há anos que eu o recebo e leio todos os dias. A minha benção para Zenit e toda a sua equipe: que Deus lhes abençoe!

Por Thácio Siqueira

Sobre Prof. Felipe Aquino

O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.
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