Ensinamentos de São João da Cruz (Parte 2)

São João da CruzMesmo que realizes muitas coisas, não progredirás na perfeição, se não aprenderes a negar a tua vontade e a sujeitar-te, deixando a preocupação de ti próprio e das tuas coisas.

Então, se conhecerá quem ama verdadeiramente a Deus: aquele que não se contenta com coisa alguma fora dele.

Na verdade, a satisfação do coração não se acha na posse das coisas e sim no despojamento de todas elas, na pobreza de espírito.

Uma só coisa é necessária: saber realmente renunciar-se interior e exteriormente, abraçando o sofrimento e o mais completo aniquilamento, por amor a Cristo.

Quem souber morrer a tudo terá vida em tudo.

Além das verdades reveladas pela Igreja quanto à substância de nossa fé, não há mais o que revelar. Por isso é necessário não só rejeitar qualquer novidade, mas também acautelar-se para não admitir as que aparecem sutilmente misturadas à substância dos dogmas.

Visões, revelações, sentimentos celestes e tudo quanto se pode imaginar de mais elevado, não valem tanto como o menor ato de humildade.

Quando o homem caminha revestido de fé, o mal não o atinge porque, com a fé, muito mais do que com todas as outras virtudes, está bem protegido contra o demônio, que é o mais forte e astuto inimigo.

A constância de ânimo, com paz e tranqüilidade, não só enriquece a pessoa, como a ajuda muito a julgar melhor as adversidades, dando-lhes a solução conveniente.

Toda a posse é contrária à esperança.

A virtude está no que não se sente, isto é, na humildade profunda e na renúncia de si mesmo e de tudo quanto é próprio e bem arraigado no ser; e em desejar não merecer nenhuma consideração.

Quanto maior a esperança, tanto maior a união com Deus, porque em relação a Deus, quanto mais se espera, tanto mais se alcança. E mais espera, quem mais despojado está.

O amor não consiste em sentir grande coisas, mas em despojar-se e sofrer pelo Amado.

Para onde quer que se oriente uma paixão, para lá se orienta também toda a pessoa e suas energias: todas estarão escravizadas por esta paixão.

Por causa de prazeres passageiros, sofrem-se grandes tormentos eternos.

Guardando as portas do espírito, isto é, os sentidos, guarda-se e aumenta-se sua tranquilidade e pureza.

Se renunciares a uma satisfação, o Senhor te dará cem vezes mais aqui na terra, no plano espiritual e temporal. Mas se te deixas seduzir pelo prazer sensível, recolherás o cêntuplo em aflições e amarguras.

É necessário ao cristão perceber que o valor das suas boas obras, jejuns, esmolas, penitências etc., não se funda tanto na quantidade e qualidade, mas na intensidade do amor de Deus com que as prática.

Quanto mais se acredita em Deus e se serve a ele sem testemunhos e sinais, tanto mais ele é exaltado pelo homem.

A perfeição consiste no perfeito amor a Deus e na renúncia de si mesmo. Não se pode, portanto, deixar de ter o conhecimento de Deus e o conhecimento próprio.

O amor não cansa nem se cansa.

Onde não há amor, põe amor e colherás amor.

Para quem ama, a morte não pode ser amarga, pois nela se encontram todas as doçuras e alegrias do amor. Sua lembrança, não é triste, mas traz alegria. Não apavora, nem causa sofrimento, pois é o término de todas as dores e o início de todo bem.

Para se progredir, o que mais se necessita é saber calar diante de Deus… a linguagem que ele melhor ouve é a do silêncio de amor.

Que felicidade o homem poder libertar-se de sua sensualidade! Isto não pode ser bem compreendido, a meu ver, senão por quem o experimentou. Só então se verá claramente como era miserável a escravidão em que se estava.

Quando vires teus desejos apagados, tuas afeições na aridez e angústia, e tuas faculdades incapazes de qualquer exercício interior, não sofras por isso; considera-te feliz por estares assim. É Deus que te vai livrando de ti mesmo, e tirando-te das mãos todas as coisas que possuis.

O progresso da pessoa é maior quando ela caminha às escuras e sem saber.

As comunicações verdadeiramente divinas têm a propriedade de, ao mesmo tempo, elevar e humilhar. Neste caminho, descer é subir, e subir é descer, pois ‘quem se humilha será exaltado, e quem se exalta será humilhado’ (Lc 18,14).

A pessoa deve ter em grande estima as lutas interiores e exteriores que Deus envia. Pois são muito poucos os que merecem ser consumados por sofrimentos e os que sofrem a fim de chegar ao ápice da união.

O desamparo é comparado a uma lima; e, padecendo nas trevas, chega-se à grande luz.

O que busca satisfação em alguma coisa, não está livre para que Deus o plenifique de seu inefável sabor.

Não basta conseguir libertar-se das criaturas; é preciso libertar-se e despojar-se totalmente também do prazer que se possa experimentar nas coisas espirituais.

A pessoa que se priva do sensível, torna-se mais disponível para receber as graças e os dons de Deus.

Para o homem de coração puro, tudo se transforma em mensagem divina.

Deus quer mais de ti um mínimo de obediência e docilidade, do que todas as ações que realizas por ele.

Ainda que estejas no sofrimento, não queiras fazer a tua vontade, pois terás assim o dobro de sofrimentos.

Mesmo carregado de grandes e molestas tentações, o homem pode ir a Deus, desde que sua razão e vontade não consintam nelas.

O pássaro que se deixa prender pelo visco, tem que desprender-se e limpar-se. De duas maneiras sofre quem satisfaz seus desejos: desprender-se; e, depois de desprendido, purificar-se.

Afastam-se muito de Deus os que o representam sob qualquer forma, seja como fogo consumidor, ou luz esplêndida, ou outros aspectos, buscando nessas imagens alguma semelhança do que ele é.

A procura de gostos sensíveis causa ao homem espiritual muitos prejuízos interiores e exteriores.

Sofrer por Deus é melhor que fazer milagres.

Embora a alma esteja no céu, se a vontade não se conformar com isso, não estará contente; assim nos acontece com Deus (ainda que esteja sempre conosco), se temos o oração afeiçoado a outra coisa fora dele.

É humilde quem se esconde no seu nada e sabe abandonar-se em Deus.

É sobremaneira conveniente à alma, que quer adiantar-se no recolhimento a na perfeição, olhar em que mãos se põe; porque qual o mestre, tal o discípulo.

Põe a atenção amorosamente em Deus, sem ambição de querer sentir ou entender coisa particular a seu respeito.

Quando a alma deseja a Deus com toda a sinceridade, já possui o seu Amado.

Para chegares a saborear tudo, não queiras ter gosto em coisa alguma.

Para chegares a possuir tudo, não queiras possuir coisa alguma.

Para chegares a ser tudo, não queiras ser coisa alguma.

Para chegares a saber tudo, não queiras saber coisa alguma.

Para chegares ao que não gostas, hás de ir por onde não gostas.

Para chegares ao que não sabes, hás de ir por onde não sabes.

Sobre Prof. Felipe Aquino

O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.
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