O caso de Elias arrebatado num carro de fogo deve ser interpretado como fato histórico ou como símbolo ou figura literária?
Não há razão para se negar a historicidade do rapto de Elias. Não é o caráter maravilhoso das narrativas bíblicas que leva o exegeta a considerá-las símbolos ou figuras literárias. A seção de 4 Rs 2,1 ls não fornece indício de pertencer ao gênero literário da parábola ou da novela; os seus traços são simples e dignos de Deus. De resto, sabemos que o Antigo Testamento narra outro caso semelhante ao de Elias – o rapto de Henoque (cf. Gên 5) -, enquanto a fé cristã ensina o arrebatamento do Salvador e de Maria Santíssima aos céus; assim como Deus quis fosse real a elevação corpórea de Jesus e de Maria na plenitude dos tempos, pode ter decretado no Antigo Testamento o arrebatamento real dos corpos de Henoque e Elias aos céus.
E porque, teria determinado fenômenos tão estranhos?
A fim de inculcar a dignidade da natureza humana, seu destino transcendente e a elevada conta em que o Criador tem até mesmo as suas criaturas corporais (é o que o Santo Padre lembra na Bula de definição da Assunção de Maria).
Será lícito, porém, admitir que, segundo a tendência dos orientais, o hagiógrafo se tenha servido de uma ou outra metáfora para ilustrar o rapto do profeta que ardia de zelo à semelhança do fogo: colima, carro e cavalos de fogo poderiam indicar apenas a majestade luminosa da figura de Elias que subia aos céus. De resto, o fogo costuma caracterizar as manifestações de Deus no Antigo Testamento (cf. Ex 3,2; 24, 17; Is 30, 27; Ez 1,4); ora parece que o episódio de Elias pode ser considerado uma espécie de teofania.
Dom Estêvão Bettencourt (OSB)