Educar para as Virtudes (Parte 2)

A cada dia agrava-se mais a corrupção dos costumes e valores cristãos na TV; isto exige dos pais maior vigilância. Sobretudo é necessário conversar com os filhos sobre os embustes da TV, especialmente nos comerciais. É preciso despertar o senso crítico dos filhos para que eles não aceitem passivamente tudo que vêem na tela. Os comerciais têm o objetivo de vender, a qualquer custo, os produtos anunciados; e para isto, invertem a escala moral de valores. Os pais precisam então estar atentos para que os filhos não sejam dominados pelo consumismo fomentado pela TV, que leva as pessoas, muitas vezes, a comprar, o que não precisam, com dinheiro, às vezes, emprestado.
Certa vez foi ao ar o comercial de um desodorante. Nele aparecia uma moça que recebia o pedido de um jovem para namorá-la. A razão irresistível é que ela usava o tal desodorante. Ora, será que basta isto para que uma moça tenha um bom namorado? Mas, a maneira como a coisa é apresentada, dentro de um belo cenário, com um linda jovem, um belo rapaz, música atraente, etc., faz com que muitos tele-espectadores acabem enganados, achando que de fato aquele desodorante pode mudar-lhes a vida. Outro comercial mostrava uma moça fazendo ginástica, o que é saudável; enquanto surgia outra, bastante -esbelta-, tomando sorvete e dizendo para a que fazia ginástica: -ora, faça como eu, tome -sbelt- e tudo fica muito mais fácil.- Veja a nítida inversão de valores nestes dois casos. É preciso, então, abrir os olhos dos filhos; ensinar-lhes o senso crítico, para – não engolir nada sem mastigar -.
O propagandista de Hitler, Goebels, dizia: – mintam, mintam, sempre fica alguma coisa -. Parece que a lógica perversa de alguns comerciais é transformar, homeopaticamente, a mentira em verdade.
Em duas oportunidades, 13/01/93 e 27/01/93, o Cardeal Primaz do Brasil, D. Lucas Moreira Neves, Arcebispo de Salvador (BA), publicou no JORNAL DO BRASIL, dois importantes artigos sobre a televisão brasileira. No primeiro, cujo título é: J-ACCUSE! (Eu acuso), o Cardeal afirma: “Eu acuso a TV brasileira pelos seus muitos delitos. Acuso-a de atentar contra o que há de mais sagrado, como seja, a vida…” “Acuso-a de disseminar, em programas variados, idéias, crenças, práticas e ritos ligados a cultos os mais estranhos. Ela se torna, deste modo, veículo para a difusão da magia, inclusive magia negra, satanismo, rituais nocivos ao equilíbrio psíquico.” “Acuso a TV brasileira de destilar em sua programação e instalar nos telespectadores, inclusive jovens e adolescentes, uma concepção totalmente aética da vida: triunfo da esperteza, do furto, do ganho fácil, do estelionato. Neste sentido merece uma análise à parte as telenovelas brasileiras sob o ponto de vista psico-social, moral, religioso… Qual foi a novela que propôs ideais nobres de serviço ao próximo e de construção de uma comunidade melhor? Em lugar disso, as telenovelas oferecem à população empobrecida, como modelo e ideal, as aventuras de uma burguesia em decomposição, mas de algum modo atraente”. “Acuso, enfim, a TV brasileira de instigar à violência: A TV brasileira terá de procurar dentro de si as causas da violência que ela desencadeou e de que foi vítima… Quem matou, há dias, uma jovem atriz ? [referência a Daniela Perez]. Seria ingenuidade não indicar e não mandar ao banco dos réus uma co-autora do assassinato: a TV brasileira. A própria novela “De Corpo e Alma”.
No segundo artigo, de 27/01/93, sob o título de “Resistir, Quem Há de?  o Cardeal primaz do Brasil afirma: “Opino que a Família deve estar na linha de frente de resistência: os pais, os filhos, os parentes, os agregados – toda a constelação familiar. Ela é a primeira vítima, torpemente agredida dentro da própria casa; deve ser também a primeira a resistir. É ela quem dá IBOPE, deve ser também quem o negue, à custa de fazer greve ou jejum de TV. Cabe, pois, às famílias, “formar a consciência crítica” de todos os seus membros frente à televisão; velar sobre as crianças e os adolescentes com relação a certos programas; mandar cartas de protesto aos donos de televisão; chamar a atenção dos anunciantes, declarando a decisão de não comprar produtos que financiam programas imorais ou que servem de peças publicitárias ofensivas ao pudor, exigir programas sadios e sabotar os mórbidos para que não se diga que o público quer uma TV licenciosa, violenta e deseducativa”.

Os defeitos dos pais
O conhecido educador francês André Berge afirma no seu livro Os Defeitos dos Filhos, que “os defeitos dos filhos são filhos dos defeitos dos pais”. Se, portanto, os nossos defeitos geram os defeitos dos nossos filhos, temos que nos policiar naquilo que em nós não está correto. Pais nervosos e ansiosos muitas vezes transmitem aos filhos esses desequilíbrios, que os farão sofrer. Se de um lado, é difícil controlar as emoções e sentimentos, por outro lado, temos que nos conter diante dos filhos, para que nosso desespero não lhes causem danos. Precisamos buscar em Deus e na oração, a ajuda para superar as tensões dos momentos difíceis na vida familiar. É preciso, como disse São Paulo, “viver pela fé” (Rm 1,17; Hb 10,38), certos de que Deus cuida de nós e que “tudo concorre para o bem dos que o amam ” (Rm 8,28).
A família cristã precisa habituar-se a buscar em Deus, com fé e esperança, a solução dos seus problemas. “Tudo posso naquele que me dá forças” (Fl 4,3). “Se Deus é por nós, quem será contra nós?” (Rom 8,31). Na certeza de que Deus tudo vê, sabe e cuida, os pais devem vencer os nervosismos e descontroles emocionais que afetam os filhos. Jesus garantiu-nos que “até os cabelos de nossa cabeça estão contados” (Mt 10,30), e que nenhum deles cai por terra sem a permissão de Deus. São Pedro nos ensina a colocar todas as preocupações em Deus, que é bom Pai, e que nos uniu pelo matrimônio: “Lançai sobre Ele as vossas preocupações porque Ele tem cuidado de vós” (1 Pd 5,7). É a nossa fé que “vence o mundo” garante São João, e esta fé, para ser transmitida aos filhos deve ser vivida no lar, especialmente nas horas difíceis. É ela que afasta o medo e o pânico, tão prejudiciais para a família. Um lar alegre São Paulo diz aos tessalonicenses : “Alegrai-vos sempre no Senhor, repito alegrai-vos…” (1 Ts 5,16). A alegria é algo fundamental para a vida humana e, especialmente para o equilíbrio do lar. São Francisco de Sales, doutor da Igreja, ensinava que “um santo triste é um triste santo”. “Não entregues tua alma à tristeza, não atormentes a ti mesmo em teus pensamentos. A alegria do coração é a vida do homem … Afasta a tristeza para longe de ti” (Eclo 30, 22s).
A alegria deve ser cultivada no lar; ela é o melhor oxigênio para o crescimento tranquilo dos filhos. E esta alegria vem de Deus. “Alegrai-vos no Senhor”. Portanto, toda queixa, murmuração, reclamações, azedume e mau-humor, devem ser evitados para que o ambiente do lar não fique tenso e carregado. Certa vez assisti uma palestra sobre a prevenção às drogas, no Colégio de nossos filhos. Era um investigador de policia, que dava combate ao narcotráfico, que proferiu a aula. Ao terminá-la, concluiu dizendo aos pais alí presentes que a principal razão pela qual os filhos tantas vezes iniciam-se nas drogas, é a falta de carinho e amor dos pais e, sobretudo, por não encontrar no lar um local agradável para viver. Muitos lares, por causa das brigas e conflitos, tornam-se verdadeiros infernos onde o filho não suporta viver, buscando, então, refúgio na rua, onde tantas vezes o traficante está à sua espera, de braços abertos, para oferecer o “consolo” que ele não encontrou em casa. Isto é muito sério. Fiquei muito impressionado com a colocação daquele investigador, sobretudo por não se tratar de um padre, psicólogo, médico ou professor, mas de um policial. Os nossos filhos não podem ser “expulsos” do lar por causa dos seus conflitos internos.
O lar deve ser um ninho de amor onde os filhos gostem de estar, inclusive com os seus amigos. Eles têm este direito; pois o lar é deles. É claro que as normas de boas convivências devem ser respeitadas. Só Jesus pode dar à família a paz que ela precisa. Sem viver os seus mandamentos e sem o auxílio da sua graça, isso será impossível. “Vinde a mim vós todos que estais cansados e sobrecarregados e Eu vos aliviarei. Aprendei de mim que sou manso e humilde de coração. O meu jugo é suave e meu fardo é leve” (Mt 11,28). É dando graças a Deus, em todas as circunstâncias da vida que lhe demonstramos a nossa fé e vencemos todos os problemas. Ele está vendo tudo o que se passa no lar, e tem um desígnio de salvação em cada acontecimento. “Em todas as circunstâncias dai graças, pois esta é a vontade de Deus a vosso respeito em Cristo Jesus” (1Ts 5,17).
Note que o Apóstolo manda dar graças “em todas as circunstâncias”, e não apenas quando tudo vai bem. Dar graças a Deus por tudo, todas as horas, é o meio de, na fé, vencer todas as dificuldades e permanecer em paz no meio das adversidades.

Educação integral
A educação dos filhos deve que ser integral e atingir todas as dimensões do ser humano. No ponto mais alto da nossa escala de valores está o espírito, a vida espiritual, onde o homem se encontra como “filho de Deus”, criado por Ele e para Ele. Sem a educação para a fé, toda a formação da pessoa fica comprometida. E a Igreja não se cansa de repetir em seus documentos, que “os pais são os primeiros catequistas dos filhos”. Será difícil levar alguém para Deus, se isto não for feito, em primeiro lugar, pelos pais. Quando fala aos pais sobre a educação dos filhos, São Paulo recomenda: “Pais, não exaspereis os vossos filhos. Pelo contrário, criai-os na educação e na doutrina do Senhor” (Ef 6, 4). Aqui está uma orientação muito segura para os pais. Sem a “doutrina do Senhor”, não será possível educar. Dom Bosco, grande pai e mestre da juventude, ensinava que não é possível educar os jovens sem a religião. Seu método seguro de educar, estava na trilogia: amor – estudo – religião. Em Puebla, no III CELAM, os nossos bispos disseram: “Quando a Igreja evangeliza e consegue a conversão do homem, também o educa, pois a salvação (dom divino e gratuito), longe de desumanizar o homem, o aperfeiçoa e enobrece; faz com que cresça em humanidade (n.1013). E o documento de Santo Domingo (IV CELAM) diz: “Eduquemos os cristãos para ver Deus em sua própria pessoa, na natureza, na história global, no trabalho, na cultura, em todo o secular, descobrindo a harmonia que , no plano de Deus, deve haver entre a ordem da criação e a ordem da redenção”(n. 156). É no colo do pai e da mãe, principalmente da mãe, que o filho se torna religioso. Nunca esqueci o Terço que aprendi a rezar aos cinco anos de idade, no colo de minha mãe. Pobre filho que não tiver uma mãe que lhe ensine a rezar! Por isso, os pais não devem apenas mandar os seus filhos à igreja, mas, deve levá-los à igreja. É vendo o pai e a mãe se ajoelharem, que um filho se torna religioso; mais do que ouvindo muitos sermões.
Alguém disse um dia, que “quando Deus tem seu altar no coração da mãe, a casa toda se transforma em um templo.” Um aspecto importante da educação religiosa de nossos filhos está ligada com a escola. Como a maioria do povo brasileiro é católica (83%), e é esta maioria que paga impostos, que mantém as escolas e paga os professores, logo, esta maioria católica tem o direito de exigir que o Estado mantenha nas escolas o ensino religioso de boa qualidade e pague os professores de religião. Esta é um exigência justa e necessária que precisamos fazer cumprir para que as nossas escolas não se tornem pagãs. Chega de professores revoltados com a fé, com a religião, com a Igreja e com Deus, e que vivem -derramando a sua bílis- amarga contra o que é sagrado, sobre os nossos filhos, nas salas de aulas. A maioria católica do Brasil não pode se omitir na defesa e manuntenção dos princípios cristãos em nossas leis. É lamentável ensinarmos coisas boas aos nossos filhos, se a escola ensinar-lhes o contrário; por isso os pais cristãos precisam exercer a vigilância sobre aquilo que os seus filhos aprendem na escola.
Recentemente, na Rede de Ensino Oficial do Estado, foi distribuído aos alunos uma “cartilha” sobre educação sexual, que, na verdade, nada tem de educação sexual, mas sim de liberação sexual em todos os sentidos, inclusive em termos de homossexualidade, lesbianismo, etc. Os pais precisam saber dessas coisas e saber reclamar com todo o direito e veemência. O Concílio Vaticano II falou bem claro sobre esta questão: “Violam-se os direitos dos pais no caso de os filhos serem obrigados a assistir a aulas que não correspondam às convicções religiosas de seus pais ou no caso de se impor um único sistema de educação do qual se exclua de todo a formação religiosa. (DH, 5) Como cidadãos temos o direito e o dever de exigir que as nossas escolas sejam religiosas. Mas isto só acontecerá se não cruzarmos os braços. Certa vez o Papa Leão XIII disse que: “A audácia dos maus se alimenta da covardia dos bons”. Abaixo da vida espiritual está a racional, intelectual. Os pais devem fomentar o seu desenvolvimento pela escola e pelos estudos, mas não simplesmente para que os fiilhos possam “ser alguém na vida”, ou exercer uma profissão que lhes garanta bom emprego e muito dinheiro. Com facilidade os pais transmitem essa mentalidade aos filhos, e isto desvirtua o sentido da ciência, da profissão e do trabalho.
O grande educador Malba Tahan, dizia que “cultivar a ciência só pela utilidade imediata é desvirtuar o sentido da própria ciência”. Não há oposição entre a ciência e a fé, pelo simples fato de que ambas foram criadas pelo mesmo Deus. Uma ajuda a outra, como se fossem irmãs que se auxiliam. Sem a ciência a fé muitas vezes cai no fanatismo sentimentalista, e se torna perigosa; sem a fé, a ciência pode se tornar ameaçadora para o próprio homem. Não podemos nos esquecer que dentro do Vaticano existe uma Pontifícia Academia das Ciências. Lorde Bacon afirmou certa vez que: “uma filosofia superficial inclina o pensamento do homem para o ateísmo, mas uma filosofia profunda conduz as mentes humanas à religião.- O grande físico francês, Blaise Pascal, profundamente cristão, também dizia que “a pouca ciência pode afastar de Deus, mas a pura ciência faz-me chegar a Ele. Não é à toa que os seminaristas estudam três anos de Filosofia! Machado de Assis garantia que “a verdadeira ciência não é enfeite, mas nutrição”. Nesta linha, o Marquês de Maricá dizia que: ” Uma boa leitura dispensa com grandes vantagens a companhia de pessoas frívolas”. Devemos ensinar aos filhos que, na visão cristã, o trabalho e a profissão, visam, em primeiro lugar, o aperfeiçoamento da própria pessoa e a construção do mundo no serviço aos irmãos. Como retribuição recebemos o pagamento justo que garante o nosso sustento. É imperioso mostrar aos filhos que o valor de uma vida está no “servir”, e que o trabalho é a maneira habitual de ser útil. Os pais devem iniciar os filhos no exercício do trabalho responsável. Uma pessoa ociosa está aberta ao vício e à desordem.
O sentido da responsabilidade deve ser desenvolvido pelos pais desde cedo, seja nos estudos, no trabalho doméstico e nos trabalhos da família. É importante levar os filhos a cultivarem o “ser” muito além do “ter”. Uma pessoa tem valor pelo que ela é, e não pelo que tem; mas o mundo, de mil maneiras, a todo instante, ensinará o contrário aos nossos filhos. Sobretudo os pais têm o grave dever de “educar para o amor”, ensinando aos filhos a beleza do serviço desinteressado aos que precisam de ajuda. A raiz do egoísmo deve ser combatida desde a tenra idade para que o jovem não se torne um adulto fechado sobre os seus próprios interesses, egocêntrico e individualista. A grandeza do homem está no fato dele ser “filho de Deus”, irmão de Jesus Cristo e de todos os homens, e senhor do mundo criado. Santo Irineu (+202) dizia que “a glória de Deus é o homem vivo”. É portanto a grande manifestação da glória de Deus, confiado aos pais para desenvolver os seus talentos. Aos filhos deve ser ensinado aproveitar bem o tempo e não desperdiçá-lo nunca. Muitos jovens jogam fora boa parte de suas vidas na ociosidade. São João Bosco alertava que “mente vazia é oficina do diabo”, e não deixava seus jovens sem atividades. Uma atenção especial deve ser dada no sentido de evitar que os filhos cultivem a preguiça. Após o pecado original, Deus fez do trabalho uma terapia para a redenção do homem: “Comerás o teu pão com o suor do teu rosto até que voltes à terra de onde foste tirado” (Gn 3,19).
O trabalho, longe de ser um castigo imposto ao homem, foi um “remédio” para as más inclinações da preguiça. Os amargos frutos desse pecado capital são muitos: desobediência aos pais, fracasso nos estudos, desordens em casa, não cumprimento dos deveres, etc. É também na infância que os pais devem tirar as raízes da preguiça da alma da criança. Não podemos deixar que os nossos filhos cresçam com a mentalidade nada cristã de que o trabalho deve ser evitado. Jesus trabalhou até os trinta anos, como carpinteiro, para nos dar o exemplo da dignidade e importância do trabalho. É através dele que cooperamos com Deus na obra da criação, e com ele prestamos a caridade rotineira. São Bento resumiu a vida do monge no “ora et labora”(reza e trabalha).
Falando certa vez sobre a vida oculta de Jesus, em Nazaré, durante a célebre viagem que fez à Terra Santa, o Papa Paulo VI, disse: “Uma lição de trabalho. Nazaré, ó casa do ‘Filho do Carpinteiro’, é aqui que gostaríamos de compreender e celebrar a lei severa e redentora do trabalho humano…” (05/01/74).

O nosso Catecismo ensina que:
“O trabalho é pois um dever: ‘Quem não trabalhar , também não há de comer'(2Ts 3,10). O trabalho honra os dons do Criador e os talentos recebidos. Suportando a pena do trabalho, unido a Jesus, o artesão de Nazaré e o crucificado do Calvário, o homem colabora de certa maneira com o Filho de Deus na sua obra redentora. Mostra-se discípulo de Cristo carregando a cruz de cada dia, na atividade que está chamado a realizar. O trabalho pode ser um meio de santificação e uma animação das realidades terrestres no Espírito de Cristo” (CIC, 2427).
Esse ensinamento da Igreja mostra bem o valor sobrenatural do trabalho do homem; e portanto, diz aos pais o quanto é importante introduzir os filhos no mundo do trabalho com uma correta mentalidade que lhes acompanhe a vida toda. O mundo da oficina deve ser tão sagrado quanto o seio da igreja onde entramos para celebrar o Santo Sacrifício. Não podemos dividir a nossa vida numa parte profana e outra religiosa; o mesmo Deus é o autor da fé e do trabalho, e quer, que através de ambos cheguemos à santidade. São Domingos Sávio, modelo de santidade jovem, dizia que ser santo “é cumprir bem os deveres e ser alegre”. Que receita simples, nascida no coração de uma criança santa! Nós leigos somos chamados a santificar o mundo através do trabalho. Um mau trabalhador, preguiçoso, negligente, displicente, é também um mau cristão. Temos que ensinar aos nossos filhos que o trabalho não deve ser bem realizado só quando o patrão está perto, ou quando o salário é gratificante; mas, em qualquer circunstância deve ser bem feito, para a maior glória de Deus. São Paulo, ao escrever aos colossenses, disse: “Tudo o que fizerdes, por palavras ou por obras, fazei-o em nome do Senhor Jesus, dando por Ele graças a Deus Pai” (Col 3,17). “Tudo o que fizerdes, fazei-o de bom coração, como para o Senhor e não para os homens. Sabeis que recebereis como recompensa a herança das mãos do Senhor. Servi ao Senhor Jesus Cristo” (Col 3,21).
Esses ensinamentos do Apóstolo mostram que “tudo” o que fazemos deve ser bem feito, por amor a Deus e para Deus; e, é Dele, de Suas Mãos, que vamos receber o prêmio da fidelidade de ter trabalhado bem, por mais simples que seja o nosso ofício. Portanto, é preciso ensinar o filho a trabalhar como se o Senhor fosse o Patrão; e na verdade Ele é o grande Chefe desta oficina que é o mundo. Não permitam que os filhos caminhem na ociosidade, para que não cheguem às moradas dos vícios.

Ira e ressentimento
O ser humano, naturalmente, é levado à ira e ao ódio quando é contrariado e ofendido; uns mais, outros menos, conforme a própria índole. Os pais cristãos precisam ensinar aos filhos o que Jesus nos ensinou: “não pagar o mal com o mal”, mas com o bem. E isto não é fácil; pois o mundo ensina sempre o “bateu, levou”, isto é, o revanchismo, a desforra. “Não resistais ao mal. Se alguém te ferir na face direita, oferece-lhe também a outra” (Mt 5,38). “Quando o ímpio amaldiçoa o adversário, amaldiçoa-se a si mesmo” (Eclo 21,30). “Amai os vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam, orai pelos que vos maltratam e perseguem” (Mt 5,43). A marca mais distintiva do cristianismo é o perdão que vence o ódio, o desejo de vingança, a sede de represália. Sobretudo neste ponto é difícil educar os filhos porque o mundo fala-lhes uma linguagem oposta. Mas, se quisermos os nossos filhos verdadeiramente cristãos, temos que insistir nesta máxima de Cristo, o perdão.
O ódio é destruidor; a violência gera mais violência; o mundo só poderá ter paz a partir da quebra da corrente da violência pela força do perdão. Sobretudo é preciso exigir dos filhos este comportamento em casa, e nunca permitir que fiquem uns brigados com os outros, sem se falarem, etc. “Agora, porém, deixai de lado todas essas coisas: ira, animosidade, maledicência, maldade, palavras torpes … (Cl 3,8). Os pais devem desenvolver nos filhos a virtude da mansidão cristã que sabe perdoar. “Aquele que se quer vingar sofrerá a vingança do Senhor, que guardará cuidadosamente os seus pecados” (Eclo 28,1). “Não se ponha o sol sobre o vosso ressentimento. Não deis lugar ao demônio” (Ef 4,26). O ódio é como que a cólica da alma; antes de matar o inimigo, mata primeiro, lentamente, o próprio dono. É um lento suicídio. A cólera é como uma loucura momentânea, que se não for contida termina em tragédia.

Sobre Prof. Felipe Aquino

O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.
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