É esforço, esperteza ou dom?

Com grande sabedoria o Concílio encorajou a Igreja a estabelecer diálogo com o mundo moderno, e com as grandes religiões. Houve enormes tentativas. Mas até parece que, quanto maiores os esforços, menores os resultados. Vejamos só o gigantesco esforço desse homem aberto, que foi João Paulo II. Diante de erros históricos, cometidos por homens da Igreja, como o processo de Galileu, a inquisição  espanhola, certas guerras de religião, o Papa pediu desculpas diante do mundo. Alguém perdoou?

Parece que não. Doze anos depois os ataques continuam, quase do mesmo jeito. É tão vantajoso bater em alguém que não tem a mínima condição de retribuir…Se todos seguissem o maravilhoso exemplo do Papa, como o mundo seria diferente. Não ficariam, travadas na garganta, as vozes de vingança, prestes a explodir. “Perdoai os vossos inimigos”,  dizia Jesus. Isso daria condições de zerar os nossos conflitos, e recomeçar.

No campo ecumênico as tristezas são maiores do que as alegrias. Cinqüenta anos depois do Concílio, continuamos marcando passo. Houve uns pequenos consolos, algumas aproximações positivas. Mas além disso, somos parecidos com os corredores da fórmula um, cujo veículo, uma vez caído na caixa de brita, não sai mais do lugar. Os Anglicanos, algum dia, vão acertar os passos com os Católicos? Humanamente falando, jamais. Os Ortodoxos e os Católicos vão abandonar as suas agruras históricas, e procurar se acertar? Esqueçam. É inútil lembrar os Uniatas, que reconhecem o Papa. Parece que não passarão da situação atual.

Desnecessário lembrar os Albigenses. É da natureza humana adorar uma boa briga, e dar o troco por desaforos sofridos. Se depender do esforço de pessoas boas, ou até das espertezas e diplomacias humanas, estaremos desunidos para sempre (e com chance de aumentar a desunião). Mas o Eterno guarda uma carta na manga. Um dia mais, ou um dia menos, o Pai das Misericórdias nos concederá a unidade como um dom gratuito. O melhor que podemos fazer não é “dialogar”. Mas rezar. Pela humilde oração podemos antecipar os tempos. O que Jesus previu irá se cumprir: “haverá um só rebanho e um só Pastor” (Jo 10, 16).

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Dom Aloísio Roque Oppermann
Arcebispo de Uberaba (MG)

Sobre Prof. Felipe Aquino

O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.
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