Dom Bruno Gamberini, zeloso pastor da alegria

Uma nuvem de tristeza baixou sobre o mundo! O falecimento de Dom Bruno Gamberini, Arcebispo de Campinas nos faz sentir como que uma nuvem de tristeza baixando sobre nós. A morte nos visitou mais uma vez e levou do nosso meio um homem bom! A morte é uma certeza que temos, mas, sempre, mesmo quando se esteja doente, e grave, é um imprevisto. Definitivamente, a morte não está nos nossos planos e somente na perspectiva da fé na ressurreição, podemos perceber que a morte não é o fim, mas o lugar do verdadeiro nascimento do ser humano e de toda a criação.

Dom Bruno partiu para a casa do Pai. Aos sessenta e um anos de existência, ele nos deixa pesarosos; e pesarosos nos perguntamos: por que assim tão cedo deves ir? Mistério! Mistério profundo do desígnio insondável de Deus… Caminhamos na penumbra, em meio às sombras do mistério que se desvendará para nós no último dia.  Caminhamos no nevoeiro, mas caminhamos à luz da fé: a vida não é tirada, mas transformada.  Assim foi com o papa João Paulo I, o papa do sorriso que reinou somente trinta e três dias. A Dom Bruno foram dados sete anos como arcebispo de Campinas, sete que na linguagem bíblica é o número da plenitude. Pouco tempo, mas ele o viveu na plenitude da entrega, do trabalho incansável e fadigoso. Não há maior amor que dar a vida pelos irmãos. Dom Bruno entregou sua vida pelo rebanho, não se poupou, fez-se tudo para todos, nós somos testemunhas disto! Por isso, por causa de nossa fé podemos dizer que ele não morreu, mas entrou na  vida definitiva reservada aos que são fiéis!

Com seu carisma todo especial para tratar os outros, com sua percepção atenta à multiplicidade de temperamentos, Dom Bruno sabia se relacionar bem com todas as pessoas. Por isso o fato de ser tão querido, especialmente do povo. Seu temperamento otimista o fazia perceber em primeiro lugar o lado positivo das pessoas, buscando sempre, mais o que poderia unir do que aquilo que poderia desunir. Trabalhar pela unidade sempre foi sua meta. Por isso desagradava aos que tudo apostaram na luta de classes. Estes que combatem a miséria mas não conhecem a misericórdia, não o entendiam. Mas os pobres sempre o entenderam e amaram. O povo de Deus de sua tão amada Arquidiocese de Campinas o acolheu e o trouxe no coração desde o seu primeiro dia, quando aqui chegou repleto do desejo de amar e servir! Com muita sabedoria, humildade, paciência e zelo soube levar avante os trabalhos pastorais na  Arquidiocese, dando nova vida ao presbitério,  criando paróquias e ordenando inúmeros sacerdotes. Com abertura missionária recebeu e também enviou padres para a missão.  A Arquidiocese melhorou em todos os sentidos como fruto de seu trabalho incansável.

Sua educação no trato com o povo e sobretudo,  a grande fé, sua busca pela unidade em Jesus Cristo,  fazia-o perseverar sempre na alegria, esta virtude esquecida muitas vezes por nós cristãos. Servir a Deus com alegria, bendizer seu santo nome, esta foi a trajetória de Dom Bruno. Em meio a inúmeras dificuldades Dom Bruno mantinha sua alegria. Certa vez me disse: “Minha mãe me pediu para que nunca deixasse ninguém tirar minha alegria”. Assim, por causa de sua fé e em memória da sua mãe, mesmo em situações críticas, não perdia a alegria que lhe brotava espontânea do coração, como um grande ato de fé na vida, fé na vitória do bem e por fim, alegria de poder ser misericordioso com os ignorantes e malvados, como age o Pai do céu, que faz chover sobre justos e injustos.

Nomem domini benedictum (Bendito seja o nome do Senhor) este era seu lema de episcopado. A glória do Senhor Jesus que ele proclamou em seu ministério foi seu tesouro. Nenhum sofrimento o aniquilou por causa de sua fé na ressurreição. Quantas vezes trabalhando com Dom Bruno pude aplicar a ele as palavras de São Paulo na 2Cor cap. 4, 8-14: “De todos os lados nos apertam, mas não nos afogam; estamos em apuros, mas não desesperados; somos perseguidos, mas não desamparados…visto que possuimos o mesmo espírito de fé, do qual está escrito ´acreditei e por isso falei´, também nós cremos e por isso falamos, convencidos de que aquele que  ressuscitou o Senhor Jesus ressuscitará a nós com Jesus e nos levará à sua presença”.

Dom Bruno foi um ótimo comunicador. Com muita facilidade se fazia entender por todos. Deixando de lado todo comodismo, se dedicou horas e horas a gravar programas que depois eram veiculados nos meios de comunicação. Trabalho extenuante mas gratificante, porque o colocava em contato com seus ouvintes em toda a extensão da Arquidiocese e além. Porque acreditou, vivendo na dimensão do discipulado que ouve a Palavra e a medita, pode ser também missionário levando a todos a palavra do Evangelho. A guarda da Palavra foi-lhe uma rocha protetora, a base de sua vida espiritual. Ide e anunciai o Evangelho, e Dom Bruno foi e anunciou com coragem e alegria! Nós o agradecemos por isso, servo bom e fiel e certamente já recebestes o abraço do Pai das luzes na eternidade feliz.

Com certeza Dom Bruno pode pronunciar como Jesus na cruz as últimas palavras; “Tudo está consumado” (Jo 19,30). Através do sofrimento e da dor que o afligiram nestes últimos meses, sua vida atingiu sua plenitude. Foi salvo definitivamente da morte e agora é capaz de adorar infinitamente a Deus para sempre. E então a morte não é o ponto final, mas o ponto culminante da existência que permite passar a ver tudo com os olhos do ressuscitado que vive para sempre.

Dom Bruno ressuscitado é o que desejamos celebrar ao rezarmos em seu sufrágio. Assim podemos colocar em seus lábios as palavras do profeta Isaías 12, 2-6: “Eis o meu Deus Salvador, tenho confiança e não tremo, pois a minha força e meu canto é o Senhor! Ele foi para mim a salvação. Com alegria tirareis água das fontes da salvação e direis, naquele dia: Rendei graças ao Senhor, proclamai o seu nome, publicai entre os povos as suas façanhas, repeti que o seu nome é sublime. Cantai ao Senhor!”

Há dez meses, aqui mesmo nesta catedral, Dom Bruno presidiu a celebração de minha ordenação episcopal. Recordo-me de seu contentamento com minha nomeação, como foi solícito e amigo, ajudando-me em tudo indo até mesmo apresentar-me ao clero de minha diocese. Sou-lhe profundamente grato por tudo. Na visita que lhe fiz em sua casa o mês passado, pareceu despedir-se. Estava mais preocupado em saber como eu estava indo neste início de ministério episcopal, do que falar de sua situação. Nos  despedimos com um abraço, ele me abençoou e eu o abençoei  e  ele me recomendou que cuidasse de minha saúde!

Dom Bruno, pastor da alegria que brota da ressurreição, descanse em paz. “Requiem aeterna dona ei, Domine et lux perpetua luceat ei”. Na eternidade, ouvindo  música celestial já estas na harmonia perfeita: a paz de Deus!

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Dom Pedro Carlos Cipolini
Bispo Diocesano  de Amparo – SP

Sobre Prof. Felipe Aquino

O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.
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