Deus quer falar com você!

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Acredite, até na cadeira do dentista Deus pode falar com você…

Brilhantemente o Catecismo da Igreja Católica nos ensina:

“Deus é o primeiro a chamar o homem. Ainda que o homem esqueça seu Criador ou se esconda longe de sua Face, ainda que corra atrás de seus ídolos ou acuse a divindade de tê-lo abandonado, o Deus vivo e verdadeiro chama incessantemente cada pessoa ao encontro misterioso da oração” (§2567).

Deus quer falar conosco!

Ao falarmos com nossa consciência, quase que automaticamente, percebemos que estamos falando com Deus. Quando nos sentimos sozinhos, sem ter com quem falar, percebemos que Deus está sempre disposto a conversar. E em tantas outras situações, de tantas outras maneiras. Orar é tão humano como respirar, comer e amar.

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Um grande exemplo disso é Moisés. Ele tinha uma relação profunda com Deus: “O Senhor falava com Moisés face a face, como quem fala com um amigo” (Ex 33,11). Sempre antes de agir, ou de ensinar ao povo, Moisés se retirava para orar. Conversar com Deus.

E quando podemos orar? A todo o momento. Deus sempre quer falar conosco. Seja por meio de Sua Palavra, dos sacramentos, ou de situações simples no nosso dia-a-dia. Deus quer estar conosco. Só que se não silenciarmos nosso espírito, não conseguiremos ouvi-lo, muito menos perceber o que Ele está fazendo conosco. Por isso, quero te dar uma dica e partilhar algo que aconteceu comigo recentemente.

A dica é: meditar e orar! É fundamental na vida do cristão, meditar todos os dias. Quando nos dispomos a isso e nos colocamos na presença de Deus, que habita em nossa alma, Ele nos revela os seus desígnios e vontade para a nossa vida. Mas é importante fazer silêncio para ouvir a voz do “hóspede da nossa alma”. E Ele mesmo nos dá essas oportunidades, basta a gente saber aproveitá-las.

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Agora, vou contar algo que aconteceu comigo.

Recentemente, fui ao dentista. Precisava tratar quatro canais de um dente devido a uma grave infecção. De repente, logo ali estava: na cadeira do dentista. E por cerca de uma hora e meia ali permaneci, naquela exótica cadeira do dentista, com a boca toda anestesiada, sem o direito de me mexer, sem falar, nem reclamar. E tem que ser assim mesmo, caso contrário o especialista em canais dentários não tem como realizar aquele procedimento tão delicado.

Não foi fácil achar e tratar de tal “quarto canal” que estava obstruído e calcificado; quem puder que entenda. Bem, só me restava ficar apenas calado e inerte, acreditando na capacitação e perícia do amigo dentista, Dr. Vance, amigo dos meus dois filhos dentistas, Davi e André.

Pois bem, naquele “silêncio odontológico”, com boca aberta e olhos miúdos, ouvi o Davi me dizer: “Pai, vai dar tempo do senhor rezar um Rosário inteiro!”. Ai, pensei comigo, eu gasto ao menos uma hora e meia para isso, e foi exatamente o que durou o tratamento. Mas, então, aproveitei para rezar e meditar.

Que meditação é possível fazer numa cadeira de dentista, depois de ter a boca perfurada pelas agulhas das anestesias e uma broca giratória em altíssima velocidade limpando a cavidade dentária? E mais, um cone de assepsia envolvendo o dente doente e toda a boca! Além de tudo, ter o amigo dentista debruçado sobre mim, como se fosse me salvar com uma respiração boca a boca. Tenho pena dos dentistas, e mais ainda dos seus pacientes. De vez em quando o amigo me perguntava: “Tudo bem?”. Apenas eu podia sussurrar: Huuuummmmm!

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Mas eu insisti na meditação. O que posso meditar nesta situação? Talvez eu possa repetir muitas jaculatórias: “Meu Jesus, tem piedade de mim! Misericórdia Senhor!” Mas, lembrei-me de Michelangelo que se debruçava como o Dr. Vance, sobre um bloco de pedra e tirava dele um anjo ali escondido. Pensei comigo, “aqui agora eu sou este bloco de pedra”. Devo ficar calado e quieto aceitando as marteladas do perito escultor que faz em mim a sua obra. Se eu não ficar quieto, imóvel e dócil, sem reclamar e chorar, ele não vai poder exercer a sua preciosa e indispensável arte de me curar. Recobrei os ânimos.

Fiquei pensando que Deus faz assim comigo também. Ele quer tirar para fora o anjo que há dentro de mim, mas que o pecado original encheu de coisas que não são dele, e que o encobrem. Sim, pensei, fui criado à imagem de Jesus, o homem Deus, e São Paulo disse que “Deus nos predestinou para sermos conformes a imagem do Seu Filho” (Rom 8,29). Então, eu quero ter essa imagem para poder um dia viver com o Senhor.

Mas esta obra é grande demais para eu executá-la, tem de ser feita pelo próprio Deus; a mim cabe apenas ficar quieto, aceitar tudo e não se mexer, não reclamar, não chorar e deixar o grande Artista retirar da pedra bruta o anjo à sua imagem, cortando o que o pecado lhe acrescentou e que não é dele. Lembrei-me dos Profetas que nos comparam como um vaso de barro moldado pelo oleiro:

“Vai e desce à casa do oleiro, e ali te farei ouvir minha palavra” (Jer 18, 2). “Desci, então, à casa do oleiro, e o encontrei ocupado a trabalhar no torno” (Jer 18, 3). “Foi esta, então, a linguagem do Senhor: casa de Israel, não poderei fazer de vós o que faz esse oleiro?” (Jer 18, 5)

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“Que perversidade a vossa! Pode-se tratar como barro o oleiro? Pode a obra dizer do artífice: Ele nada me fez? Pode o pote dizer do oleiro: Ele nada entende disso?” (Is 29, 16). “Ai daquele que discute com quem o formou, vaso entre os vasilhames de terra! Acaso diz a argila ao oleiro: Que fazes? Acaso diz a obra ao operário: És incompetente?” (Is 45, 9). “E, no entanto, Senhor, vós sois nosso pai; nós somos a argila da qual sois o oleiro: todos nós fomos modelados por vossas mãos” (Is 64, 8).

Entendi que na vida eu tenho que aceitar as marteladas do Mestre que me molda à sua semelhança. Por fim, os canais foram tratados; a argila não discutiu com o oleiro. Não lhe perguntou “o que fazes?, és competente?, me amas?”. Sai daquela cadeira pensando: “nós somos a argila da qual Deus é o oleiro: todos nós somos modelados por vossas mãos”.

Que alegria saber que Deus pensa em mim e gasta seu tempo comigo. Ele me ama! Obrigado Dr. Vance. Até na sua cadeira odontológica a gente pode se encontrar com Deus.

Prof. Felipe Aquino

Sobre Prof. Felipe Aquino

O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.
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