Deus nos santifica pelo sofrimento

O Carvalho é uma árvore usada pelos botânicos e geólogos como um medidor de catástrofes naturais do ambiente. Quando querem saber o índice de temporais e tempestades ocorridas numa determinada floresta, eles observam logo o carvalho.

Quanto mais temporais e tempestades o carvalho enfrenta, mais forte ele fica! Suas raízes naturalmente se aprofundam mais na terra e seu caule se torna mais robusto, sendo impossível uma tempestade arrancá-lo do solo ou derrubá-lo!

Basta apenas eles olharem para o carvalho. Por absorver as consequências das tempestades, a robusta árvore assume uma aparência disforme, como se realmente tivesse feito muita força.

Muitas vezes uma aparência triste! Cada tempestade para um carvalho é mais um desafio a ser vencido e não uma ameaça! Numa grande tempestade, muitas árvores são arrancadas, mas o carvalho permanece firme!

O grande padre Leonel França disse que “quem se decidiu a sofrer resolveu o problema de sua santificação”.

Deus nos ama tanto que chega a ter ciúme de nós. É o que São Tiago nos ensinou: “Sois amados até ao ciúme pelo Espírito que habita em vós” (Tg 4,5). Mas, caminhamos nesta vida muitas vezes trocando o Deus verdadeiro pelos ídolos mudos: fama, dinheiro, prazer, etc… E, como Deus nos ama “até ao ciúme”; Ele não quer nos perder para esses ídolos, para os quais somos arrastados pelas nossas más inclinações.

Para nos educar e quebrar em nós esses maus impulsos, Ele sabe usar as provações da vida para nos corrigir. Os santos ensinaram que muitas vezes Deus precisa usar os sofrimentos para arrancar as ervas daninhas que sufocam a nossa alma. É o que nos ensina a Carta aos Hebreus:

“Filho meu, não desprezes a correção do Senhor. Não desanimes quando repreendido por ele; pois o Senhor corrige a quem ama e castiga todo aquele que reconhece por seu filho (Pr 3,11s)” (Hb 12, 5-6). E continua: “Estais sendo provados para a vossa correção: é Deus que vos trata como filhos. Ora, qual é o filho a quem seu pai não corrige? Mas se permanecêsseis sem a correção que é comum a todos, seríeis bastardos e não filhos legítimos” (Hb 12,7-8).

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Por que existe o sofrimento?

Depois que o pecado entrou no mundo, as provações desta vida fazem parte da pedagogia paterna de Deus para nos salvar. O salmista já entendia isto:

“Feliz o homem a quem ensinais, Senhor” (Sl 93,12a).

“Bem-aventurado o homem a quem Deus corrige!” (Jó 5,17a).

O autor sagrado foi fundo na questão:

“Deus nos educa para o aproveitamento, a fim de nos comunicar a Sua santidade” (Hb 12,10).

Pelas provações, Deus quer fazer-nos santos. É por isso que a provação é penosa para nós. Mas, disse o apóstolo: “É verdade que toda correção parece, de momento, antes motivo de pesar que de alegria. Mais tarde, porém, granjeia aos que por ela se exercitaram o melhor fruto de justiça e de paz” (Hb 12,11).

Essa é a recompensa da educação paterna de Deus: paz, justiça e santidade. São Paulo nos consola quando diz: “Tenho para mim que os sofrimentos da presente vida não têm proporção alguma com a glória futura que nos deve ser manifestada” (Rm 8,18).

François Coppée dizia no meio do seu câncer de garganta: dor bendita! “bonne souffrance!” “Bendito sofrimento que me trouxe Deus!”.

Muitas vezes, Deus entra em uma vida através de um reumatismo, de uma cegueira, de uma pneumonia, um câncer, uma perna amputada… Nada disto é bom, e deve ser evitado, mas Deus sabe usar estes males para o nosso bem.

Musset dizia que “o homem é o aprendiz, a dor o mestre, e nada se conhece bem quando não se sofreu”.

Para livrar S. Paulo do perigo da vaidade – ele mesmo afirma – Deus lhe deu “um espinho na carne”. O Apóstolo teve visões celestes, e isto podia levar-lhe ao orgulho; então Jesus deu-lhe aquele espinho, que não sabemos que tipo de sofrimento era.

Portanto, não nos assustemos com o sofrimento de cada dia: eles são a cruz da nossa salvação. É por isso que Jesus nos disse: “Tome cada dia a sua cruz, e siga-me” (Lc 9,23c).

Esta é a maneira cristã de enfrentar o sofrimento. Não há outra. Deus nos ama e por isso nos educa através das provações da vida que, segundo São Tiago, produzem em nós “uma obra perfeita” (Tg 1,4).

Até mesmo os nossos pecados nos ajudam a crescer, se tivermos fé. O sofrimento formou grandes vidas. Alguém disse que o sofrimento é um “relho de ouro” que atrai para Deus.

Para S. Afonso de Ligório o caminho da santificação consiste em “fazer o que Deus quer e querer o que Deus faz”. É uma luta entre fazer a nossa pobre vontade e fazer a vontade de Deus. Para o santo, a vontade de Deus é a única regra do justo e do perfeito, e o seu cumprimento dá a medida do nosso adiantamento espiritual.

Para o santo Cura D’Ars, S. João Vianney, para ganhar o Céu é preciso da graça e da cruz. Para o santo, o sofrimento é necessário para conservar a graça.

Felix Leseur disse que “no domínio espiritual nada de grande se faz que não tenha por base o sofrimento”.

A alma fraca faz a vontade de Deus quando Deus faz a sua vontade; em caso contrário, abandona a Deus. Isto é uma falsa piedade. A hora das grandes almas é a hora do sofrimento; agigantam-se. Como dizia Lacordaire: “Quando tudo está perdido, então é a hora das grandes almas”.

É uma arte saber aproveitar as nossas misérias para nosso progresso espiritual, assim como se aproveita o esterco para adubar a planta e a flor. A cruz que Deus permite chegar a nós vem coberta de graças.

S. Francisco de Sales ensinava que “a cruz é a porta real de entrada para a santidade”.

Sem dúvida, o sofrimento é um purgatório antecipado na terra, aonde já vamos nos purificando e santificando. Por isso muitos santos diziam: “Batei, cortai, feri, meu Deus, contanto que me salve!”.

“É o jardineiro divino que poda a videira para que dê mais frutos” (Jo 15, 5).

Somos como o barro nas mãos do oleiro. Deus torneia, endurece, põe no fogo, quebra-o quando necessário. Nunca o vaso diz ao oleiro “não estou contente!” ou “por que me fizeste assim?” Que o barro vil e pecaminoso seja amassado e batido para se transformar num belo vaso da glória de Deus. Não vale a pena?

Somos também, nas mãos de Deus, como aquelas pedras bem talhadas para a construção da Jerusalém celeste, que descerá do Céu para ser a Esposa do Cordeiro (cf Ap 21,9s).

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Quando Michel Ângelo queria fazer uma escultura, ia com os discípulos às montanhas de mármore para escolher uma pedra, um monobloco, para esculpir a obra.

Certa vez olhou para um grande bloco de mármore e disse aos alunos: “Aí dentro há um anjo, vou colocá-lo para fora”. E começaram a trabalhar a pedra. Logo o anjo foi surgindo nas mãos geniais do artista. Seus alunos admirados lhe perguntaram: “Mestre, como foi possível isto?” Ao que ele lhes respondeu: “Meus filhos, o anjo já estava dentro da pedra, nós apenas o colocamos para fora, tirando o que estava sobrando…”.

Deus faz assim conosco, “vai tirando os excessos que estão sobrando” e impedindo o anjo de surgir em nossa alma. As marteladas e os cortes do Artista divino vão moldando-nos novamente á sua imagem e semelhança, como fomos criados. Isto pode doer, mas vale a pena.

Prof. Felipe Aquino

Sobre Prof. Felipe Aquino

O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.
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