Deus está de volta – EB (Parte 2)

Todo este
sistema do universo está em expansão e parece estender-se em torno de nós
atingindo distâncias de aproximadamente 20 bilhões de anos luz. O fato desta
expansão leva os astrônomos a tentar reconstituir o passado do cosmo: julgam,
pois, que se deriva de uma grande e estrondosa explosão (big bang).

E que terá explodido?
– Um pouco de matéria de dimensões infinitesimais (10-³³ cm de raio) a uma
temperatura de centenas de bilhões de graus… Nada de muito seguro se pode
dizer a propósito.

Aliás, o
universo não está apenas em expansão; está também em evolução contínua e em
grande escala: a densidade média da matéria vai diminuindo e talvez também a
sua velocidade de expansão esteja mudando. Em testemunho desta afirmação,
pode-se citar, entre outros, o fenômeno das estrelas ditas novae (novas) e supernovae
(super-novas) são enormes massas ígneas à semelhança do nosso sol, que se
extinguem com violência inimaginável, emitindo imprevistos fulgores no espaço.
Este fenômeno está em conexão com o dos chamados “buracos negros”: estes são resíduos
de grandes estrelas (não menos de duas ou três vezes a massa solar); tendo
consumido por completo o seu combustível nuclear, entram em colapso
gravitacional; então toda a massa da ex-estrela é irresistivelmente tragada no
interior de uma esfera que tem por raio o que se chama “raio gravitacional” ou
“raio de Schwartzchild” (para o nosso sol, esse raio é de 3 km; para a Terra, é
de menos de 1 cm); o fenômeno dos “buracos negros” aparece como algo de
gravemente anômalo e desconcertante no conjunto das leis da natureza; os
“buracos” são como que “zonas extraterritoriais” de incomunicabilidade no
universo.

Pergunta-se:
o universo em expansão para onde se dirige? – Há quem responda que tende a
contrair-se de novo, retornando ao estado de condensação, segundo um dos
modelos imaginados pelo astrônomo russo Friedmann. A essa fase de contração
suceder-se-ia novo big bang, do qual resultaria mais uma vez a expansão do
universo. Por conseguinte, este seria sujeito a ciclos, caracterizados por
dilatação e contração sucessivas. – Todavia deve-se observar que a teoria do
“universo cíclico” é extra-científica; ela postula estados passados e futuros
do universo, dos quais não há prova científica. “Não tem sentido perguntar o
que acontecerá  após o colapso final do
universo, como também não tem cabimento falar do que haverá acontecido antes do
big bang”, comenta oportunamente J. N. Islam na revista Sky and Telescope, jan.
1979, p. 18.

Ora o
estudo do universo, de suas inimagináveis dimensões e de seus maravilhosos
fenômenos não pode deixar de suscitar no homem interrogações e atitudes de
ordem filosófica o estudioso é impelido a procurar o sentido da matéria, do
tempo e do próprio homem… As ciências naturais e, em especial, a Astrofísica
se aproximam da filosofia e da teologia, porque sugerem logicamente as
perguntas: Donde vimos? Para onde vamos ? O mistério do universo, em última
análise, leva o estudioso a reconhecer os vestígios e a sabedoria do Criador,
como insinuam os repórteres da revista “VEJA”.

Foi
precisamente a questões metafísicas, ligadas à fé, que chegaram astrônomos de
diversos países reunidos em Roma de 24 a 29 de setembro de 1979 para realizar
um Congresso sobre “O problema do cosmo” em comemoração do primeiro centenário
do nascimento de Albert Einstein. Veio então à baila a tese de que o universo é
inteligível – o que quer dizer: os cientistas só conseguem penetrar dentro dos
“segredos” dos espaços cósmicos, porque crêem que a natureza é racional ou
lógica e, por isto, pode ser apreendida pela inteligência humana; esta, porém,
ao estudar, parece apenas estar seguindo as pegadas da Inteligência Primeira ou
Suprema, que é a grande responsável pelo universo; este supõe o Criador. Aliás,
foi a conclusão semelhante que Albert Einstein chegou, como se depreende do
seguinte testemunho deste homem genial:

“O
cientista é penetrado pelo senso da causalidade universal… O seu sentimento
religioso assume a forma da admiração extática diante da harmonia das leis da
natureza, revelando-lhe uma inteligência tão mais elevada que, comparados a
ela, todo o pensar e todo o agir dos homens aparecem como reflexões
insignificantes. Esta convicção é o principio que guia a vida e o trabalho do
cientista na medida em que ele é capaz de se elevar acima da escravidão dos
seus desejos egoístas” (transcrito do livro de A. BERTIN, Einstein: la vita, il
pensiero i testi esemplari. Milano 1971, p. 184).

Para
ilustrar estes dizeres, citemos ainda o fato de que o S. Padre João Paulo II
recebeu a 18/09/79 os organizadores e os conferencistas de tal Congresso,
propondo-lhes as seguintes ponderações:

“A
cosmologia se coloca aos confins da filosofia e da religião, pois… leva
espontaneamente a perguntas que não encontram resposta dentro do sistema mesmo
do cosmo.

(…) A razão
cientifica, após longa caminhada, nos faz descobrir de novo as coisas com
surpresa nova; leva-nos a propor com renovada intensidade algumas das grandes
perguntas do homem de sempre: Donde vimos? Para onde vamos?”

É nestes
termos que as ciências físicas, em vez de afastar de Deus o homem, o levam de
novo ao Senhor. Aliás, tem-se dito com razão: “A pouca ciência afasta de Deus;
a muita ciência leva a Deus”. Com outras palavras: a ciência superficial pode
induzir o homem a erros, entre os quais o da negação de Deus, precisamente pelo
fato de ser superficial e primária. A ciência profunda só pode reconduzir o
homem ao Criador, mostrando-lhes novos e novos motivos para crer.

Aliás,
deve-se observar o seguinte: o ateu nunca é tal porque tenha a evidência de que
Deus não existe, já que a não existência de Deus não pode ser provada; ao
contrário, a existência de Deus é atingível e demonstrável pela razão. Vê-se,
pois, que o ateu é tal por opção ou por livre escolha, isto é, porque lhe
parece que a fé não satisfaz às demandas da inteligência (o que geralmente se
deve a inadequado conhecimento das verdades da fé) ou porque é impressionado
pelo contra-testemunho de vida dos que crêem. O estudo ajuda poderosamente as
pessoas sinceras a vencer tais formas de ateísmo. Quanto mais alguém estuda de
coração reto, tanto mais se aproxima da verdade suprema, que é Deus.

Digamos
ainda algumas palavras sobre outros tópicos de ciências naturais já atrás
abordados:

3.1.2. O
caso Galileo

Os fiéis
católicos reconhecem hoje que a S. Escritura não tenciona ensinar o geocentrismo
e que, por conseguinte, Galileo, ao propor o heliocentrismo, não entrava em
conflito com as verdades da fé. O homem deve estar consciente de que não habita
o centro do universo, mas, sim, um minúsculo planeta dependente do sol. Isto,
porém, não quer dizer que tenha perdido algo da sua dignidade intrínseca. Sim;
pequeno e insignificante como é o ser humano, por sua inteligência, é capaz de
conhecer o espaço remoto e as proporções surpreendentes do cosmo. Notava-o,
aliás, oportunamente o S. Padre João Paulo II no seu discurso aos astrônomos em
28/09/79:

“Se o
conhecimento das enormes dimensões do cosmo dissipou a ilusão de que o nosso
planeta ou o nosso sistema solar sejam o centro físico do universo, nem por
isto o homem foi diminuído na sua dignidade. Antes, a aventura da ciência nos
fez descobrir e experimentar com vivacidade nova a imensidade e a
transcendência do espírito humano, capaz de penetrar nos abismos do universo,
de sondar as suas leis, de traçar a sua história, elevando-se a nível incomparavelmente
superior ao das outras criaturas que o cercam”.

O S. Padre
João Paulo II neste mesmo discurso, aludia a uma revisão do processo de
Galileo. Não queria, com isto, preconizar o reexame dos autos do processo, pois
não teria grandes conseqüências jurídicas ou doutrinárias; há muito que a
figura de Galileo já foi exaltada e os teólogos aceitam o heliocentrismo. Com
as suas palavras, o Pontífice tencionava, antes, incitar os estudiosos a
reconhecer que não há conflito entre ciência e fé; as pretensas divergências
ocorridas entre uma e outro na historia dissiparam-se com o progresso dos
estudos das ciências e da teologia.

3.1.3. A
teoria de Darwin

A evolução
dos viventes é hoje em dia também um fato reconhecido pela Igreja. O que havia
de inaceitável na teoria evolucionária concebida por Darwin, era o mecanicismo
ou a tendência a explicar os fenômenos da vida sem considerações finalistas ou
teleológicas. Em outras formas: era a ausência de Deus na cosmovisão
darwinista.

Feita a
distinção entre evolução biológica e ateísmo, a Igreja aceita um evolucionismo
teológico ou finalista, ou seja, regido pelo sábio plano do Criador. Tal
evolucionismo não considera o homem apenas com um símio aperfeiçoado, mas
admite no ser humano a existência de uma alma espiritual diretamente criada e
infundida pelo Senhor após longa preparação do ambiente pela progressiva
ascendência das espécies É precisamente a espiritualidade da alma ou do
princípio vital que faz a especificidade do ser humano, dando-lhe lugar de
supremacia entre os demais viventes terrestres.

3.1.4. O
pansexualismo de Freud

Freud terá
sido o terceiro “traidor” do homem, reduzindo-o a joguete de instintos eróticos
e agressivos (ou de Eros e Thánatos).

Esta triste
imagem do homem evidenciou-se, com o tempo, como unilateral. Entre os próprios
discípulos de Freud formou-se a ala dissidente ou heterodoxa, da qual Carl
Gustav Jung é notório expoente; reconhece no ser humano fatores e impulsos de
outra ordem; com efeito, o amor à verdade, à justiça, aos valores éticos pode
mover o comportamento humano de maneira decisiva, levando a pessoa a renunciar
à satisfação de apetites sexuais ou eróticos em vista de tais bens.

A
psicanálise, como técnica, associada a uma filosofia de inspiração cristã, é
perfeitamente conciliável com a dignidade humana e a mensagem do Evangelho.

Deixemos
agora as ciências naturais a fim de passar para

3.2. O
plano filosófico-político

O marxismo,
que até poucos decênios atrás parecia ser a fórmula sócio-política que tiraria
o homem das suas alienações, libertando-o, entre outras, da “religião, ópio do
povo”, está hoje em descrédito.

As causas
deste declínio são de dupla ordem: de um lado, a experiência mesma do marxismo,
vivente há mais de sessenta anos na URSS, e mais recente em outros países,
mostra que é utopia inexeqüível o ideal da sociedade sem classes, sem dinheiro,
com igualdade de chances para todos… De outro lado, os estudiosos do marxismo
põem em evidência o caráter anacrônico de certas teses do sistema; supõem a
realidade do século XIX, que não é a do século XX. Dentre esses pensadores,
salienta-se a corrente francesa dita “des Nouveaux Philosophes” (dos novos
filósofos), dos quais alguns foram marxistas, mas hoje contestam decididamente
as teorias e a práxis do comunismo.

Jean-Marie
Benoist, por exemplo, é um “novo filósofo” (nunca foi marxista, porém): em
1970, publicou o livro Marx est mort (Marx está morto), obra que exprime
adequadamente o pensamento de nova corrente. São palavras de Benoist:”A teoria
do marxismo é um fracasso, porque repousa num conceito de ciência completamente
anacrônico, cujas raízes estão firmadas no século XIX. É uma idéia positivista
de ciência muito pobre numa avaliação final: basta ver que neste espaço de
tempo, isto é, de quando o marxismo foi formulado até hoje, a Física evoluiu,
mas os marxistas continuam acorrentados ao século passado”.

“A
estreiteza do marxismo também está no fato de que ele pretende explicar todos
os fatos através da economia. Há uma obsessão na referência à infra-estrutura
econômica”.

“O marxismo
é um fracasso por sua impossibilidade de aceitar e respeitar as diferenças
individuais” (textos extraídos do Caderno Especial, p. 1. do “Jornal do Brasil”
de 16/09/79).

Leszek
Kolakowski é um polonês que foi expulso do Partido Comunista por haver
criticado as restrições à liberdade de expressão na Polônia; hoje é professor
em várias Universidades norte-americanas. Declarou em Brasília (setembro de
1979):

“O
comunismo não é mais uma questão de debate político ou de fé; é simplesmente
uma questão de força. Na Polônia ninguém acredita mais no comunismo ou em
Marx”.

“O marxismo
está sendo usado principalmente como um instrumento legitimador não só de
regimes opressivos do leste europeu, mas como um conjunto de frases utilizadas
para as mais diversas finalidades políticas – muitas das quais nada têm que ver
com os interesses com os quais o marxismo se identificava originariamente” (ib
p. 4).

Mudando de
quadro geográfico e de enfoque, notamos ainda: para grande surpresa do mundo
inteiro, em pleno século XX instaurou-se no Irã um regime que se poderia dizer
teocrático ou inspirado diretamente pelos princípios do Corão e do Islamismo. É
certo que o Governo do ayatollah Khomeiny  não tem sido feliz; nacionalismo e religião se
tem entrelaçado com detrimento para a religião islâmica. Todavia interessa aqui
apenas mencionar o curioso fato de que Deus esteja sendo invocado como mentor
de uma organização política no século do racionalismo e do materialismo. Não
será isto o testemunho de que as ofertas do ateísmo e do materialismo políticos
não satisfizeram ou não inspiraram confiança aos homens do nosso tempo ?

3.3. A
mística jovem

Além dos
fatos apontados, deve-se registrar outrossim o surto de movimentos religiosos
um tanto emotivos, desligados da razão e excêntricos que se vão propagando nos
Estados Unidos, no Brasil e em outros países. Tais são, por exemplo, a corrente
dos Meninos de deus, a da “Jesus-Revolution”, a de Hare-Krisna. Não raro esses
grupos caem em libertinismo sexual, como se fosse caminho para a experiência de
Deus – o que redunda em absurdo. Como quer que seja, o que importa aqui, é o
fato de que o sentimento religioso tente assim afirmar-se em réplica às lacunas
deixadas pelas prospectivas e promessas da sociedade de consumo.

3.4. O
fenômeno católico

Os
articulistas de “VEJA” referem-se também à figura do Papa João Paulo II, que,
segundo dizem, se tornou um líder mundial, recebido e aclamado por multidões. E
isto, sem que S. Santidade faça a mínima concessão no tocante à fé ou à Moral.
Ao contrário, desde o início do seu pontificado, João Paulo II deu provas de
estimar a disciplina da Igreja e confirmou pontos nevrálgicos já afirmados por
Paulo VI (a recusa dos anticoncepcionais, do aborto, o uso do hábito religioso,
etc.). Assim escrevem os repórteres de “VEJA”:

“Em menos
de um ano de pontificado, já se tornou o papa mais popular do século, bate
recordes em posters religiosos e em audiências na basílica de São Pedro.

Tornou-se
até mesmo um cantor de razoável sucesso, com a edição de um disco com a sua
voz. Seu vertiginoso prestígio se torna ainda mais significativo, porque nada
deve a um suposto progressismo: João Paulo tem emitido posições claramente
conservadoras, como na condenação do aborto ou na questão do celibato dos sacerdotes.
Mas a multidão que se ajoelha, reverente, todas as quartas-feiras, no pátio
externo do Vaticano, não parece especialmente interessada em questões
teológicas ou na revisão de dogmas. Seu olhar, durante a rápida aparição solene
do chefe espiritual, brilha como se buscasse uma identidade e um carisma que
não se encontram mais com muita freqüência nas carteiras de identidade ou nos
homens públicos” (p. 86).

Passemos
agora a uma

4.
Conclusão

Temos
nestas páginas alguns tópicos que ilustram o renascimento religioso de nossos
dias. Em uma palavra: tal fenômeno é sintoma do perene e congênito senso
religioso de todo homem. Quem pretenda erradicar esse sentimento, não fere
somente a Deus ou a religião, mas fere o próprio homem ou, como diz “VEJA”, trai
a este, condenando-o ao vazio e à angústia. Afastado o verdadeiro Deus, que se
revelou por Jesus Cristo, o homem procura substitutivos vão ou ídolos, os quais
se revelam, sem demora, ineptos para responder à sede que o homem tem de
Infinito ou do verdadeiro Bem.

O surto
religioso contemporâneo vem a ser, para os fiéis católicos, um desafio a que
procurem corresponder a seus semelhantes, manifestando-lhes a autêntica face do
Deus que se comunica através da sua Palavra e da sua Igreja. Removem seu
testemunho de fé e de vida, esforçando-se por torná-lo mais coerente e lúcido,
a fim de que não sejam réus diante do Senhor, que disse pelo profeta Amós:

“Eis que
dias virão, nos quais enviarei fome ao país, não fome de pão nem sede de água,
mas fome de ouvir a Palavra de Deus.

Andarão
vagando de um mar a outro, e do Setentrião ao Oriente, errarão em busca da
Palavra Divina, sem a encontrar” (AM 8,11s).

E a quem
tocaria a responsabilidade de apresentar essa Palavra de Deus senão aos fiéis
católicos?

Sobre Prof. Felipe Aquino

O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.
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