Deus em ascensão – EB

Revista:
“PERGUNTE E RESPONDEREMOS”

D. Estevão
Bettencourt, Osb

Nº 234, Ano
1979, p. 221

 

Uma de nossas revistas ilustradas
recentemente dois artigos de jornalistas italianos – Umberto Eco e Giovanni
Maria Pace – que mostram e documentam a volta dos filósofos e cientistas para
Deus nos tempos atuais. Não há dúvida, o estilo dos articulistas é de crônica
para o grande público, mas nem por isto deixa de ser significativo. ¹

 Umberto Eco propõe a tese de que o
senso do sacro é inato em toda criatura humana. As suas expressões podem
variar, mas, como tal, ele atravessa os séculos e as revoluções culturais. O
homem de hoje, mesmo quando professa o ateísmo, exprime-se segundo modalidades
que são características do pensamento religioso. Com efeito, os adeptos do
marxismo ateu, por exemplo, professam um messianismo libertador, que renovará a
sociedade, abolindo toda injustiça e acarretando o surto do homem novo (não se
pode esquecer, aliás, que Marx foi judeu e reproduziu em termos leigos a
expectativa messiânica do judaísmo, vendo no proletariado sacrificado em prol
da justiça o Messias dos nossos tempos). Enquanto os jornais, de um lado,
noticiam que a sociedade se torna cada vez mais arreligiosa, de outro lado,
divulgam o aparecimento de correntes e grupos místicos das mais diversas
tendências (oriental, milenarista, apocalíptica…). A crise das ideologias
totalitárias (marxismo russo, maoísmo chinês, nacional-socialismo…) e , de
modo especial, a reconciliação da China com os Estados Unidos têm decepcionado
os que professavam irrestritamente a mística do comunismo e a onipotência do
Partido, fazendo que se voltem para o Transcendental; com efeito, nenhuma das
potências meramente humanas se mostra suficiente para preencher as grandes e
incoercíveis aspirações que todo ser humano traz em seu íntimo.

Giiovanni
Maria Pace detém-se mais sobre o senso religioso dos estudiosos das ciências
naturais. Após o divórcio proclamado entre a ciência e a fé na época moderna e,
de modo particular, no século passado (com as teorias evolucionistas e
mecanicistas de Darwin), os cientistas retornam espontaneamente para Deus,
guiados pela evidência mesma das conclusões a que vão chegando. “O fato é
patente no mundo anglo-saxônico, especialmente na Inglaterra onde uma
estatística informa que em dez cientistas oito seguem uma fé religiosa”. Mas
não somente entre os anglo-saxônicos isto ocorre na Universidade de Milão, o
prof. Felice Mondella ministra um curso intitulado “Aspectos Filosóficos do
Problema Mente-Cérebro”; em suas aulas o professor tem repetido a palavra
“alma”; ele se apressa em esclarecer: “É uma coincidência”. Mas é uma
coincidência significativa! (…).

Um dos
fatores que têm levado os estudiosos a reconhecer a presença de Deus no mundo,
é a realidade do universo… Verifica-se que este não é estático (nem sempre
existiu e nem sempre existirá). Já em 1913 um astrônomo do Observatório Lowell,
nos Estados Unidos, descobriu galáxias que se afastavam da terra à velocidade
de milhões de quilômetros por hora. Na mesma época, outro astrônomo, Edwin
Hubble, fortalecia a tese de um universo em expansão, e Albert Einstein
elaborava a teoria da constante ampliação das fronteiras do cosmos. Ora,
raciocinaram os novos cosmólogos, se o universo se dilata, ele o faz a partir
de um momento inicial, o big bang (a grande explosão), da qual se originaram a
matéria em expansão, com as categorias de espaço e de tempo. A prova definitiva
big bang foi obtida em 1965, com a descoberta da radiação existente em todo o
universo,… radiação que é tida como o resíduo ou o eco da tremenda explosão
inicial. Assim a noção de Deus Criador do mundo, professada pelas Escrituras,
se esboça no horizonte dos astrônomos: “Os cientistas escalaram montanhas da
ignorância, conquistaram os cumes mais altos e, quando finalmente se debruçaram
sobre o último pico, encontraram sentados lá em cima um bando de teólogos” (p.
62). Por isto dizia Einstein: “Na nossa época materialista, os trabalhadores da
ciência são os únicos homens profundamente religiosos (…). Não posso conceber um
cientista autêntico que não tenha fé profunda”.

Estas
afirmações podem ser interpretadas à luz da observação de Lovell: “Tenho a
impressão de que, mais do que aumento dos cientistas que acreditam em Deus,
ocorre o aumento dos cientistas que já não se envergonham de proclamar a sua
própria fé”.

É esta a
crônica despretensiosa que os informes jornalísticos oferecem ao público. A
averiguação dos fatos fala profundamente às pessoas de fé e, de modo especial,
aos critérios. É a estes que, em última análise, compete levar a resposta cabal
aos anseios dos seus semelhantes que vão descobrindo os vestígios do Criador
através da caminhada dos seus estudos.

É, pois,
para desejar que este mês de junho, mês de Pentecostes ou do Espírito que
renova a face da terra, seja para os cristãos penhor de nova tomada de
consciência da responsabilidade que lhes toca na hora atual.

“Brilhe a
vossa luz diante dos homens…” (Mt 5,16).

 

_____________________

¹ Cf. ISTO
É, 18/04/1979

 

Sobre Prof. Felipe Aquino

O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.
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