Decreto “Ad Gentes” Sobre a atividade missionária da Igreja – Parte 5

10 Cf. Alocução de Paulo Vi
na canonização dos Ss. Mártires de Uganda, 18-10-194: AAS 56 (1964), p. 908.

¹¹ Cf. Conc. Vat. II, Const.
Dogm. Sobre a Igreja Lumen Gentium, n. 13: AAS 57 91965), p. 18.

É de desejar e mesmo convém
de todo que dentro dos limites de cada grande território sócio-cultural, as
conferências episcopais mantenham intima comunicação entre si. Destarte em
comum acordo poderão perseguir este objetivo da adaptação.

CAPÍTULO IV: OS MISSIONÁRIOS

[Vocação Missionária]

23. Cada discípulo de Cristo
tem sua parte na tarefa de propagar a fé.¹ Mas Cristo, o Senhor, apesar disso
sempre chama dentre os discípulos aqueles que Ele mesmo quer, para que estejam
com Ele e os envia a pregar aos povos. ² Por isso através do Espírito Santo,
que distribui os carismas para a utilidade, como quer ³, inspira a vocação
missionária no coração de cada um e suscita Institutos na Igreja4, que aceitem
como ofício próprio a tarefa da evangelização, dever de toda a Igreja.

¹ Conc. Vat. II, Const.
Dogm. Sobre a Igreja Lumen Gentium, n. 17: AAS (1965), p. 21.

² Cf. Mc 3,13 s.

³ Cf. 1 Cor 12,11.

4 Por “Institutos” se
entendem as Ordens, Congregações, Institutos e Associações que trabalham nas
Missões.

Pode-se dizer marcados por
especial vocação os sacerdotes, os religiosos e os leigos, autóctones ou
estrangeiros, possuidores de boa índole e dotados de talento e inteligência,
que se acham preparados para empreender a obra missionária.5 Enviados pela
legítima autoridade, na fé e na obediência, vão aqueles que estão longe de
Cristo, segregados para o trabalho a que foram escolhidos6, como ministros do
Evangelho “para que a oblação dos gentios seja aceita, santificada pelo
Espírito Santo” (Rom 15,16).

5 Cf. Pio XI, Rerum
Ecclesiae, 28-2-1926: AAS 18 (1926), pp. 69-71; Pio XII, Saeculo exeunte,
13-6-1940: AAS 32 (1940), p. 256; Evangelii Pracones, 2-6-1952: AAS 43 (1951),
p. 506.

6 Cf. At 13,2.

[Espiritualidade
Missionária]

24. Quando Deus chama, deve
o homem reponder-Lhe de tal modo que, sem mesmo atender a carne e ao sangue7,
se ligue de corpo e alma a obra do Evangelho. Mas não pode dar essa resposta
sem o estimulo e o rebustecimento do Espírito Santo. Ao ser enviado entra na
vida e na missão d’Aquele que “se aniquilou a Si mesmo, tomando a forma de
servo” (Filip 2,7). Por isso deve estar preparado a dedicar a vida a sua
vocação, a renunciar a si e a tudo o que até então considerou seu, e a
“fazer-se tudo para todos”.8

Anunciando o Evangelho entre
os povos, com confiança torne conhecido o mistério de Cristo, em cujo nome
exerce sua delegação. N’Ele, ousara falar como convém9 e não se envergonhará do
escândalo da cruz. Seguindo as pegadas do Seu Mestre, manso e humilde de
coração, mostre que o Seu jugo é suave e o peso, leve.10 Por uma vida deveras
evangélica¹¹, em muita paciência, em longanimidade, em suavidade, em caridade
não fingida¹², dê testemunho a seu Senhor, se necessário, até a efusão do
sangue. Deus lhe dará a virtude e a fortaleza para conhecer que a abundância do
gozo consiste na intensa experiência da tribulação e da altíssima pobreza.¹³
Deve estar persuadido de que a obediência é a virtude peculiar do ministro de
Cristo, que por ela remiu o gênero humano.

9 Cf. Ef 6,19 s; At 4,31;.

10 Cf. Mt 11,29 s.

¹¹ Cf. Bento XV, Maximum
illud, 30-11-1919: AAS 11 (1919). Pp. 490-450.

¹² Cf. 2 Cor 6,4 s.

¹³ Cf. 2 Cor 8,2.

Os arautos do Evangelho,
para não negligenciar a graça que neles está, renovem dia a dia espiritualmente
a sua mentalidade.14 Os ordinários e os superiores, em datas marcadas, reunam
os missionários para que se robusteçam na esperança da vocação e se renovem no
ministério apostólico. Para esse fim devem existir casas apropriadas.

14 Cf. 1 Tim 4,14; Ef 4,23;
2 Cor 4,16.

[Formação Espiritual e
Moral]

25. Para tão preclara tarefa
prepare-se o futuro missionário através de especial formação espiritual e
moral.15 Ele deve ser pronto no começar, constante no completar as tarefas,
perseverante nas dificuldades, suportando paciente e corajosamente a solidão, a
fadiga, o trabalho sem frutos. Com toda a generosidade vá ao encontro dos
homens. Aceite de boa mente os trabalhos que lhe confiam. Adapte-se
generosamente aos costumes estranhos dos povos e as variáveis condições. Na
mútua caridade e na concórdia colabore com os irmãos e com todos os que se
dedicam ao mesmo trabalho, para que unidos aos fiéis, a imitação da comunidade
apostólica, sejam um só coração e uma só alma.16

15 Cf. Bento XV, Maximum
illud, 30-11-1919: AAS 11 (1919) pp. 449-450; Pio XII, Evangelli Praecones,
2-6-1951: AAS 43 (1951), p. 507. – Na formação dos sacerdotes missionários
também se leve em conta o que se estabelece no Conc. Vat. II, Decreto sobre a
Formação Sacerdotal Optatam Totius.

16 Cf. At 2,42; 4,43.

Sejam esforçadamente
exercitados e cultivados esses hábitos d’alma já no tempo da formação. Elevados
e nutridos pela vida espiritual. Imbuídos de fé viva e de esperança inabalável,
seja o missionário um homem de oração. Arda no espírito de fortaleza, amor e
sobriedade.17 Aprenda a contentar-se com a sua situação.18 Em espírito de
sacrifício leve em si a morte de Jesus, para que a vida de Jesus opere naqueles
aos quais é enviado.19 De boa vontade tudo gaste e se desgaste a si mesmo pelo
zelo das almas20, para que “todos os dias exercendo o seu ofício, cresça no
amor a Deus e ao próximo”.²¹ Deste modo obedecendo com Cristo a vontade do Pai,
continuará a Sua missão sob a autoridade hierárquica da Igreja, e cooperará no
mistério da salvação.

17 Cf. 2 Tim 1,7.

18 Cf. Filip 4,11.

19 Cf. 2 Cor 4,10 ss.

20 Cf. 2 Cor 12,15 s.

²¹ Cf. Conc. Vat. II, Const.
Dogm. Sobre a Igreja Lumen Gentium, n. 41: AAS 57 (1965), p. 46.

[Formação Doutrinal e
Apostólica]

26. Os enviados a outros
povos, como bons ministros de Cristo, sejam alimentados “com as palavras da fé
e da boa doutrina” (1 Tim 4,6), que hão de haurir principalmente das Sagradas
Escrituras. Nelas hão de perscrutar o mistério de Cristo, do qual serão os
arautos e as testemunhas.

Por isso todos os
missionários – sacerdotes, irmãos, irmãs, leigos – cada um seja preparado e
formado de acordo com a sua condição, para se acharem a altura das exigências
do trabalho futuro. ²² Já desde o início a sua formação doutrinal abrace a
totalidade da Igreja e a diversidade dos povos. Isto vale acerca de todas as
disciplinas que os preparam para o seu ministério. Vale também acerca das
outras ciências que lhes subministram um conhecimento geral dos povos,
culturas, religiões, com relação ao passado e ao presente. Naturalmente,
qualquer um que se vai aproximar dalgum povo deve ter em grande estima seu
patrimônio, línguas e costumes. Antes de tudo é preciso que o futuro
missionário se aplique aos estudos missiológicos, isto é, que conheça a
doutrina e as normas da Igreja a respeito da atividade missionária. Que saiba
quais os caminhos percorridos pelos arautos do Evangelho no decurso dos
séculos, e também a presente situação das missões e os métodos que hoje se
consideram mais eficazes. ²³

²² Cf. Bento XV, Maximum
illud, 30-11-1919: AAS 11 (1919), p. 440; Pio XII, Evangelii Praecones,
2-6-1951: AAS 43 (1951), p. 507.

²³ Bento XV, Maximum illud,
30-11-1919: AAS 11 (1919), p. 448; Decreto da S. C. de Propaganda Fide,
20-5-1923: AAS 15 (1923), pp. 369-370; Pio XII, Saeculo exeunte, 2-6-1940: AAS
32 (1940), p. 256; Evangelii Praecones, 2-6-1951: AAS 43 (1951), p. 507; João
XXIII, Princeps Pastorum, 28-11-1959: AAS 51 (1959), pp. 843-844.

Toda essa formação deve
estar penetrada de solicitude pastoral. Mas ministre-se também uma especial e
ordenada formação apostólica, ao mesmo tempo doutrinal e prática.24

24 Conc. Vaticano II.
Decreto sobre a Formação Sacerdotal Optatam Totius, nn. 19-21. Cf. ainda a
Constituição Apostólica Sedes Sapientiae, com os Estatutos Gerais, 31-5-1956:
AAS 48 (1956) pp. 354-365.

Sejam bem instruídos e
preparados na Catequese muitos irmãos e irmãs, para que possam colaborar ainda
mais no apostolado.

Também os que
temporariamente se dedicam a atividade missionária precisam adquirir formação
adequada a sua situação.

Completem-se esses vários
tipos de formação nos países aos quais os missionários são enviados. Deste modo
melhor conhecerão a história, as estruturas sociais, os costumes dos povos.
Claramente perceberão a ordem moral, os preceitos religiosos e as convicções
que eles se formaram de acordo com suas tradições sagradas sobre Deus, o mundo
e o homem.25 Aprendam tão bem as línguas, que pronta e corretamente as possam
usar. Assim terão mais fácil acesso a intimidade dos homens.26 Ademais sejam
devidamente introduzidos nas necessidades pastorais peculiares.

25 Pio XII, Evangelii
Praecones, 2-6-1951: AAS 43 (1951), pp. 523-524.

26 Bento XV, Maximum
illud,  30-11-1919: AAS 11 (1919), p.
448; Pio XII, Evangelii Praecones, 2-6-1951: AAS 43 (1951), p. 507.

Alguns ainda recebam mais
apurada preparação nos institutos missionários, noutras faculdades ou
universidades, para mais eficazmente exercerem cargos especiais27 e poderem com
o seu conhecimento ajudar aos outros missionários, no desempenho da sua tarefa,
que principalmente hoje em dia oferece tantas dificuldades e oportunidades. É
sumamente desejável tenham as conferências regionais episcopais muito desses
peritos a disposição. Recorram a sua ciência a experiência nas dificuldades do
seu cargo. Nem faltem peritos em instrumentos técnicos e de comunicação social,
cuja importância todos devem reconhecer.

[Os Institutos que Trabalham
nas Missões]

27. Dificilmente um
indivíduo sozinho conseguirá realizar tudo isto, embora seja tudo indispensável
a cada missionário. Atesta a experiência que a própria obra missionária não
pode ser realizada por um só indivíduo. Por isso a vocação comum reuniu os
indivíduos em institutos, nos quais, reunindo as forças, recebem idônea
formação e realizam esta obra em nome da Igreja e sob a autoridade da
jerarquia. Esses institutos já faz séculos suportaram o peso do dia e do calor,
devotando-se ao trabalho missionário integralmente ou em parte. Muitas vezes
a Santa Sé lhes confiou a evangelização de vastos territórios, nos quais
reuniram um novo povo a Deus, a Igreja local obediente aos seus pastores
próprios. Após fundarem Igrejas com o seu suor e mesmo com o próprio sangue,
pelo zelo e pela experiência hão de servir em fraterna cooperação seja no
trabalho pastoral, seja nas tarefas especiais para o bem comum.

As vezes se encarregarão de
trabalhos mais urgentes em prol de toda uma região, por ex., evangelizar grupos
ou povos que talvez por motivos especiais ainda não aceitaram a mensagem
evangélica ou que até agora lhe resistiram.28

28 Cf. Conc. Vat. II,
Decreto sobre o Ministério e a Vida dos Presbíteros Presbyterorum Ordinis, n.
10, onde se trata das dioceses e prelaturas pessoais e outros assuntos afins.

Se necessário, estejam
prontos a ajudar e a formar com a sua experiência aqueles que temporariamente
se dedicam a atividade missionária.

Por essas razões e porque
ainda restam muitos povos para levar a Cristo, continuam sobremodo necessários
os institutos.

CAPÍTULO V: A ORGANIZAÇÃO DA
ATIVIDADE MISSIONÁRIA

[Introdução]

28. Tendo recebido dons
diferentes¹, os fiéis devem colaborar no Evangelho, cada um conforme sua
oportunidade, faculdade, carisma e função. ² Todos os que semeiam e colhem ³,
que plantam e regam, convém sejam um só4, para que assim, “trabalhando livre e
ordenadamente para o mesmo fim”5, empenhem unanimemente as suas forças na
edificação da Igreja.

¹ Cf. Rom 12,6.

² Cf. 1 Cor 3,10.

³ Cf. Jo 4,37.

4 Cf. 1 Cor 3,8.

5 Cf. Conc. Vat. II, Const.
Dogm. Sobre a Igreja Lumen Gentium, n. 18: AAS 57 (1965), p. 22.

Eis por que os trabalhos dos
arautos do Evangelho e os auxílios dos demais cristãos devem de tal forma ser
dirigidos e combinados, que “tudo se faça com ordem” (1 Cor 14,40) em todos os
campos da atividade e cooperação missionária.

[Organização Geral]

29. O encargo de anunciar
por toda parte o Evangelho cabe em primeiro lugar ao Corpo Episcopal.6 Sendo
assim, o Sínodo dos Bispos ou “estável Conselho dos bispos para a Igreja
toda”7, entre as tarefas de interesse geral8, de particular importância a
atividade missionária, o maior e o mais santo dever da Igreja.9

6 Cf. Conc. Vat. II, Const.
Dogm. Sobre a Igreja Lumen Gentium, n. 23: AAS 57 (1965), p. 28.

7 Cf. Motu proprio
Apostólica Sollicitudo, 15-9-1965: AAS 57 (1965), p. 776.

8 Cf. Paulo VI, Alocução do
dia 21-11-1964, feita no Concílio: AAS 56 (1964), p. 1011.

9 Cf. Bento XV, Maximum
illud, 30-11-1919: AAS 11 (1919), pp. 39-40.

Convém que haja para todas
as missões e toda a atividade missionária apenas um Dicastério competente, a
saber, o “De Propaganda Fide”, que em toda parte dirija e coordene a própria
obra e a cooperação missionárias, salvo contudo o direito das Igrejas Orientais.10

10 Se algumas missões, por
motivos especiais, ainda se acham temporariamente sob outros Dicastérios,
convém que esses se relacionem com a S. Congreg. “de Propaganda Fide”, para que
se possa obter um método e norma absolutamente constantes e uniformes na
organização e direção de todas as missões.

De muitos modos o Espírito
Santo estimula o espírito missionário na Igreja de Deus, e não raro se antecipa
a ação daqueles que lhe dirigem a vida. Todavia por sua parte deve também esse
Dicastério promover a vocação e a espiritualidade missionária, o zelo e a
oração pelas missões, e a respeito dessas últimas ainda apresentar notícias
genuínas e adequadas. Suscite os missionários e distribua-os conforme as mais
prementes necessidades das regiões. Prepare o plano de ação. Trace normas
diretivas e princípios adaptados para a Evangelização. Estimule. Excite e
coordene eficaz coleta de subsídios, para distribuí-los conforme o exigirem a
necessidade ou utilidade e também a extensão do território, o número dos fiéis e
infiéis, obras e instituições, ministros e missionários.

Sobre Prof. Felipe Aquino

O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.
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