Cristãos Ortodoxos

No decorrer dos séculos os cristãos do Oriente e do Ocidente foram divergindo por culturas diferentes: a grega no Oriente, cuja capital  era Bizâncio ou Constantinopla (Istambul na Turquia de hoje), que pretendia  ser a “Nova Roma” a partir de 330, e a latina no Ocidente, cuja capital era Roma. Em 800 sob Carlos Magno, foi instaurado o Sacro Império Romano da Nação Franca – o que desgostou os bizantinos, pois a um “bár­baro” era entregue a coroa imperial. Além disso, falavam uns o grego e outros o latim; os costumes litúrgicos e a disciplina iam se diferenciando aos poucos. Ora, isso causou mal-atendidos e rivalidades crescentes entre cristãos bizantinos e cristãos latinos; a controvérsia iconoclasta (proibição do uso de imagens) nos séculos VIII e IX aumentou o conflito entre uns e outros, revelando-se o desprezo dos imperadores bizantinos pelo Ocidente europeu. Assim, com o passar dos séculos,  foi-se abrindo um fosso entre Roma e Constantinopla.

No ano 330, o imperador romano Constantino transferiu a capital do império de Roma para Bizâncio (hoje Istambul), pouco significante na história até então. Em Bizâncio foi sendo formada uma mentalidade própria dita “o bizantinismo”. Do ponto de vista eclesiástico, Bizâncio carecia de importância; a sua comunidade cristã não  fora fundada por algum dos apóstolos (como as de Jerusalém, Antioquia, Alexandria, Roma…). Compreende-se então que o prestígio que Bizâncio não possuía por suas tradições, os bizantinos o quisessem obter por suas reivindicações. De modo geral, ia se tornando difícil aos bizantinos reconhecer a autoridade religiosa de Roma, já que todo o esplendor da corte imperial se havia transferido para Constantinopla.

Além disso os imperadores bizantinos, herdeiros do conceito pagão de Pontifex Maximus (Pontífice Máximo, no plano religioso), ingeriam-se demasiadamente em questões eclesiásticas, procurando manter a Igreja Oriental sob o seu controle. Os monarcas, nas controvérsias teológicas, muitas vezes favoreciam as doutrinas heréticas, contrapondo-se assim a Roma e ao seu bispo, que difundia a reta fé. Os patriarcas de Constantinopla, por sua vez, muito dependentes do imperador, procuravam a supremacia sobre as demais sedes episcopais do Oriente. Além disso, queriam rivalizar com o Patriarca de Roma, sucessor de Pedro, aderindo à heresia e provocando cismas: dos 58 bispos de Constantinopla, desde Metrófanes (315-325) até Fócio (858), um dos vanguardeiros da ruptura, 21 foram partidários da heresia; do Concilio de Nicéia I (325) até a ascensão de Fócio (858), a sede de Bizâncio passou mais de 200 anos em ruptura com Roma.

Houve muitos atos de violência cometidos por imperadores contra alguns papas: Justino I mandou buscar à força o Papa Vigílio em Roma e quis obrigálo a subscrever normas religiosas baixadas pelo monarca (cerca de 550); Constante II procedeu de forma análoga contra o Papa Martinho I, que em Roma (649) se opusera à heresia monotelita, favorecida pelo imperador; Justiniano II mandou prender em Roma o Papa Sérgio I, que não queria reconhecer inovações promulgadas pelo Concílio de Trullos II, em Constantinopla (692); Leão III, iconoclasta, em 731 retirou de Roma a jurisdição sobre a Ilíria  e sobre parte do “Patrimônio de São Pedro” (Itália Meridional).

Por fim houve o cisma em 1054, por obra do Patriarca Miguel Cerulário de Constantinopla. Os gregos acusavam os latinos de haver acrescentado ao Símbolo de Fé niceno-constantinopolitano a palavra “Filioque” (o Espírito Santo procede do Pai “e do Filho”); este acréscimo corresponde a autêntica verdade, mas os bizantinos alegavam que não era lícito retocar o texto dos concílios anteriores. As outras alegações dos bizantinos versavam sobre o pão ázimo ou pão fermentado na Eucaristia, jejum aos sábados, uso de barba – coisas muito secundárias. Com os gregos, outros orientais (rumenos, búlgaros, russos…) se separaram de Roma. Constituem hoje um bloco de cerca de 173 milhões de fiéis Chamam-se “ortodoxos”, porque nos tempos das controvérsias teológicas sobre a Santíssima Trindade e Jesus Cristo (séculos IV-VIl) sempre tiveram a reta doutrina (ortodoxia)

Houve tentativas de reunião dos ortodoxos com os católicos através dos séculos, principalmente por ocasião dos  Concílios de Lião II (1274) e Florença (1438-45) todavia, os resultados foram pequenos.

Em nossos dias, há grande aproximação entre Roma e Constantinopla, pois na verdade são poucas as diferenças doutrinárias que separam do catolicismo os ortodoxos orientais.

A excomunhão lançada por Roma sobre Constantinopla foi retirada após o Concilio Vaticano II; os bizantinos também cancelaram a excomunhão que lançaram sobre Roma em 1054.

Fonte: (*PR n. 283/1985/pg. 454).

Sobre Prof. Felipe Aquino

O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.
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