”Crescei”! (Parte 2)

É importante dizer aqui o
quanto é importante saber elogiar o outro, ao invés de tratá-lo com palavras
duras. As pessoas têm a  tendência a ser
aquilo que dizemos que elas são. O elogio sincero, tem, por isso, um   poder enorme para fazer o outro progredir na
virtude. Quando revelamos os dons do outro, o ajudamos a se descobrir . Um
provérbio latino dizia: “censura teus amigos na intimidade, elogia-os em público.” Ou então,
elogia em voz alta, censura baixinho. É claro que o elogio só será benéfico
quando for sincero e ponderado, e não mera bajulação; até o mel comido em demasia
faz mal.

São Paulo diz que “amor não
é orgulhoso e nem arrogante”.

Entre alguns casais há muitas vezes uma triste
competição, que é morte para a unidade. Ao contrário, o fermento da comunhão é
a humildade e a mansidão, que alavancam o crescimento do outro.

Quando o orgulho se faz presente no meio do casal, o
outro não pode crescer, pois ele não é reconhecido, não é valorizado, de fato
não é amado. Aquele que é humilde se esvazia de si mesmo para acolher o outro,
perscrutar a sua alma, sentir as suas dores e compartilhar as suas fraquezas.

“O amor não busca os seus
próprios interesses”, diz o Apóstolo. Isto quer dizer que aquele que ama põe-se
em segundo lugar. Ah, se os casais vivessem isto! Quantas brigas acontecem
porque nenhum dos dois cede naquilo que cada um quer. No casamento não deve ser
feita a “minha” vontade, mas a “nossa”; caso contrário nunca haverá comunhão de
vidas. O que deve ter prioridade não pode ser a realização daquilo que me
satisfaz, mas daquilo que a família precisa. 
Quantos homens e mulheres deixam às vezes de comprar algo necessário
para toda a família, para comprar algo só para si mesmos.

“O amor não se irrita e não
guarda rancor”.

Toda irritação, reclamação e
lamúria deve ser banida do lar. Não há comportamento que mais envenena o ar que
a família respira.

O amor “não se irrita”,  não bate as portas, não xinga, não bate e não
quebra (…).  Os impetuosos que se dominem
para não destruir o próprio lar.  É
obrigação dos pais manterem a calma a fim de criar um ambiente amigo e acolhedor
para os filhos.

No casamento é preciso
“saber contar até dez”, antes de dizer uma palavra inconveniente, ou antes de
fazer um julgamento precipitado, ou antes de sair quebrando tudo (…). Mas, como
se conter nesta hora de sangue quente nas veias? Por amor ao outro, por amor à
família que você está construindo, por amor a Deus, é possível. Conte com a Sua
graça. Santo Agostinho dizia que aquilo que é impossível à nossa natureza
fraca, é possível à graça de Deus.

É preciso sobretudo estar
preparado para vencer os momentos de tensão com um sorriso, uma brincadeira,
uma boa desculpa, etc. Conta-se que o Papa João XXIII era muito brincalhão,
mesmo nas horas amargas. Certo dia em que estava visitando uma das paróquias da
cidade de Roma, passando pela rua, ouviu uma senhora dizer para outra: “Nossa,
como ele é gordo!” Ouvindo essas palavras, o Papa não ficou zangado, mas apenas
parou, olhou para as senhoras e disse: “Minhas senhoras, o conclave [eleição do
Papa], não é um concurso de beleza! ” E continuou o seu caminho. Foi só risada!
Eis um belo exemplo de como dissipar um momento de tensão, maravilhosamente.

Certa vez um casal viajava
de carro, e passou por um outro casal bem mais novo, em lua de mel, que iam
abraçadinhos no outro carro. Logo a esposa começou a reclamar: “Está vendo, nós
não fazemos mais isto, não viajamos mais assim abraçadinhos como aquele casal
do outro carro, como fazíamos antes! ” O marido paciente, replicou: “meu bem,
naquele tempo nós  não viajávamos de
kombi, com cinco crianças atrás!” E foi só risada! Esta estória foi
contada por D. Marcos Barbosa, no seu livro ‘Pílulas de Otimismo’.

Em nome do amor, é preciso
vencer toda lamúria, reclamação, auto-piedade, etc. São Paulo disse aos
filipenses:

“Fazei todas as coisas sem
murmurações, nem críticas, afim de serdes irrepreensíveis e inocentes, filhos
de Deus, íntegros no meio de uma sociedade depravada e maliciosa, onde brilhais
como luzeiros no mundo” (Fil 2, 14-15).

“Não vos inquieteis com
nada! Em todas as circunstâncias apresentai a Deus as vossas preocupações,
mediante a oração, as súplicas e a ação de graças. E a paz de Deus, que excede
a toda inteligência haverá de guardar os vossos corações e vossos pensamentos, em Cristo Jesus”. (Fl
4,4-7)

“O amor não guarda rancor”.
O amor está sempre pronto a perdoar. Jesus mandou que tivéssemos a disposição
de perdoar “até setenta vezes sete” (Mt 17,21), isto é, sempre.  O perdão é a face mais bela do amor. Como
disse São Pedro, “o amor encobre uma multidão de pecados”(1 Pe 4,8).  A maior exigência de Cristo é o perdão; por
isso ele morreu perdoando (Lc 23,34) para nos dar o exemplo. E deixou claro que
se não perdoarmos, de todo o coração, não seremos perdoados por Deus Pai  (cf Mt 18,35; Mt 5,39 s).

Ora, quanto mais o perdão é
necessário então para o casal!  Sem a
disposição de perdoar constantemente, nenhum casal poderá se construir
mutuamente.  É preciso repetir mil vezes
que, perdoar não é um ato de fraqueza ou de resignação doentia; ao contrário, é
um gesto de grandeza de alma, de mansidão e fortaleza.  Só os fortes sabem perdoar. Os fracos exigem
vingança, represália, revanche.

Se não soubermos perdoar as
pequenas falhas do outro, no casamento, nunca chegaremos a desfrutar de suas
grandes virtudes. Às vezes, não vemos a grandeza de uma pessoa porque nos
deixamos cegar pelos seus pequenos erros. Certamente nos elevamos acima
daqueles que nos ofendem, quando somos capazes de perdoá-los.

É fácil perdoar o outro
quando a gente se lembra que também é pecador e necessitado de perdão.
Normalmente não se ofende de novo a uma pessoa que nos soube perdoar.

Perdoar não quer dizer,
porém, ser conivente com o erro e o mau comportamento do outro. Junto com o
perdão deve ser feita a ação corretiva, de maneira amorosa.  Depois de perdoar a pecadora, Jesus disse a ela:
“não peques mais”.  Aos fariseus que
discordavam de sua atitude de misericórdia para com ela, ele disse: “Ao que
pouco se perdoa, pouco  ama” (Lc 7,47).
Precisamos aprender com Jesus que o perdão dado ao que errou, abre no coração
deste um espaço para a graça de Deus entrar e agir.

No casamento,
permanentemente, precisamos estar dispostos a pedir perdão e a dar o perdão,
quantas vezes for necessário. Uma palavra de ouro no casamento é esta: “me
desculpe, me perdoe”; e só os humildes são capazes disso. Saber reconhecer o
próprio erro e ter a coragem de pedir perdão, é essencial para um casal que
quer crescer a dois.

São Paulo concluiu o seu
hino ao amor, dizendo que: “o amor tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo
suporta”.

O amor é tolerante, complacente,
não deixa morrer a esperança quanto à mudança do outro; é perseverante e jamais
desanima ou se desespera.  E, por fim,
tudo suporta.  Por isso o amor é
invencível e “não acabará jamais”.

A maioria dos casais que se
separaram,  não conheceram o autêntico
amor; talvez tenham levado para o casamento essas “caricaturas” de amor que
estão nos meios de comunicação.  O amor,
quando existe e é autêntico, é invencível; pois é a força do próprio Deus.

É esse amor que faz o casal
“crescer”;  que faz com que cada um
“vença a si mesmo” para se oferecer ao outro, maduro e adulto, disposto para
caminhar na construção de um lar e na geração dos filhos de Deus.

A família é uma escola de
santificação.  Deus nos quer todos
santos.  São Paulo disse aos coríntios:

“A vontade de Deus é a vossa
santificação, …  que cada um de vós
saiba casar-se para viver com santidade e honestidade, sem se deixar levar pela
paixão, como fazem os pagãos que não conhecem a Deus” (1 Ts 4,3-TEB).

No exercício cotidiano das
virtudes, pais e filhos se santificam. 
Não há lugar melhor para se exercitar o amor, a paciência, a bondade, a
tolerância, a fé, a esperança, a perseverança … do que no recinto sagrado do
lar.  Na vivência do amor  conjugal, marido e mulher se constróem, se
santificam conforme o desígnio de Deus. 
No amor fraterno, os irmãos se santificam e no relacionamento dos pais
com os filhos cresce a santidade em cada um. 
O Catecismo diz que :

“Os filhos, por sua vez,
contribuem para o crescimento de seus pais em santidade (GS 48,4)” (CIC, 2227).

Tudo o que vimos até aqui
leva-nos a concluir que, além da unidade, a comunhão conjugal caracteriza-se
também pela “indissolubilidade”.  A
família não é transitória, é definitiva. 

O Concílio Vaticano II,
afirma:

“Esta união íntima, já que é
dom recíproco de duas pessoas, exige, do mesmo modo que o bem dos filhos, a
inteira fidelidade dos cônjuges e a indissolubilidade da união” (GS 48).

Na verdade, a Igreja apenas
reafirma o que Jesus já tinha dito aos fariseus, que queriam defender o divórcio:

“Já não são dois, mas uma só
carne. Portanto, não separe o homem o que Deus uniu”  (Mt 19,6).

O crescimento do casal é
algo que se realiza durante toda a  vida,
e não admite a separação. Quanto maior for o grau da unidade atingida pelo
casal, tanto maior será o seu crescimento mútuo, e tanto menor a chance de
separação.

Mais uma vez é preciso
lembrar que o crescimento de ambos depende sobretudo da unidade que tiverem
cultivado, pois é ela que cria as condições necessárias para que cada um beba
nas fontes ricas do outro. Cada um de nós é um tesouro. Mas este tesouro
precisa ser encontrado, descoberto, para podermos desfrutar dele.

Quando se faz extração de
petróleo, a sonda desce fundo na terra até achar o lençol petrolífero, um rio
de “ouro negro”. Depois que o lençol se esgotou, a sonda continua a perfurar o
solo até achar, mais fundo ainda, outros lençóis. Assim também é a descoberta
de toda a riqueza que está no outro. Muitas vezes não chegamos a desfrutar das
riquezas que o outro traz em si, porque a nossa “sonda” é curta, ou porque
desanimamos no meio do caminho, achando que não há nada mais a encontrar no
coração do outro, que nos possa enriquecer.

Para que o casal possa
crescer, é fundamental a aceitação do outro como ele é. Na verdade, esta é uma
exigência do próprio amor. Quem ama aceita o outro e ajuda-o a melhorar,
respeitando a sua individualidade.

Eu não posso acusar o meu
cônjuge por ele não ser como eu desejo, ao invés disso, devo amá-lo. Quando eu
me aceito como sou, já estou me modificando; quando aceito os outros, já
comecei a modificá-los; é o ponto de partida.

Não é porque o material que
você encomendou para construir a sua casa, não veio exatamente como você
queria, que você vai abandonar a construção. Assim também no casamento. Você
não pode abandonar a construção da sua família porque o seu cônjuge não é
exatamente como você sonhou. Não podemos desposar “um sonho”, mas uma pessoa,
que tem qualidades e defeitos. Não se pode culpar o outro porque ele não era o
que eu sonhei. Neste caso a culpa é mais minha do que dele.

Nunca é tarde, porém, para
acordar do sonho, aceitar a realidade e, com uma decisão corajosa e firme,
desposar aquela pessoa que compartilha a sua vida comigo. Abandone o sonho e
despose o seu marido. Portanto, perdoe o outro por ele não ser o que você
sonhava, e ofereça a Deus este sacrifício. Se o seu sonho era construir um
palácio, tente ao menos construir uma casa simples, mas feliz. Aceite a sua
realidade, senão, adeus felicidade.

Há casos em que parece que o
outro não o ama mais. Neste caso, não o julgue, nem o acuse. Ame-o,
intensamente e gratuitamente. São João da Cruz dizia que onde não há amor, é
preciso “plantar amor, para colher amor”. As pessoas se curvam diante
da força de um amor autêntico. O amor é mais forte do que a morte.

É preciso, mais uma vez,
lembrar aqui, que amor não é sentimento apenas, é mais decisão. Entre um homem
e uma mulher ele começa no coração, no romance, mas tem que fixar as suas
raízes na razão. Quando subimos ao altar, não fizemos uma declaração romântica
de amor, mas tomamos uma decisão. O que dizemos alí, diante de Deus, do outro e
da comunidade?

“Maria, recebo-a como minha
esposa, e prometo ser-lhe fiel, na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza,
amando-a e respeitando-a todos os dias de minha vida.”

Ora, longe de ser uma
romântica declaração de amor, isto é um juramento, feito com a razão. Por isso,
mesmo que a afeição sensível tenha desaparecido, não quer dizer que o amor
acabou. Se você continuar o procurar o bem dele, você continuará a amá-lo.

“José, recebe esta
Aliança, em sinal do meu amor e da minha fidelidade, em Nome do Pai, do Filho e
do Espírito Santo. Amém”.

Quando existe amor e unidade
em um casal, cada vez mais um descobre no outro riquezas novas, capazes de
fazê-los crescer. Mas para isto, é preciso estar disposto a fazer a
“prospecção” no interior do outro.

Isto tudo mostra que por
mais tempo que estejamos casados, nunca estaremos perfeitamente casados. O
crescimento mútuo do casal não tem data para ser concluído. Esta é uma das
razões pelas quais o matrimônio é indissolúvel; toda a vida é pouco para um
casal crescer conjuntamente, quando entendeu o sentido que Deus deu ao
casamento. 

Quando a vida do casal cai
na monotonia, é porque um já não é mais importante para o crescimento do outro.

Honoré de Balzac, na sua Filosofia
do Amor, dizia que:                         
“É
tão absurdo dizer que um homem não pode amar a mesma mulher toda a sua vida,
quanto dizer que um violonista precisa de diversos violinos para tocar a mesma
música.”

Quem advoga a favor do
divórcio, é como aquele que não sabe tocar violão e fica pondo a culpa no
instrumento, o qual não sabe tocar. Se não conhecermos o sentido profundo do
casamento, se não soubermos amar de verdade, jamais ficaremos casados a vida
toda com a mesma pessoa.

Lembro-me daquela reportagem
da revista Manchete, há uns trinta anos, com o título Lana Turner, uma tragédia
e sete maridos, sobre uma bela ex-atriz de Holywood, que casou-se sete vezes, e
acabou tendo o último marido assassinado por um dos filhos dos outros
casamentos. Casou-se sete vezes e não se realizou no casamento.

Para ficarmos casados com a
mesma pessoa durante a vida toda, temos que aprender o que é o verdadeiro amor,
paciência, despojamento, etc.

Resumindo  o que foi dito até aqui, concluímos que cada
um, no casamento, há de ser uma fonte de amor para o outro crescer.                                   
Mas ninguém
pode beber numa fonte seca. Precisamos ser fonte de amor para o outro beber em nós. Mas só Deus é o
Amor; então o casal não poderá ser um para o outro esta fonte, sem Deus. E aí
está toda a importância do Sacramento do Matrimônio, através do qual  Jesus permanece no meio do casal, para que
sejam fontes do amor de Deus, um para o outro e para os filhos.

Santo Agostinho disse que “a
união dos esposos não se faz pelo instinto e amor sensual, mas pela caridade
fundada em Deus” (Sermão 51).Texto extraído do Livro: Família, Santuário da Vida – Prof. Felipe Aquino

Sobre Prof. Felipe Aquino

O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.
Adicionar a favoritos link permanente.