Creio na Ressurreição dos Mortos – EB

Revista:
“PERGUNTE E RESPONDEREMOS”

D. Estevão
Bettencourt, Osb

Nº 237, Ano
1979, p. 353

 A S.
Igreja, por meio da Congregação para a Doutrina da Fé, houve por bem publicar
aos 17/05/79 uma Carta-Instrução sobre algumas questões referentes à
escatologia ou à consumação do homem e do mundo.

A
oportunidade desse documento se depreende do fato de que numerosas teorias,
disseminadas por livros, conferências e cursos, vêm atenuando ou desfigurando
nos fiéis as concepções genuinamente cristãs sobre tais assuntos. Alguns chegam
a perguntar: haverá alguma coisa para além da morte? Subsistirá algo de nós
mesmos ou espera-nos o nada? – Ora a resposta que se dê a tais perguntas, é de
importância capital para a orientação da vida presente; o significado desta
depende, inegavelmente, da maneira como se conceba o além.

Eis por que
vamos, a seguir, transcrever a parte principal da referida Carta, que em
próximo número publicaremos na íntegra, acompanhada de comentário.

“Esta Sagrada
Congregação, que tem a responsabilidade de promover e de defender a doutrina da
fé, propõe-se hoje recordar aquilo que a Igreja ensina, em nome de Cristo,
especialmente quanto ao que sobrevém entre a morte do cristão e a ressurreição
universal.

1) A Igreja
crê numa ressurreição dos mortos (cf. Símbolo dos Apóstolos).

2) A Igreja
entende esta ressurreição referida ao homem todo; esta, para os eleitos, não é
outra coisa senão a extensão aos homens da própria ressurreição de Cristo.

3) A Igreja
afirma a sobrevivência e a subsistência, depois da morte, de um elemento
espiritual, dotado de consciência e de vontade, de tal modo que o eu humano
subsista. Para designar esse elemento, a Igreja emprega a palavra alma,
consagrada pelo uso que dela fazem a Sagrada Escritura e a Tradição. Sem
ignorar que este termo é tomado na Bíblia em diversos significados, Ela julga,
não obstante, que não existe qualquer razão séria para a rejeitar e considera
mesmo ser absolutamente indispensável um instrumento verbal para suster a fé
dos cristãos.

4) A Igreja
exclui todas as formas de pensamento e de expressão que, se adotados, tornariam
absurdos ou ininteligíveis a sua oração, os seus ritos fúnebres e o seu culto
dos mortos, realidades que, na sua substância, constituem lugares teológicos.

5) A
Igreja, em conformidade com a Sagrada Escritura espera “a gloriosa manifestação
de Nosso Senhor Jesus Cristo” (cf. Constituição Dei Verbum), que Ela considera
como distinta e diferida em relação àquela condição própria do homem imediatamente
depois da morte.

 

6) A
Igreja, ao expor a sua doutrina sobre a sorte do homem depois da morte, exclui
qualquer explicação que tirasse o seu sentido à Assunção de Nossa Senhora,
naquilo que esta tem de único, ou seja fato de ser a glorificação corporal da
Virgem Santíssima uma antecipação da glorificação que está destinada a todos os
outros eleitos.

7) A
Igreja, em adesão fiel ao Novo Testamento e à Tradição acredita na felicidade
dos justos que “estarão um dia com Cristo”. Ao mesmo tempo, Ela crê numa pena
que há de castigar para sempre o pecador que for privado da visão de Deus, e
ainda na repercussão desta pena em todo o ser do mesmo pecador. E, por fim, Ela
crê existir para os eleitos uma eventual purificação prévia à visão de Deus, a
qual no entanto é absolutamente diversa da pena dos condenados. É isto o que a
Igreja entende quando fala de Inferno e de Purgatório.

Pelo que
respeita à condição do homem depois da morte, há que precaver-se
particularmente contra o perigo de representações fundadas apenas na imaginação
e arbitrárias, porque o excesso das mesmas entra em grande parte nas
dificuldades que muitas vezes a fé cristã encontra. No entanto, as imagens de
que se serve a Sagrada Escritura merecem todo o respeito. Mas é preciso captar
o seu sentido profundo, evitando o risco de as atenuar demasiadamente, o que
equivale não raro a esvaziar da própria substância as realidades que são
indicadas por tais imagens”.

Voltaremos
ao assunto. Por ora interessa realçar algo do conteúdo do item 7.

O cristão
espera, para depois da morte, o encontro com Deus face-a-face,… com Deus que
já é conhecido e cuja presença já é desfrutada no decorrer mesmo da presente
peregrinação. Esse encontro será a resposta a todas as aspirações do ser
humano, nada ficando por desejar. Deus, porém, será sempre novo para a
criatura, pois Ele só não é novo para si mesmo; Ele provocará uma feliz
admiração, que não conhecerá sucessão de tempos.

Possa a
consciência destas verdades penetrar mais e mais no íntimo de cada leitor, a fim
de estruturar a sua conduta cotidiana. Seja esta realmente um antegozo da vida
eterna, pois há continuidade entre a vida presente e aquela que nós chamamos a
vida futura!

Sobre Prof. Felipe Aquino

O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.
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