Beatriz Vollmer de Colles
Doutora em filosofia. Foi professora
assistente de filosofia na Gregoriana de Roma e diretora do Departamento
de Filosofia do Seminário Arquidiocesano de Caracas.
[Resumo]
É paradoxal que as premissas nas quais se apoiam as posições assumidas
pelas feministas radicais levem a conclusões que vão contra a
especificidade feminina. Segundo estas feministas, os papéis atribuídos
ao homem e à mulher na sociedade são produto da cultura. Deveríamos
fazer uma revolução cultural cujo objeto fosse a negação da importância
das diferenças genitais. Curiosamente, todavia, com a instauração da
nova cultura, subsistiriam somente as diferenças genitais. Subsistiriam
por força da natureza, mas não teriam nenhuma incidência sobre papéis
assumidos na sociedade pelo homem e pela mulher. Esses papéis,
inventados no curso da história, seriam recusados. Esta recusa é
requisito indispensável de uma cultura nova que exclua o matrimônio, a
maternidade, a família e acolha todos os tipos possíveis e imagináveis
de prática sexual.
Encontramo-nos diante de uma forma contemporânea de dualismo maniqueu. A
ideologia de gênero é o coração da nova gnose, e quem a ela aderisse
não seria obrigado a seguir nenhuma norma de conduta moral. No coração
desta gnose encontra-se a legação de qualquer tipo de nexo entre “a
dimensão transcendental da sexualidade humana” e a dimensão puramente
fisiológica desta sexualidade.
Mediante este divórcio – esta alienação – o homem e a mulher escolhem
seu sexo ou o trocam segundo suas inclinações individuais. Todo os que
não aceitam esta gnose deveriam, evidentemente, ser denunciados como
pertencentes a uma cultura superada e a ser combatida.
A autora oferece uma perspectiva interessante para superar tal dualismo.
Mostra que a identidade sexual tem em si uma dimensão que transcende a
pura genitalidade e se abre a uma perspectiva pessoal, cultural e
espiritual. Assim o gênero não se contrapõe ao sexo, mas é dele uma
dimensão intrínseca e ao mesmo tempo transcendente.
(Direitos sexuais e reprodutivos; Discriminação da mulher e CEDAW;
Gênero [“gender”]; Ideologia de gênero: perigos e alcance; Igualdade de
direitos entre homens e mulheres; Maternidade e feminismo; Patriarcado e
matriarcado).
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Leia o texto integral, entre outros, em Lexicon: termos ambíguos e discutidos sobre família, vida e questões éticas, Pontifício Conselho para a Família, Edições CNBB.