Como viver a Sexualidade – D. Estêvão Bettencourt

Revista: “PERGUNTE E
RESPONDEREMOS”

D. Estevão Bettencourt, osb

Nº 311 – Ano 1988 – p.
171

por Ovídio Zanini

Em síntese: O livro de Frei
Ovídio Zanini é inspirado pela válida intenção de dissipar tabus e
mal-entendidos em relação  à sexualidade.
Todavia, ao traçar o seu projeto de comportamento sexual, o autor parece pairar
longe da realidade; em consequência, sugere atitudes e práticas que, em vez de
libertar de desvios os respectivos leitores, podem causar-lhes mais graves
problemas. O livro é perpassado por um certo humanismo otimista ou por uma
concepção de natureza ordenada e arrumada, como Jean-Jacques Rousseau (+ 1778)
a concebia…, à diferença do que a experiência evidencia e a  doutrina do pecado original ensina.

Por isso tal obra não é
indicada para a formação da juventude contemporânea. Permanece insuperado o
pensamento de João Mohana, expresso em várias obras  deste autor sobre  sexualidade com muita sabedoria e em
consonância com a autêntica doutrina da Igreja.

O livro de Frei Ovídio
Zanini sobre a sexualidade foi publicado, em primeira tiragem (5.000
exemplares) no ano de 1976. Fizeram-se duas outras  edições, de 7.000 e 10.000 exemplares
respectivamente, de modo que já foram impressas 22.000 unidades dessa obra. Em
1987 apareceu nova edição, revista e atualizada¹. O livro em sua primeira
edição já foi comentado brevemente em PR 252/1980, pp. 526. Nas páginas  subseqüentes abordamos a nova configuração de
tão difundido manual de formação da juventude.

As linhas fundamentais do
livro

Pode-se resumir o conteúdo
da obra nos seguintes termos:

O autor distingue
sexualidade, genitalidade e genitalismo.

Sexualidade é a
masculinidade ou a feminilidade que marca todo e             qualquer ser humano, independentemente
do uso do sexo. Toda pessoa  é  sexuada não só em seus órgãos genitais, mas
também  em seu tipo de voz, de cabelo, de
mãos, de andar…, em suas  tendências
afetivas, em suas habilidades profissionais… A sexualidade é algo natural –
físico e psíquico -, que devemos considerar um valor da pessoa humana.

A genitalidade é o uso dos
órgãos genitais em vista da procriação (se a natureza não é estéril por si
mesma) dentro do matrimônio. – Frei Zanini é 
contrário às relações pré-matrimoniais: “A realização de atos genitais,
realizados em casamento, numa atmosfera de sexualidade, de busca de outro e de
oblatividade mútua” (p. 46).

O genitalismo é o uso
neurótico do sexo (p. 26). É uma doença, em geral psíquica (p. 49); a
sexualidade é reduzida ao uso dos órgãos genitais, numa dimensão apenas carnal,
sem compromisso (p. 26).

2. Proposta esta distinção,
o autor procura “desmistificar” a sexualidade e a genitalidade, apresentando
recomendações  que tentam desinibir ao
máximo os jovens:

“Ninguém vai ao Absoluto a
não ser através dos sacramentos, e ao máximo sacramento terrestre de Deus que é
o homem para a mulher e a mulher para o homem” 
(p. 79).

O autor, em nota, observa:
“Esta é uma tese arrojada, mas não temerária”.

“Sexo tornar-se-á para você
o máximo encanto da criação. Você verá muitas vezes Deus face-à-face como
Moisés no monte Sinai” (p. 89).

“Veja a menina que vai
comungar o Cristo na Missa. Vá comungar também com ela. Você tornar-se-á uma só
coisa com ela em Cristo: a mesma carne, o mesmo sangue, a mesma alma, a mesma
Divindade, o mesmo Espírito  Santo. Que
poderá haver de mais nobre e santo?” (p. 87s).¹

“Vá ao cinema com uma menina
e segure suas mãozinhas em suas mãozonas. Perceba a diferença com profunda
emoção. É o eu feminino que  se faz sentir
na palma da mão” (p. 87).

Às pp. 40s, o autor conta a
estória de Barbarella, “exemplo maravilhoso para distinguir entre sexualidade e
genitalidade”. Barbarella e o rei se encontram em aposentos privados; está
disposta a se entregar desnuda ao parceiro, mas este lhe diz  que a chamou apenas “para amá-la, para
possui-la, para enriquecer-se com o seu feminismo pessoal, para ser mais nobre,
mais humano, mais masculino, mais completo”. Diz-lhe explicitamente: “Quero amar-te,
não fecundar-te. Põe tua mão na minha, de leve, como uma avezinha que pousa em
seu ninho. Fixa com ternura e profundidade teu olhar em meu olhar. E sente amor
por mim. Envolve-me com tua feminilidade. Conquista-me e possui-me. E seremos
um só coração e um só espírito. Serei teu e serás minha. O masculino e o
feminino invadirão nosso ser. E teremos o êxtase do homem completo” (p. 41).

Às pp. 82-85 Ovídio Zanini
propõe as “futurições da polaridade sexual” ou prognósticos do correto
comportamento sexual de tempos futuros. Entre estes, encontram-se os seguintes:

“2. A nudez, quando necessária
e útil, será tranqüila e pura…

5. Haverá Congregações
Religiosas católicas mistas, que residirão na mesma casa e trabalharão juntas.
Talvez já existiam…

7. Nas famílias a higiene
corporal ou banho  poderá ser coletivo,
quando questões de horário, água e simples diálogo o exigirem ou
recomendarem…

14. Desaparecerá a
curiosidade sobre o corpo do outro sexo. O corpo será tão bem conhecido e
visto, desde a infância e com tanta naturalidade, que, com a morte do tabu,
morrerá a obsessão genitalista” (pp. 93s).

3. Verdade é que o autor
apresenta também proposições de cautela:

“Perante a sexualidade seja
positivo, mas não ingênuo. Toda prudência é pouca, devido a uma civilização
(sifilização?) genitalista. Enfim, prudência, sim; medo e desconfiança, não!”
(p. 76).

“Assuma o comando efetivo de
todo o seu ser. Faça práticas de penitência pessoal, tanto de ordem corporal
como espiritual. Especialmente de ordem espiritual. Uma pessoa sem comando de
si é escrava de todos e de tudo, até do diabo. Menos de Deus!” (p. 76).

À p. 84 o autor observa: “E,
para terminar, vou dar uma de prudente. Quase de puritano. – Amigo, vá devagar
nesta evolução. Não ponha o carro diante dos bois”.

Em suma, quem lê o livro de
Frei Zanini fica talvez um pouco hesitante: nele se encontram normas válidas,
ao lado de outras afirmações  que parecem
não se coadunar com as anteriores. Daí a pergunta:

Que dizer?

Faremos quatro observações:

Nada de pecaminoso

O autor nada sugere de pecaminoso;
ao contrário, procura desviar os leitores das sendas do pecado, repelindo o
chamado “genitalismo”.

Otimismo utópico

As orientações e diretrizes
contidas no livro são mais teóricas e utópicas do que realistas. Quem quiser
seguir as normas otimistas de abertura ao sexo propostas pelo autor, terá
provavelmente  sérios problemas para
evitar, em vez de se sentir fortalecido contra o pecado. Com efeito; o autor
parece não levar em conta a realidade do pecado original ou da concupiscência
desregrada que existe em todo ser humano; esta, pelos olhares, pelos contatos
de mão ou de corpo, pelas conversas…, é facilmente excitadas e se torna
incendiária, a ponto de obcecar o indivíduo, provocando paixões que levam
violentamente o pecado. Especialmente o exemplo de Barbarella (que o autor
julga factível, à p. 41), pode  tornar-se
uma arapuca para o pecado.

Aliás, não somente a
concupiscência inata  ameaça
constantemente a pessoa…; o ambiente no qual vive  o cidadão de hoje, altamente erotizante,
induz aos desmandos  sexuais (relações
fora do casamento, homossexualismo, masturbação…) aquele que não exerça
sábia  vigilância sobre os seus olhares,
seus contatos físicos, suas conversas suas 
imaginações, etc. O clima da sociedade contemporânea se acha profundamente
marcado pela mentalidade freudiana; esta ensina que o ego está imprensado entre
os instintos ou impulsos naturais (o  Es
ou o Id) e o Super-ego ou a censura da sociedade, que impede os impulsos de se
expandirem; quem atende à censura e se contêm, diz a escola freudiana, corre o
risco de cair em neurose; por isto deve romper as barreiras do Super-ego e dar
largas aos instintos. Pode-se dizer que os meios de comunicação social,
muitas  escolas, muitos  pedagogos, muitos consultórios de
profissionais em Psicologia sugerem eloqüentemente esta teoria; é o que torna
difícil a continência para quem queira dizer um Sim irrestrito à sexualidade,
ao mesmo tempo que pretende  dizer Não ao
genitalismo; este decorre freqüentemente de uma abertura “simplória” ou “inocente”
a todos os anseios da sexualidade.

É por isto que se tornam
utópicos os conselhos de Frei Zanini. Isto não quer dizer que deva haver
“castração” ou mutilação da personalidade, mas requer, sim, permanente atitude
de guarda sobre os sentidos (olhares, ouvidos, memória, fantasia…) a fim de
que o indivíduo não seja arrastado para onde não deseja. São Paulo mesmo,
fazendo eco a filósofos antigos, dizia: “Não faço o bem que quero, mas pratico
o mal  que não quero” (Rm 7, 19). Por
isto o Apóstolo acrescentava: “Corro não ao incerto; é assim que pratico o  pugilato, mas não como quem fere o ar. Trato
duramente o meu corpo e reduzo-o à servidão, a fim de que não aconteça que,
tendo proclamado a mensagem aos outros, venha eu mesmo a ser reprovado” (1Cor
9, 26s).

A experiência, aliás,
evidencia que, sempre que os jovens  (e
adultos) se comportarem ingenuamente  no
tocante aos sentidos, numa atitude de humanismo naturalista, foram cedo ou tarde
derrotados; muitas vocações religiosas e sacerdotais se perderam por causa
dessa “simploriedade”  otimista de
noviços, seminaristas e dos respectivos formadores”.

Educar a vontade

Em vista da necessidade de
se educar a sexualidade, evitando o genitalismo, João Mohana, médico e
sacerdote, tem ótimos livros, entre os quais se destaca “A Vida Sexual dos
Solteiros e Casados”, que em 1984 estava na 23ª edição¹. Seria muito desejável
que nossos jovens e adultos conhecessem tal obra, que nada tem de “eufórico”,
mas  é realista (por isto construtiva e
sadia) no tocante à sexualidade. Especialmente notáveis são as observações de
Mohana no que diz respeito à  educação da
vontade, arte indispensável, que devia ser calorosamente  recomendada e praticada pelos formadores de
jovens:

“Não basta uma perfeita
instrução sexual para termos uma vida sexual perfeita. Não basta uma perfeita
educação sexual. Não basta nem mesmo uma perfeita  cultura 
integral. Sexo não é matemático, não é literatura, não é geografia. Não
é matéria só intelectual. É assunto vital. Não supõe apenas instrução, cultura,
educação. Para a matemática, a literatura, a geografia basta instrução, e os
problemas  matemáticos, geográficos e
literários ficam solucionados. Ao passo que para o sexo não. O instinto exige a
participação da vida do homem, exige vivência pessoal dos músculos e dos ossos
e da alma de cada homem. Por isso é que só 
uma boa bibliografia não basta, por melhor que seja, para um rapaz
garantir o autodesenvolvimento pela castidade. Se nosso esforço permanecer apenas
no plano da inteligência, não  estaremos
ainda livres de um fragoroso fracasso. É preciso atingir a vontade no programa
de equipamento sexual.

Todo homem casado conhece,
por experiência própria, o valor da vontade na vida sexual. Basta que recorde a
noite de núpcias. O autocontrole com que deve governar o instinto para não
traumatizar a esposa. As atitudes durante todo o período de adaptação pessoal.
Os tempos de suspensão do convívio por doença, inapetência feminina, ausências
da esposa, menstruação vetante, etc. Em toda abstenção forçada, a vontade, a
vontade é a heroína. Sem vontade, surgem os conflitos, os desentendimentos, as
infidelidades, as hostilidades até. Com vontade, a própria vida sexual é
comandada, dirigida envolvida naquele cortejo de medidas conscientes
indispensáveis a conseguir  um ato
sexual  satisfatório.

Exercitar a vontade torna-se
assim uma condição sem a  qual é
impossível alguém controlar o próprio instinto. Exercitar a vontade
diariamente, revigorá-la, fortificá-la. Sei que esses exercícios de autodomínio
espantam quem está impregnado de flatulenta mística do conforto material que
estulha  tantos espíritos contemporâneos.
Não há, porém, outro caminho. O  único é
aprender como se treina a vontade, e começar 
desde já a treiná-la não só no terreno sexual. Treiná-la em todos os
setores de nossa atividade, porque nossa vontade é uma só, e, sendo forte para
guardar um segredo, por exemplo, será forte para se provar de um desejo
ilegítimo; sendo forte para dizer “não à insinuação perfumada, será forte para
resistir às decepções do estudo, do trabalho. Estes quatro pontos mostram que o
mecanismo é reversível. Os exercícios de vontade treinam para o controle sexual
e o controle sexual treina a vontade – concorrendo ambos para o êxito na vida.

William James compendiou
quatro regras para treinar a  vontade. A
primeira é: “lançar-se à  tarefa com
todas as forças, inteiro”. A Segunda: “Não permitir exceções, enquanto aquilo
que se quer não estiver seguramente arraigado”. Terceira: “Não deixar fugir a
primeira ocasião de aplicar cada uma das nossas resoluções”. Quarta:  “Conservar viva a faculdade do esforço,
submetendo-a cada dia a um pequeno exercício sem proveito”.

Tendo William James sido
genérico, e como na esfera volitiva não bata dizer “quero” e “não quero”,
mas  é 
imprescindível tomar os meios, darei algumas sugestões concretas,
sugestões que precisamente podem criar vivências aptas ao treino diário da
vontade.

a) Redija, e obedeça, um
horário diário, renovando-o cada semana ou cada mês.

b) Ao acordar, pule da cama
com decisão.

c) Ginástica matinal diária.
Pelo menos dez flexões e extensões abdominais.

d) Banhe-se diariamente logo
depois de acordar.

e) Faça quinze minutos de
leitura séria (pelo menos) todos os 
dias.

f) Conserve na mesa de
trabalho ou de estudo um chocolate ou outro doce de sua preferência, sem tocar.
Coma-o depois de uma semana e substitua-o por outro, a fim de não cair na
rotina.

g) No mesmo ou em outro
local estratégico ponha uma frase que “dê corda” na vontade. Por exemplo, esta:
“AGORA OU NUNCA”.

h) Coma à mesa também pratos
de que não goste.

Ao menos três vezes cada
semana não tome água quando sente  sede.

j) Conserve o pente no
bolso, se quiser, mas  não penteie a cada
passo.

l) Seja pontual na oração da
manhã e da  noite.

m) Estude  ou trabalhe sentando de começo a fim, uma ou
outra vez.

n) Assista a uma das aulas
diárias (nunca mais de uma) ou atenda a um expediente  (não mais de uma hora) sem se recostar  ao espaldar da caldeira.

o) Não correr para o
telefone que toca.

p) Converse amavelmente com
visitas cacetes, mas saiba despedi-las quando preciso.

q) Ao menos uma vez por
semana obedeça seus pais e superiores sem desejar saber o motivo da ordem.

r) Diga  “sim”, de vez 
em quando, a propostas incômodas.

s) Diga “não”, de vez em
quando, mesmo a  propostas boas.

t) Venha  algumas vezes mais cedo para casa, embora a
conversa esteja convidativa.

u) Não olhe aquela vitrina
apetitosa.

v) Sorria, ou pelo menos
converse a serenidade, quando a vontade seria dar um murro ou um pontapé.

O curioso, meu caro, é que
esses exercícios de vontade, tão singelos na aparência, operação em você um
milagre, qualquer que seja sua idade. – Farão você amar melhor” (Vida Sexual
dos Solteiros e Casados, 23ª. Edição, 1984, pp. 158-161).

Ainda merecem atenção as
futurições de Frei Zanini:

As futurições

Às pp. 82-85, o autor
apresenta  futurições ou prognósticos
relativos à vivência da sexualidade. Tem-se a impressão  de que são muito pouco condizentes com o
atual rumo da história. Tenhamos em vista os seguintes tópicos:

 

“11. A prostituição será
considerada obsoleta e até mesma cômica”. Será o non-sense do homem que busca a
mulher e termina encontrando órgãos genitais” 
(p. 84).

Como entender esta previsão
quando se sabe que a prostituição em nossos dias propugna ser oficializada ou
reconhecida como uma profissão ou como uma forma de trabalho? Tal estatuto,
aliás, já lhe é outorgado em alguns países… Estaremos  caminhando para uma sociedade casta e
autocontrolada no concernente ao sexo? – A leitura dos jornais parece sugerir o
contrário. Eis uma notícia transcrita do JORNAL 
DO BRASIL, 30/9/87, Caderno B p

PURO INSTINTO

“O sucesso do Diabo nas
telas do cinema pode ser o sintoma de uma mudança de valores mais profunda. É o
que pensa o professor Namur, ocultista especializado no baralho do Tarot. Para
ele, “este momento tem muito a ver com a decadência da Igreja”.

– O Cristianismo cortou a
ligação de seu poder com a cultura, com a música, o prazer sexual, e a
decadência da Igreja Católica está muito ligada à sua estrutura que impõe uma
regra moral muito rígida – diz Namur. – Neste momento em que as pessoas buscam
valorizar a percepção, seu prazer, sua auto-estima, aproximam-se do Diabo. Ele
é o símbolo disso, da quebra dos limites.

Namur explica que no Tarot o
arcano no 15 (o Diabo) representa “a relação com o instinto, a força
fisiológica”, que procura se realizar custe o que custar, mesmo que provoque a
destruição.

– Aqui  não há uma metodologia, é instinto puro e não
qualificado. E se você não sabe lidar com o Diabo, acaba queimando, pois seu
símbolo é o fogo, a única matéria que sobe em vez de descer. É preciso saber
lidar com o Diabo e seu mistério, através de uma filosofia, um ideal
transcendente”.

Ainda na imprensa colhemos a
seguinte notícia:

“ESTOCOLMO – Um ônibus com
23 mulheres procedentes de várias  partes
da Europa chegou ontem a um remoto lugarejo da Suécia para uma semana de
festividades e sexo. As mulheres chegaram a Pajala, um povoado no meio de uma
floresta no norte do círculo ártico, após uma estafante viagem de 1 mil 300 quilômetros, e
foram recebidas com júbilo por 104 homens solteiros, centenas de aldeães
curiosos e grande número de repórteres e cinegrafistas.

– Viemos dançar e nos
divertir. É muito  excitante – declarou a
uma rádio sueca uma inglesa loura que mora em Amsterdã. –  Eu não tinha nada a fazer e por isso o
convite chegou na hora exata – disse outra jovem, que não hesitou em ir da  Suíça até Estocolmo para viajar no ônibus que
a imprensa sueca apelidou, maliciosamente, de A Streetcar Named Desire (Um
Bonde Chamado Desejo), numa referência à peça de Tennessee Williams.

A falta de mulheres numa
região fria e isolada levou um grupo de suecos a colocar anúncios em vários
jornais da Europa, oferecendo uma viagem de ida e volta de graça, além de
hospedagem, alimentação, danças e divertissements sexuais durante uma semana.

Lars-Olof Snell, um dos
organizadores da semana de luxúria, como a qualificou um jornal de Estocolmo,
se surpreendeu com a grande quantidade de cartas enviadas por jovens austríacas,
alemãs, holandesas, inglesas e de países nórdicos, todas interessadas em
participar do romppaviiko, a tradicional semana de festejos e brincadeiras
amorosas que se segue ao término da colheita.

– Nós certamente colocamos
Pajala no mapa, mas poderíamos tê-lo 
feito mais discretamente – comentou Snell, explicando que muitas
candidatas desistiram depois da maciça publicidade que o anúncio provocou na
imprensa sueca.

A semana do amor promete
abalar a  tranqüilidade do lugarejo de 8
mil 700 habitantes no vale do rio Torne, entre as fronteiras suecas e
finlandesa, onde só se vendem bebidas alcoólicas no único hotel local” (JORNAL
DO BRASIL, 29/9/1987, 1.º cad., p. 9).

Adiante prognóstica Frei Ovídio:

“12. As doenças venéreas diminuirão
até extinguir-se totalmente”.

Esta  previsão não esta na linha do que atualmente
se pode presenciar. Com efeito; a epidemia de AIDS, que tende a se alastrar, é
testemunho de que o uso leviano das funções genitais se impõe cada vez mais,
acarretando graves males físicos e psíquicos para a humanidade. Apesar dos
perigos para a saúde, muitas das pessoas vulneráveis não tencionam mudar de
comportamento, como indicam depoimentos 
publicados no JORNAL DO BRASIL de 1.º/10/87, Caderno Cidade, p. 2:

“Nos encontros entre alunos,
parte da paisagem do pilotis da PUC, o assunto mais discutido é a Aids.

– O medo vem depois da relação
sexual – disse João Paulo Ferraz, 19, 4.º período de Engenharia, que, mesmo sem
conhecer direito a parceira, não se preocupa em utilizar preservativos.

Para Leonardo Morano, 20,
que cursa o 4.º período de Economia, a doença representa apenas menos liberdade
para os jovens, que não podem continuar a ter relações sexuais à vontade. Assim
como João Paulo, Leonardo também não adotou qualquer medida para prevenir a
doença, por considerar os preservativos 
muito chatos”.

As outras  futurições de Frei Zanini se desenvolvem na
linha que diríamos do sonho ou do irreal, podendo iludir muitos leitores
incautos. O mesmo se diga dos “conselhos finais de sexualidade” às pp. 86-92,
entre os quais muitas sugestões pouco prudentes se misturam a outras
merecedoras de consideração.

Conclusão

O livro de Frei Ovídio
Zanini é inspirado pela  válida intenção
de dissipar tabus e mal-entendidos em relação à sexualidade. Todavia, ao traçar
o seu projeto de comportamento sexual, o autor parece pairar longe da
realidade; em conseqüência, sugere atitudes e práticas que, em vez de libertar
de desvios os respectivos leitores, podem causar-lhes mais graves problemas. O
livro é perpassado por um certo humanismo otimista ou por uma concepção de
natureza ordenada e arrumada, como Jean-Jacques Rousseau a concebia…, à
diferença do que a experiência evidencia e a doutrina do pecado original
ensina.

Por isto tal obra não
parece  indicada para a formação da
juventude contemporânea. Permanece insuperado o pensamento de João Mohana,
expresso em várias obras sobre sexualidade, com muita sabedoria e em consonância
com a autêntica doutrina da Igreja.

 ¹ Ovídio Zanini, Como viver
a Sexualidade. – Ed. Loyola, São Paulo, 140 x 210 mm, 101 pp.

¹ São muito estranhas tais
afirmações. Não se pode dizer que a Eucaristia produz os efeitos enunciados
acima; aliás, “torna-se a mesma Divindade, o mesmo Espírito Santo” são expressões
que carecem de lógica; a  Divindade não
se torna…

¹ Editora Globo, R. Sargento
Sílvio Hollenbach 350,21510 Rio (RJ)

Sobre Prof. Felipe Aquino

O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.
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