Como conhecer-nos?

408731_422561097805254_1508616456_nA resposta a essa pergunta já deu origem a muitos livros. Agora só vou apontar três pistas, dentre as sugeridas por Cristo, para que você procure ver a verdade no fundo do coração (Sl 50[51], 8).

a) Primeira: Onde está o teu tesouro, lá também está o teu coração (Mt 6,21)

“Tesouro” é aquilo que mais prezamos, que mais valorizamos. Pode ser uma pessoa querida, ou o nosso sucesso, ou o dinheiro, ou o prazer… O “Coração” – o mundo íntimo dos nossos pensamentos, sonhos, projetos e desejos – está centrado naquilo que mais estimamos e julgamos necessário para a nossa felicidade.

Qual é seu “tesouro”? Qual o “rei” que reina em seu mundo íntimo?

– Para muitas pessoas, o “tesouro” são os três esses: Sucesso, Satisfação, Sossego. Se você se enquadra aí, não duvide: precisa urgentemente começar a lutar contra o egoísmo.

– Para outras, o “tesouro” consiste em “acumular riquezas”, entrar na lista dos “mais”. Não entendem que, se os bens materiais são o seu Tesouro – assim, com maiúscula –, estão a caminho de um suicídio moral, e podem despedir-se da felicidade que Cristo promete: Felizes os pobres em espírito [os que são desprendidos e generosos, ainda que tenham bens], porque deles é o Reino dos céus (Mt 5, 3).

– Para outros é a liberdade. Por enquanto, vou limitar-me a perguntar: Liberdade para quê? Dependendo da resposta, você vai conhecer seu coração. Se é liberdade para “fazer o que eu quero”, você é um lamentável egoísta; se for liberdade para poder dar-se mais a Deus e dedicar-se a grandes ideais em favor dos outros, você tem a virtude da generosidade. Medite.

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b) Segunda: A boca fala daquilo de que o coração está cheio (Lc 6, 45)

– De que fala mais você? De você mesmo? Fala demais e escuta pouco? Não precisa refletir muito: você tem que lutar contra a vaidade. Talvez o despertem estas palavras de Caminho: “Obstinas-te em ser o sal de todos os pratos… e – não te zangues se te falo claramente – tens pouca graça para ser sal… Falta-te espírito de sacrifício. E sobra-te espírito de curiosidade e de exibição” (cf. n. 48).

– Você critica muito os outros? Acha logo defeito em tudo o que dizem ou fazem? Precisa adquirir a virtude da compreensão. E, se curte mágoas e rancores, precisa – mais do que o ar que respira – aprender a virtude da misericórdia.

– Você é boca-suja, que não para de falar de sexo e baixarias: Precisa descobrir e começar a praticar uma virtude que provavelmente ignora e até despreza, a castidade; e precisa também praticar a veracidade, isto é, lutar para não ficar enganando, traindo os compromissos de fidelidade que assumiu.

– Você pensa até dormindo – como se fosse um ingrediente imprescindível da felicidade – em requintes de comida, em bebidas, em prazeres do gosto que não consegue largar? Também é urgente que aprenda como se adquire a virtude da temperança.

c) Terceira: Por que estais tristes? (Lc 24,17)

Essa é a primeira pergunta que Jesus ressuscitado fez aos discípulos e Emaús, quando voltavam para casa desesperançados, depois do “fracasso” e Jesus na Cruz. As alegrias e as tristezas (não falo das que procedem do amor a Deus e aos outros) são excelentes radiografias das doenças do coração.

– Causa-lhe alegria o que á “fácil”. Ou o que é “certo”? Diz, todo feliz: “Consegui driblar um compromisso”? Então, no seu coração há um buraco negro no lugar que deveria ocupar a virtude da responsabilidade.

– Causa-lhe muito mais alegria o que recebe do que aquilo que dá? Há um vazio no lugar da caridade e da abnegação.

– Quando se porta mal, entristecem-no as ofensas feitas a Deus e ao próximo, ou só a humilhação de se ver fraco e ruim? Precisa, então, ganhar as virtudes da humildade e do arrependimento.

– Alegra-o o fracasso dos outros, quando faz brilhar mais o seu sucesso? Não demore a iniciar uma luta séria contra os feios vícios da inveja e da vanglória.

As perguntas poderiam prosseguir, e continuarão em outros capítulos. Mas vou terminar agora com palavras de um sermão de Quaresma de São Bernardo, que inspiraram as perguntas acima: “Examina com cuidado o que é que amas, o que é que temes, de que te alegras, com que te entristeces. Todo o coração consiste nestes quatro afetos” (Sermão no começo do jejum, n. 2, 3).

As virtudes que nos faltam são um cartaz luminoso. Cada uma delas nos lança um apelo: – Veja o caminho que ainda deve percorrer, e comece a andar.

Pense. Reze. Peça luz a Deus e, mais uma vez, procure ver a verdade no fundo do seu coração (Sl 50[51], 8).

Retirado do livro: “A Conquista das Virtudes”. Padre Francisco Faus. Ed. Cléofas e Cultor de Livros.

Sobre Prof. Felipe Aquino

O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.
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