Revista: “PERGUNTE E
RESPONDEREMOS”
D. Estevão Bettencourt, osb
Nº 469 – Ano 2001 – p.
241
(Jr 31,3)
“Com amor eterno eu te amei”…
São estas palavras com que o Senhor Deus se dirige ao seu povo no Antigo
Testamento. São também as palavras com que interpela cada membro do seu povo até
hoje. – Ao ouvi-las, o cristão talvez se sinta assustado; com efeito, o
conceito de eternidade escapa à experiência de todo ser humano, para quem o
temporário e fugaz é, por assim dizer, o normal. Em Deus, porém, nada é fugaz;
tudo é perene e definitivo. Assim também o amor do Pai para conosco: desde todo
sempre (sem passado nem futuro) Ele nos viu como filhos no FILHO e nos quis bem
com amor divino, irreversível, uma vez por todas. Assim na raiz da existência
de cada criatura humana há um ato de benevolência gratuita, que quer comunicar
um tanto de sua vida e bem-aventurança a seres tirados do nada. Esta verdade básica
da mensagem cristã é empalidecida, na mente de muitos, por tribulações e
adversidades que parecem contradizer ao amor divino. Todavia a lógica da fé
certifica o cristão de que Deus não ama menos do que um pai e uma mãe da terra.
Precisamente para avivar a
consciência de tal verdade, o mês de junho é dedicado ao Sagrado Coração de
Jesus. O coração, na Bíblia, é a sede dos afetos mais profundos do ser humano.
Pois bem; o eterno amor de Deus quis pulsar através de um coração humano
assumido no seio de Maria Virgem. Esse coração é o símbolo eloqüente de algo
que nada tem de sentimental, mas é firme e seguro como o Eterno é firme e
seguro.
É de notar que a devoção ao
Sagrado Coração de Jesus, já cultivada na Idade Média por santas místicas,
tomou seu grande incremento no século XVII, quando Jesus apareceu a Santa
Margarida-Maria Alacoque, mostrando-lhe “o Coração que tanto amou os homens”.
Estes dizeres tinham em vista dissipar a mentalidade jansenista que se propagava
entre os cristãos, mentalidade amedrontada pela presença de Deus e tendente a
fazer da religião um motivo de sufocação do homem mais do que de
engrandecimento. A Igreja acolheu a mensagem de Paray-le-Monial transmitida à
santa vidente, e realçou na sua piedade a imagem do Coração de Jesus, que muito
amado, mas pouco tem sido reconhecido pelo amor das criaturas.
Em nossa época de
insegurança e ameaças, faz-se particularmente importante restaurar nos cristãos
(e propagar a todos os homens, peregrinos titubeantes pelas estradas da vida) a
consciência de que este mundo – e, nele, cada indivíduo – é regido não pelo
acaso, mas por um Amor primeiro e irreversível, que tudo sabe dispor para o bem
mesmo daqueles que não o conhecem ou, se o conhecem, não lhe dão a devida atenção.
Afinal saber-se amado (e amado não de maneira fugaz, mas eterna) é o que mais
pode reconfortar o homem atribulado e aparentemente esquecido. – Que Ele, pois,
se faça vivamente presente a todos neste mês de junho!