Catedral, vida e arte

BELO HORIZONTE, sexta-feira, 8 de julho de 2011 (ZENIT.org) – O projeto da Catedral Cristo Rei, apresentado ao público no ginásio do Mineirinho, dia 2 de julho, foi mostrado ao Papa Bento XVI na exposição ‘Esplendor da Verdade, a Beleza da Verdade’, inaugurada dia 4, no átrio da Sala Paulo VI, em Roma, no Vaticano – uma homenagem de sessenta artistas de renome internacional, por ocasião dos sessenta anos de ordenação sacerdotal do Santo Padre, celebrados em 29 de junho deste ano. Entre os artistas escolhidos, Oscar Niemeyer foi convidado pelo presidente do Pontifício Conselho para a Cultura, Cardeal Gianfranco Ravasi, para apresentar sua obra inédita. A vez foi, portanto, para o projeto da Catedral Cristo Rei.

O Papa Bento XVI se interessou muito pelo projeto, fez indagações diversas, com interesse e admiração, além de referir-se a um artista ancião de 103 anos, em atividade, criando, o que por si só é admirável. Sua obra oferece e abre um rico e permanente debate sobre seu alcance, significados e sentido para a fé e para a vida da sociedade. Está criado e aberto à participação de todos um interessante areópago que enseja discussões, debates, reflexões e intercâmbios. E permite hospedar, numa mesma praça, religiosos, artistas de variados campos, crentes, pastoralistas, construtores da sociedade pluralista, governantes, cidadãos – dos mais influentes aos mais simples – a partir do seu ponto de vista, compreensões, interesses e comprometimentos sociais, políticos e religiosos na análise de uma obra artística de arquitetura.

É próprio da obra de arte arrancar das mentes, inteligências e corações, reações, discursos e confrontos. Emoldurados, todos, no horizonte que considera o que conta. É necessário e importante para a vida da sociedade e em favor da dignidade humana na sua inteireza, o compromisso primordial que nesta ágora comum compromete a todos e não dispensa ninguém de responsabilidades cidadãs. É o conjunto de elementos que oportuniza a riqueza e a amplitude da discussão. Desde o desafio de imaginar uma igreja projetada de um lugar artístico e cidadão, longe das práticas religiosas às utilidades e práticas, de modo a não se empenhar esforços por uma obra que não corresponda às demandas que o momento atual, em várias direções, urge como resposta às muitas carências estampadas nos cenários das sociedades contemporâneas.

A contemplação da arte no olhar comum, diferente daquele balizado dos críticos peritos, tem a propriedade e a força de suscitar interpretações, trazendo elementos que configuram compreensões, provocam reações e dão a oportunidade de entendimentos novos, produzindo uma verdadeira viagem que passa por diversos tipos de caminhos e veredas, próprios do lugar e da mundividência .O projeto Catedral Cristo Rei é uma obra de arte que vale a pena entrar neste amplo debate. Evoca e indica mais do que algo inusitado ou referência a este ou àquele campo da vida. Com traços de uma espécie de gótico moderno, indica indubitavelmente a transcendência. Há linhas arquitetônicas que configuram o monumento como convite à contemplação. Há quem, olhando, veja isso ou aquilo, como também se pode ver e testemunhar contrariamente a algo que estivesse fora da religiosidade, da dinâmica cristã de se crer.

As linhas arquitetônicas desenhando mãos postas em oração, sobrepostas ao globo, é tenda; a tenda do Verbo, Jesus Cristo, o Redentor, que ‘habitou entre nós’, e com sua encarnação abriu o caminho novo da humanidade. Ainda pode-se ler nestas linhas arquitetônicas o gesto de condescendência de Deus Filho, o Cristo, que se inclina sobre a condição humana, a ela se assemelhando em tudo, exceto no pecado, devolvendo-lhe a inteireza da dignidade humana na expressão vitoriosa do fim da condição decaída, porque Deus nos amou primeiro e por nós se entregou. É o mesmo caminho para se compreender a localização da cruz de vinte metros à entrada, surgindo de dentro das águas da purificação batismal – referência ao trono do rei que é Cristo, sem triunfos ou presas, mas como servidor que se entrega sem medida na oferta da própria vida para ‘que todos tenham vida e a tenham em abundância’.

A inteligência do artista é uma centelha da sabedoria amorosa de Deus, incontestavelmente, fazendo dele, para além de si mesmo, um instrumento. Sua obra o ultrapassa, na medida em que por ela Deus se comunica, interpela e renova o chamado. O sentido elevado do mistério está no barroco, no moderno, na arte, permitindo a expressão, a experiência, a reflexão e o conhecimento da grandeza do que a fé celebra e exige como vivência. Nesta praça de reflexões é importante continuar para que na liberdade das expressões e dos intercâmbios, em entendimentos, se possa tocar temas essenciais ao agora da vida em construção. Variados temas, como em especial a Catedral Cristo Rei e os pobres.

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Por D. Walmor Oliveira de Azevedo
arcebispo de Belo Horizonte

Sobre Prof. Felipe Aquino

O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.
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