Carta Circular sobre a Quaresma por Pe. Jonas Eduardo (MIC)

Caríssimos internautas católicos,

repasso carta que enviei hoje, a título pessoal, aos Bispos do Brasil.

Autorizo divulgação e reprodução.

   
Exmos. e Revmos.

Núncio Apostólico,

 Srs. Bispos

da Presidência, do Secretariado Geral e dos Regionais da CNBB,

Caros irmãos e irmãs:

PAX ET LUX!

Iniciamos mais uma vez o Tempo da Quaresma, que, segundo o ensinamento oficial da Igreja, é um dos “momentos fortes na prática penitencial”, destinado especialmente “aos exercícios espirituais, às liturgias penitenciais, às peregrinações em sinal de penitência, às privações voluntárias como o jejum e a esmola, à partilha fraterna” (Catecismo da Igreja Católica, 1997, n. 1438).
Tudo isto pretende outrossim favorecer nos fiéis uma viva recordação do próprio Batismo (“lembrança”), conforme nos recordou o Concílio Vaticano II (SC, 1963, n. 109). Em outras palavras, é um retorno ás fontes mais genuínas da nossa fé, no mais autêntico espírito conciliar; desde o século II se constata entre os cristãos o desejo de uma forte preparação para a Páscoa anual, que culminaria no IV século com os quarenta dias que hoje conhecemos (cf. Anámnesis 6, Marietti, 1968, pp. 151-7). Aliás, diga-se de passagem que deveríamos nos empenhar mais em resgatar a centralidade da Missa da Vigília Pascal, como ponto alto da vida de uma comunidade cristã consciente.
Ora, entendemos que a conversão (“metanóia” – mudança de mentalidade, de vontade, de atitudes e atos) deve produzir frutos concretos, também no ãmbito social, coletivo, comunitário. Mas os fatos demonstram que tal processo é lento, nem sempre linear, e que por isso não se pode pretender que resolvamos tudo de uma vez. Desde minha adolescência constato que misturar a temática/finalidade específica da Quaresma com o importante empenho de conscientização-mobilização promovido pela “Campanha da Fraternidade” na Igreja no Brasil – que, sem dúvida alguma, é valioso e premente – é na prática contraproducente, infrutífero, confuso. O maior problema é que tende a desviar a atenção de alguns da necessidade da conversão pessoal – nem sempre tão evidente assim na vida de muitos – para a discussão de temas, sim, relevantes, mas que em outro momento seria mais profícuo. O nosso povo é bombardeado/está saturado de informações, precisamos trabalhar com idéias simples e claras progressivamente, seguindo aliás a pedagogia amorosa de Jesus.
A luz dos 40 dias de empenho pela conversão pessoal (sem a qual não existe mudança de estruturas sociais, como sempre ensinou o bom senso e a tradição/o magistério católicos), unida com a luz de 50 dias de celebração eclesial pascal (que tende a favorecer um crescimento na consciência eclesial – como descrevem os Atos), certamente favoreceria mais um empenho social ao redor de algum tema específico da sociedade brasileira ou do cenário internacional.

PROPONHO, PORTANTO, QUE A PARTIR DE 2013 (50° ano da Sacrosanctum Concilium) A IGREJA NO BRASIL TRANSFIRA A CAMPANHA DA FRATERNIDADE PARA O MÊS APÓS A SOLENIDADE DA SANTÍSSIMA TRINDADE, IMEDIATAMENTE APÓS A MESMA. Nestes tempos em que o Sucessor de Pedro insiste sobre a necessidade de uma “nova evangelização”, dado o esfriamento da fé católica em muitos e o seu abandono crescente, somos convocados a rever as nossas praxes pastorais a fim de não perdermos nenhuma ocasião para formarmos autênticos cristãos, transformados pela Palavra, pelos Sacramentos, pela Graça e pela Misericórdia divinas – e com isso capazes de se tornarem promotores do bem no mundo e na sociedade. Assim sendo, proponho que para o Tempo da Quaresma a CNBB elabore subsídios que favoreçam um autêntico encontro com a misericórdia de Cristo, o Bom Pastor, no estilo de Exercícios Quaresmais, Retiros Populares ou afins, deixando subsídios de reflexão social para o tempo pós-pascal, como indicado.

O Documento de Aparecida nos exorta sobejamente a respeito da formação de verdadeiros cristãos-católicos. Diz, entre outros, que o autêntico discípulo de Jesus Cristo é formado na “Sagrada LIturgia”, que quer promover a “vida nova em Cristo” (n. 250). Ela já possui em si mesma toda a riqueza de luz e graça para que o indivíduo se torne mais semelhante a Cristo, Profeta, Sacerdote e Pastor, resgatando assim a sua dignidade batismal. A dimensão social da Eucaristia não é mais ou menos favorecida com a introdução de temáticas que na prática tendem a empanar aquilo que possui de específico, de transformador, de divino. No centro dos “Mistérios da Fé” não está o homem, ou o social, mas a Trindade/o Filho feito homem!

A transferência da Campanha da Fraternidade para o mês posterior aos Grandes Tempos da Quaresma e da Páscoa (especificamente após a Solenidade da Trindade) permitiria colher mais ainda os frutos sociais da penitência (cf. SC 110). Poder-se-ia até mesmo aumentar o número de coletas nacionais com esta finalidade, pois sem dúvida alguma quem passa da morte à vida, como individuo e comunidade (“páscoa”), quem é lavado na água que purifica e renovado pelo sangue que vivifica (teologia joanina), há de mostrar pelo mundo que sofre (na alma e no corpo) compaixão e condescendência.

Fraternalmente em Cristo Jesus nosso Senhor,

pe. Jonas Eduardo G C Silva, MIC

Vigário paroquial
Santuário da Divina Misericórdia
Curitiba PR
Mestre em Teologia Dogmática

 
Curitiba, 10 de março de 2011.

www.misericordia.org.br

Sobre Prof. Felipe Aquino

O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.
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