Big Brother

Aristóteles  (384 a, C.
– 322 a. C), havia proposto que a felicidade é o bem sempre desejado pelo ser
humano e que a prática das virtudes, capitaneadas pelas virtudes cardiais 
– Prudência, Temperança, Fortaleza e Justiça – ,  é o único meio de
construir uma sociedade onde a felicidade seja possível . E ensinou também que
as virtudes deviam ser a primeira preocupação da sociedade na educação das
crianças. A Tradição cristã-católica, especialmente através de Tomás de Aquino,
assumiu preciosos elementos da ética Aristotélica, percebendo que a proposta de
Aristóteles oferecia uma visão antropológica que ajudava a entender, por via
racional, a revelação cristã como oferta de um caminho de verdade para o desejo
mais profundo do ser humano: ser feliz. Tendo como horizonte de vida as
virtudes cardiais, a tradição cristã procurou sistematizar também a compreensão
do mal moral, propondo que os pecados todos têm como raiz, os chamados vícios(pecados)
capitais: Soberba ( orgulho desejo de poder, vaidade, sucesso…), Inveja,
Cólera (ira, raiva…), Preguiça, Avareza (cobiça…), Gula e Luxúria. Não vejo
nunca o Big Brother, mas ouço sua propaganda e leio as notícias e as opiniões
de muitas pessoas sobre. Depois da suspeita de estupro no BB Brasil, em cena de
sexo regado a cerveja, entrei no Google e li que na Inglaterra, “depois de umas
grades de cerveja e de umas caixas de vinhos, os 14 concorrentes ficaram tão
desinibidos que resolveram promover uma festa pelados na piscina.”

Mais: “Os produtores do Big
Brother não acreditaram quando viram que triângulos amorosos começaram a surgir
em cada quarto da casa, segundo o jornal Daily Star”. Eis aí, prezado(a)
leitor(a),como o que há de pior em nossa sociedade (a droga do álcool e a
luxúria juntos, pecados contra a virtude da temperança)  se torna meio de
ganhar dinheiro (avareza). A Soberba se encarrega de transformar em coisa linda
a degradação do que há de mais nobre no ser humano: o amor.  É o amor que
dá sentido a todas as relações que estabelecemos com os outros. A Soberba, na
reflexão cristã, está presente toda a vez que o ser humano mente para si mesmo,
fazendo soar como verdadeira a negação da verdade. Assume-se o lugar de Deus, o
Supremo Legislador, que nos deu os mandamentos para apontar-nos o caminho que
conduz a pessoa e a sociedade ao verdadeiro bem (a Paz).

Santo Tomás, ao falar dos
pecados capitais, afirma que estes “são sumamente atraentes, tanto que por eles
o ser humano comete muitos outros pecados”. São desvios do grande desejo do
Bem, colocado por Deus nas profundezas do ser humano. Santo Agostinho
experimentou esta verdade até à exaustão: “…mas eu caminhava em meio às
trevas, por um caminho escorregadio, procurando a Ti fora de mim, e não achava,
pois tu és o Deus do coração. E então cheguei ao fundo, desprovido de
esperança, já perdida em mim a fé de ver a verdade face a face” (As
Confissões,Liv. 6).

A Soberba está presente na
luxúria e na gula (a voracidade do prazer da comida, da bebida e do sexo)
quando se promove à dignidade de bem o que vilipendia o ser humano e ofende a
divina sabedoria e o verdadeiro amor. Toda tentativa de justificar o pecado é
violência à verdade e ao testemunho da própria consciência. É assim que a
miséria moral, apelidada de amor, se torna linda, conforme soube que afirmou
Pedro Bial comentando cena recente (estupro?) do BB brasileiro. Ora, uma
afirmação como esta no contexto do BB – “o amor é lindo” – traduz exatamente o esforço
em transformar em beleza o mau gosto e o vazio de valores de uma cultura que
corre atrás do sucesso e do dinheiro fácil. Big Brother é um escárnio – uma
espécie de vômito – contra tudo o que ainda existe de eticamente saudável na
sociedade. É atentado violento ao pudor, colocado na vitrine midiática, ao
alcance de todos. Usa-se a justificativa de que o Big Brother retrata a
sociedade.

Aqui é necessária uma
correção: “retrata o que de pior há em nossa sociedade” para satisfazer a gula
doentia que, estimulada, salta para fora e passa a fazer parte da normalidade
cultural. O(a) leitor(a) que quiser ter uma amostra do que está acontecendo em
nossa sociedade, pesquise no GOOGLE “bebida e sexo entre adolescentes” e
encontrará farto material sobre o assunto.  Assim: “Jovens fazem festa com
sexo e bebida na Quinta da Boa Vista” e, em seguida: “A Dcav (Delegacia da
Criança e Adolescente Vítima) está dando uma olhada em imagens onde aparecem
jovens de uniforme, ou seja, matando aula, consumindo bebidas alcoólicas, além
de casais se ‘embolando’ e camisinhas jogadas pelo gramado do parque”. O BB
estimula esse tipo de comportamento ao conseguir empolgar telespectadores e
envolvê-los nesse jogo sujo. Uma coisa é retratar a realidade doentia na
cultura de modo a produzir rejeição e outra, oposta, é retratá-la travestida de
beleza.***
Dom Eduardo Benes

Arcebispo de Sorocaba (SP)

 

 

Sobre Prof. Felipe Aquino

O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.
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